Com o saco vazio de pipoca nas mãos, Renan não se conteve e saiu rosnando da sala de TV:
— Cara, duas horas gastas em um filme para colocarem um Delorean funcionando sem gasolina em pleno Velho Oeste, enquanto tinha outra versão do mesmo carro enterrada numa mina, com combustível no tanque. Uma "chupeta" de dez minutos resolvia o problema.
Carla e Eduardo caíram na gargalhada, diante da gafe do colega.
— Que foi? Estou errado?
— Deixa te explicar — Eduardo tentava manter o tom sério para prosseguir — "Chupeta" é quando se tenta ressuscitar a bateria descarregada um carro com a bateria de outro veículo.
— Agora existem outros tipos de "chupeta" também — Carla emendou a fala do amigo, sem segurar um novo riso. Desta vez, mais malicioso.
— Ah, vocês me entenderam — Renan se mostrava impaciente.
— Mas sério agora — Carla esclarecia a questão levantada pelo colega — Esse é um engano muito comum. No começo da história, o doutor relata que estava há quase um ano no Velho Oeste. A gasolina que ficou no tanque de combustível do carro que o transportou para lá, depois de todo esse tempo, já teria se deteriorado.
Com ares de desconfiança, Renan a interpelou:
— Tem certeza disso?
— Absoluta. Procura aí. — A moça apontava para o aparelho do celular do rapaz — "Vida útil da gasolina". Dois a três meses.
— Cara, vocês sabem como estragar a experiência de assistir a um clássico do cinema — Eduardo queixou-se, no momento em que um aroma cítrico invadia o ambiente.
Ao constatar a origem da fragrância exposta na travessa que Nicole havia deixado sobre a mesa, Carla fez um bico de contrariada:
— Torta de limão siciliano...industrializada? Onde estão seus famosos dotes culinários, Nick?
— Não estou com saco para cozinhar. Renan, você faz as honras?
O rapaz assentiu com a cabeça, trazendo pratos e talheres da cozinha, junto com a espátula, a qual utilizou para cortar as fatias e servi-las a todos os presentes.
A pretexto de buscar a bebida, Carla partiu à cozinha na sequência, pedindo ajuda de Eduardo com os copos.
— Você ficará mesmo bem aqui? — Eduardo puxou conversa com a amiga, assim que Renan tinha saída do recinto.
— Claro. Sempre quis ter irmãos. Além do mais, é temporário. Até conseguir acertar minha situação. Até o final do ano completo dezoito anos e toco meu barco sozinha. Mudar de ares.
O rapaz já estava imune aos deboches de Carla. Tinha convicção de que aquilo era uma manobra da amiga para despistar a apreensão que sentia.
— Você sabe que não está sozinha. E a propósito: posso assumir a frente do seu curso pré-vestibular. Se quiser minha ajuda, evidente.
Em retribuição ao carinho e preocupação do amigo, Carla lhe aplicou um beijo terno na face.
— Melhor voltarmos logo para sala. Antes que aqueles dois se engalfinhem.
Buscando disfarçar, Carla disparou aos dois irmãos, assim que acomodou a garrafa de refrigerante na mesa:
— A residência de vocês aqui é da hora, hein?!
— É do minuto e do segundo também — Renan apontou para o relógio pedestal no canto da sala.
A inocência do rapaz comoveu Carla, a ponto de a garota refrear seu impulso de tripudiá-lo.
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Entre o Céu, a Terra e o Inferno
FantasyApós protagonizarem um incidente astral, o anjo Azael e o demônio Uzá são rebaixados de posto e designados por seus superiores para uma missão de cooperação mútua, para lidarem com o aumento vertiginoso de casos de suicídio entre os humanos. O probl...