"Merda! Aquele sebosinho metido à besta lá de Excelso tinha que futucar onde não foi chamado? Agora ainda corro o risco de perder o emprego..."
As lamúrias de Renée vinham acompanhadas de uma dor lancinante na boca do estômago.
Enquanto rumava a pé para sua casa, a moça já se arrependia de não ter aceitado carona de um colega de trabalho até o pronto-socorro.
"Que vergonha. Vomitei pela lanchonete inteira. Pior foi aquela víbora da Rosângela ainda insinuar que eu estaria grávida. Só se fosse Virgem Maria! Ah, se ela não fosse minha gerente..."
De súbito, um ruído tirava Renée de seus devaneios. Era o toque do celular, que logo tirou do bolso para ler a mensagem que pipocava pela tela.
< Greg: — Oi, Flor! Zangada por algum zangão? >
Dedos vacilantes deslizavam sobre o aparelho, até que finalmente Renée enviou uma resposta:
<Flor: —Nada demais. Por que da pergunta? >
A moça diminuía a passada. Conversar com alguém, mesmo que virtualmente, talvez fosse o que precisava naquele momento.
Mais um toque. Uma nova mensagem.
<Greg: — Preocupado. Ontem você não me deu boa noite. E teve aquela mensagem desencontrada de mais cedo >
"Ótimo! Um sujeito grudento era tudo que me faltava.", praguejava Renée.
<Flor: — Esqueça o que escrevi hoje. Foi em um momento de fraqueza.>
Ainda terminando de enviar a mensagem, a jovem arriscou cortar caminho por uma viela. Apesar do anoitecer, ali havia claridade suficiente para cruzar até o outro lado. Assim estaria praticamente em frente de sua casa.
Renée achava curioso nunca ter feito tal trajeto em quase dois anos residindo naquele local. Culpa do maldito tique que a perseguia desde a tragédia, como um mantra. Um não, dois.
"Primeiro: Sempre seguir por rotas conhecidas. Segundo: Desconfiar de todo estranho que puxasse conversa".
Mal completara o pensamento quando outro som a perturbara mais uma vez. Sacou o aparelho do bolso, já disposta a enquadrar o sujeito inconveniente.
<Greg: — Sabia que você fica linda com essa jaqueta? Realmente assemelha-se a uma pérola. >
Após ler a mensagem, Renée ficou imediatamente de guarda para qualquer investida, enquanto as lembranças da infância enfim se materializavam, vertendo pelo rosto através das lágrimas.
Todavia, as aulas em artes marciais foram incapazes de prepará-la para um ataque soturno em seu flanco direito, justamente o lado onde tinha o raio de visão reduzido, graças à deficiência que herdara do infortúnio do passado.
O corpo da moça tombava quase de imediato ao golpe na nuca.
Na sequência, um vulto aproximou-se dela aos sussurros:
— Aquiete-te, minha criança. Cuidarei de ti a partir de agora.
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Entre o Céu, a Terra e o Inferno
FantasyApós protagonizarem um incidente astral, o anjo Azael e o demônio Uzá são rebaixados de posto e designados por seus superiores para uma missão de cooperação mútua, para lidarem com o aumento vertiginoso de casos de suicídio entre os humanos. O probl...