Capítulo 14

2 0 0
                                    


Ao se deparar com Carla sentada displicente em um banco da praça naquela modorrenta manhã de sábado, Eduardo se aproximou sorrateiro da jovem, até que fosse tarde demais para ela perceber sua investida.


— Peguei! Não acredito que você está lendo este lixo.

— É do lixo fuçado que se encontra o culpado — respondeu Carla, ao estender o braço como exigência de devolução do jornal tomado pelo rapaz.

— Que isso, amiga. Estava só brincando contigo.

— Sei. E quanto aos seus novos amigos?

Eduardo percebeu uma pontada de ciúmes na voz de Carla. Chegou a esboçar alguma reação, mas temeu agravar o mal-estar com a moça e se limitou a devolver o periódico para ela.

— Tudo bem, Edu. Você tem o direito de arrumar outras amizades. Ainda mais se for dentro do seu círculo social.

— Peraí, Carla! Assim você me ofende. Se eu levasse isso em consideração jamais seríamos amigos de infância.

— As pessoas mudam. Além disso, sua mãe só tolerou a amizade com a filha da empregada quando conseguiu arrebanhar a minha para o "rebanho" dela.

— Não sou minha mãe. E isso agora são águas passadas.

— Para você é fácil falar. Branco, rico, magro, hetero...

— Tem razão, Carla. Me desculpe. Agora diz aí.... Qual o caso quente desta vez?

— Assassinato de um rapaz que ameaçava se matar pelas redes sociais.

— Se o seu faro investigativo continua o mesmo, periga esse caso pular daqui a pouco das páginas policiais para a manchete.

— Temo que sim. Ainda mais pela identidade da vítima.

— Quem era?

— Veja por você mesmo — Carla entregou o jornal para Edu, antes de prosseguir. — Mas sugiro se sentar primeiro.

Ao ler o nome do rapaz assassinado, Eduardo contrai os lábios, ante a revelação.

§§§§§§§§§§§

Notando, de relance, a fisionomia sisuda do irmão, Nicole decidiu quebrar o silêncio no carro:

— Não deu uma palavra desde que levantou. Nem quis tomar o café da manhã em casa.

— Bom dia para você também, "Nick" — respondeu Renan, enfiando uma boa fatia de pão na boca.

— Ih, pelo visto acordou o mau humor em pessoa. Que foi? Ainda aquele lance com a Jordie?

— Nenhum "lance". Só a maldita enxaqueca de sempre — limitou-se a responder o rapaz, fitando o vazio na estrada à frente, já se arrependendo de ter compartilhado suas dúvidas e temores com a irmã no dia anterior.

— Hum.... Acho melhor marcarmos um médico para você, maninho. Ou um padre exorcista. O que você preferir.

— Ah, tava demorando essa sua ironia, né?

Nicole não resistiu e disparou um sorriso.

— Foi mal. Força do hábito. Sério agora.... Estou preocupada de verdade com seu estado de saúde. Mesmo que se sinta um garotão, ainda assim é um humano, sujeito a toda sorte de moléstia.

Entre o Céu, a Terra e o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora