Capítulo 18

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Aslufadas açoitavam as madeixas douradas de Nicole, enquanto elapedalava com vigor em direção ao local combinado com Edu. Orientadapelo aplicativo do aparelho celular afixado no guidão, a garotaponderava sobre as revelações das últimas horas, envolvendo,sobretudo, seu irmão Renan.

Apósalguns minutos de estirão pelas ruas arborizadas de Excelso naqueledomingo modorrento, Nicole finalmente avistara a imagem do colega,amparado junto a uma choupana a qual contrastara com as mansõessuntuosas do entorno.

— Olá,Edu! Cheguei bem na hora.

Narealidade, vinte minutos além do horário marcado. No entanto, vendoNicole saltando esbaforida da bicicleta, Eduardo refreou o impulso dareprimenda.

— Bomdia, Nick. E seu irmão?

— Numafossa só. Tentei animá-lo agora de manhã, mas nada.

— Oque houve com ele?

— Ah,um lance complicado ontem à noite na casa da Jordie. Depois teconto. Não quero estragar nosso passeio. Falando em passeio, quelugar é esse? — Nicole apontava para a construção simplória,embora bem conservada.

— Essaé a cabana do Medeiros, que era um fazendeiro folclórico da região.Morava aqui, antes que a empreiteira comprasse todo esse terreno ondese fundou a cidade.

— Eninguém pensou em derrubar essa construção? Afinal, ela não temnada a ver com o padrão de vida daqui.

— Poisé. Até tentaram ao longo do tempo, mas o acordo com o governo doestado para a construção de Excelso como cidade-modelo previa amanutenção desse espaço, depois da pressão popular dos moradoresdas redondezas à época da desapropriação.

Aolado de Eduardo, Nicole suspirava pela vivacidade que o jovem exalavaem seu depoimento.

— Equal o programa faremos que precisei vir pedalando? — A moçaindagou, enquanto Eduardo pegava sua bicicleta.

— Faremosuma escalada pelo Monte Medeiros até o ponto mais alto da cidade.

— Penseique o ponto alto de Excelso fosse o Ipê Mall...

Eduardosorriu diante da declaração de Nicole:

— Esselocal aonde iremos é bem mais em conta. Chamamos de "Cume". Háuma trilha bem suave até lá.

— Hum...eo que estamos esperando?

Guiadapelo rapaz, Nicole via encantada a paisagem rústica que descortinavaa cada curva pelo caminho, de cachoeiras a ruínas de um antigovilarejo. Tudo embalado pelo canto de diferentes pássaros entre asárvores frondosas.

"Realmente,isso não se parece nem um pouco com a nababesca Excelso", refletiaa moça.

Eduardofoi reduzindo a marcha aos poucos até parar junto a uma clareira namata, acompanhado de perto por Nicole.

— Alimais a frente foi encontrada uma caverna com pinturas rupestres dosantigos moradores da região.

— Eonde eles estão agora? — Indagava Nicole, numa ingenuidade quecomoveu o rapaz.

— Partede seus descendentes foram escravizados. Outros, dizimados. Passavapor aqui uma rota dos bandeirantes, há alguns séculos.

Apósse hidratarem com os isotônicos trazidos por Nicole, o casal retomoua jornada rumo ao topo da colina.

Meiahora foi o tempo necessário para eles chegarem ao destino final daincursão.

— Esselugar é lindo! — Dizia Nicole, perante à visão privilegiada quese descobria ao seu redor.

Entre o Céu, a Terra e o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora