— Aqui seu Bauru, Edu. No capricho.
— Pelo cheiro, parece bom.
Após dar uma leve mordida em um sanduíche, Renan confidenciou:
— É...Não sou tão prendado quanto a Nicole na cozinha, mas até que meus dotes culinários dão pro gasto. Ah, o suco é de caju.
— Ao menos você sabe diferenciar as frutas.
Ante a troça do colega, Renan decidiu ir direto ao ponto:
— E como foi o passeio com minha irmã ontem?
— Ela não comentou nada a respeito contigo?
Renan ficou avaliando Eduardo por alguns instantes. Imaginava que a intenção do rapaz fosse sondar até onde iria o interesse de Nicole por ele. Por prudência, preferiu recuar:
— Nicole revela muito pouco de seus planos.
— Não confia mesmo nela, né?
— Se convivesse mais tempo com um demônio, agiria da mesma forma, Edu.
— Talvez se a enxergasse como eu, pensaria diferente a respeito de Nicole — rebateu Eduardo, corado.
Renan passou a refletir a respeito. De fato, Nicole aparentava estar mudando. Até seu vestuário passou a ficar mais comportado. Por outro lado, seus instintos angelicais o alertavam para o grau de dissimulação inerente à natureza dos demônios.
De toda maneira, o jovem preferiu adotar um tom mais conciliador junto ao colega:
— Nós, seres espirituais, somos capazes de enxergar o sentimento que um humano cultiva em cada ocasião.
Eduardo hesitou por alguns segundos, processando aquela revelação, antes de se manifestar:
— Bem assustador isso, hein? Você está usando este poder agora comigo?
Renan mal disfarçou o sorriso, diante da voz vacilante do amigo.
— Não usamos nossos poderes na forma humana.
— Por que não podem? Ou por que não querem? — replicou um ressabiado Eduardo.
— Podemos, mas não devemos. Código de conduta.
Eduardo calou-se por um tempo, disfarçando seus devaneios com as mordidas vigorosas no sanduíche. Depois de um longo gole no suco, voltou a inquirir o colega:
— Não se sente tentado a empregar seus poderes angelicais, nem mesmo durante a missão de vocês? Facilitaria um bocado saber o que as pessoas estão sentindo, para identificar potenciais suicidas...
— As consequências seriam nefastas. Principalmente para nós.
— Como assim, Renan?
— Essa pode ser a minha derradeira missão. E a da Nicole também.
— Ainda não entendi.
— É que qualquer falha ou transgressão durante esta empreitada, é passível de uma punição severa.
— Que tipo de punição?
— Extinção da nossa consciência.
— Você quer dizer "mortos"?
— De certa maneira.
— Puxa! Sempre quis saber se um anjo seria capaz de voar.
— Para isso existem as asas — brincou Renan, buscando amenizar o rumo tenso que a conversa havia tomado, segundos antes.
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Entre o Céu, a Terra e o Inferno
FantasyApós protagonizarem um incidente astral, o anjo Azael e o demônio Uzá são rebaixados de posto e designados por seus superiores para uma missão de cooperação mútua, para lidarem com o aumento vertiginoso de casos de suicídio entre os humanos. O probl...