41 - Wonderwall

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O embrulho que se formava em seu estômago era tão semelhante à ter levado um soco na barriga, que Kirishima se sentia enjoado.

Wonderwall era como um fantasma do passado, uma música que o fazia trazer à tona as lembranças agora quase que borradas de um dos momentos mais conturbado de sua vida. Kirishima se lembrava vagamente de quando tinha seus 6 ou 7 anos, do momento em que adentrou em sua antiga casa e ouviu aquela música tocando. Uma das músicas favoritas de seu pai, ele sabia, seu pai a escutava sempre. Nada tão incomum, até perceber que o aparelho de som estava jogado no chão, parcialmente quebrado, a sala com os poucos móveis revirados e um jarro quebrado, cuja a terra estava esparramada para todos os lados; e no meio de toda aquela bagunça, a sua mãe, sentada no chão cobrindo o rosto enquanto se derramava em lágrimas.

- Ele não vai mais voltar. - foi tudo o que ela disse, repetidas vezes, quando assustado com tudo aquilo que via, Kirishima lhe perguntava sobre onde estava seu pai.

E enquanto aquela mesma música tocava por todo o Dyce Coffe, em um volume baixinho para deixar o ambiente agradável e confortável para os poucos clientes que ocupavam algumas mesa ali; Kirishima se perguntava quando tudo começou a dar errado, ou se sempre fora daquele jeito e ele apenas não era capaz de perceber.

Por um tempo Kirishima se sentiu como se estivesse sendo consumido por perguntas ao qual não tinham respostas, mas na medida em que foi crescendo, apenas começou a não se importar mais, tinha decidido que seu pai havia morrido para sí. E estava tudo bem pensar daquela forma, era mais reconfortante do que saber a verdade. Isso até ele reaparecer em sua vida novamente e de forma tão indireta, o fazendo ter ainda mais perguntas ao qual provavelmente nunca iria ter as respostas; sendo a principal delas, se seu pai ainda estava vivo.

[.. Há muitas coisas que eu
Gostaria de dizer a você, mas eu não sei como..]

- ...shima, Kirishima... você está me ouvindo?

Kirishima piscou os olhos algumas vezes; recuando para trás para se afastar de Mina, que estalava os dedos diante de seu rosto.

- Sim, sim, eu entendi. - respondeu praticamente no automático, sem nem mesmo ter certeza sobre o que Mina estava falando antes.

- Hummm... certo. - murmurou em um tom desconfiado. Mas como se tratava de Mina, um sorriso logo se formou em seu rosto - Preciso ir na dispensa verificar algumas coisas, então se aparecer um cliente, não o assuste! Mostre um sorriso e seja gentil. Qualquer coisa, pode me chamar.

Kirishima inspirou fundo e assentiu em uma afirmativa; tentando ignorar completamente aquela música que ainda tocava nos auto-falantes.

E aproveitando que agora estava sozinho, Kirishima ergueu as mangas da blusa social preta ao qual usava até os cotovelos; indo em direção à pia e jogando um pouco de água na nuca. Talvez o choque da água com o ar frio do ar condicionado o fizesse acordar e parar de pensar em coisas que não deveria.

Tinha que manter o foco no trabalho, mesmo que não fosse algo tão complicado ou difícil. Kirishima só precisava decorar alguns ingredientes que iam nas bebidas e saber embalar os acompanhamentos para viagem, o resto ele aprendia na prática.

- Ei raposa, não vai nos atender não?

Ao ouvir aquilo, Kirishima apenas inclinou a cabeça para o lado; antes de se recompor e encarar o pequeno grupo que havia recém chegado.

Um grupo de quatro garotos lobos, aparentemente não muito mais velhos que sí.

O que havia falado estava no meio e um pouco mais adiante, com o braço apoiado sobre o balcão e mascando um chiclete com a boca aberta, exalando arrogancia e superioridade enquanto encarava Kirishima. Ele tinha o cabelo loiro bagunçado e sua pelagem era de um amarelado mesclado com um cinza escuro, se vestia como um bad boy e seu aroma era misturado ao de cigarro, o que era uma péssima combinação e causava uma irritação no nariz de Kirishima.

The Love We Share - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora