Capítulo 7

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O corpo de Eduardo é violentamente arremessado contra um dos armários, enquanto Nicole tentava conter o ímpeto do irmão, em vão.

Renan estava convicto de que não haveria qualquer interferência externa durante a abordagem a Eduardo. Já tinha se certificado que a região dos armários constituía um ponto cego do sistema de vigilância do colégio, possivelmente para assegurar a privacidade dos alunos.

— Desembucha, xará. Está de conluio com quem? Aposto que isto tem dedo do Astaroth.

Nicole então repousou sua mão no ombro de Renan. O toque suave da moça, aliado ao seu tom sereno, acabaram por tirá-lo, enfim, do surto que o havia acometido após a revelação de Eduardo, minutos antes.

— Precisamos ser proativos aqui, ao invés de atrairmos a atenção exagerada das pessoas. Tenho certeza que Edu tem uma boa explicação a nos dar. Posso te chamar de Edu?

O rapaz franzino hesitou por alguns instantes. Afinal, a reação virulenta de Renan o deixara aturdido. Temia inclusive ter deslocado o ombro no choque com a porta de aço, tal era a dor lancinante. Ao menos, Renan parecia ter cedido à razão após a intervenção da irmã e afrouxara as mãos que há pouco o esganavam, o que permitiu tomar fôlego.

— Pode sim, moça. Não quis ofendê-los. Confesso ter ficado num misto de pavor e curiosidade ao me deparar com duas criaturas como vocês, juntas.

— Como assim, moleque?

— Renan, acalme-se! Deixa o Edu falar.

O garoto olhou momentaneamente para os lados. Assim que teve a certeza de que estava sozinho com os irmãos, disparou.

— Bem, nunca revelei isso para ninguém. Claro, sem contar minha psiquiatra. É que sou médium.

Renan soltou uma risada de desdém. Talvez por um nervoso involuntário que, agora como humano, não conseguia domar. Também poderia ser uma tática para desqualificar a declaração inesperada de Eduardo.

— E o que você enxerga neste instante?

— Nicole! Francamente...

Eduardo decidiu ignorar a atitude beligerante que Renan mantinha.

— Um ser com par de asas magníficas e halo brilhante sobre a cabeça — proferiu o rapaz enquanto observava um estupefato Renan, antes de dirigir o olhar à Nicole. — Por que você tem um dos chifres cortados?

Agora foi a vez de Nicole arregalar os olhos, que resolveu disfarçar o assombro respondendo a Edu de bate-pronto.

— Longa história. Podemos contá-la, se prometer que não irá revelar nosso segredinho.

— Ninguém iria acreditar em mim mesmo.

O semblante resignado que acompanhou aquele comentário de Eduardo desarmou Renan, fazendo-o se dobrar aos planos da irmã.

— Depois da última aula nos encontramos então, para não dar ainda mais bandeira — sentenciou Renan, em um arroubo de bom senso, sendo acompanhado por Nicole e Eduardo, até que o trio se dispersasse mais adiante, cada um partindo para uma sala diferente.

Decorridas algumas horas — onde Nicole, Renan e Edu se evitaram, inclusive durante o intervalo —, a sineta finalmente tocou, anunciando o término das aulas do dia.

Os dois rapazes, que haviam assistido a última aula juntos, se juntaram à Nicole no estacionamento da escola.

— Você topa ir conosco para nossa casa, Edu? — Indagou Nicole de cara.

Entre o Céu, a Terra e o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora