Renan fingia estar concentrado na aula de redação, quando um objeto atingiu sua carteira, tirando-o do estado de torpor.
Era uma bola de papel, arremessada do fundo da sala.
Ao virar a cabeça institivamente para trás, o jovem se deparou com Jordana, a exibir um sorriso travesso.
Renan retribuiu o gesto com um tímido aceno, logo voltando a atenção para a folha em branco na sua frente.
Já Jordana não conseguia segurar a frustração de ver a mensagem contida naquela bolinha de papel negligenciada pelo rapaz que havia arrebatado seu coração em tão pouco tempo.
"Melhor assim. Talvez a Nicole tenha mesmo razão", refletiu a moça, cabisbaixa, ao se recordar do conselho de sua amiga naquele dia na residência de Saletti, a respeito da excessiva atenção que garotas como ela davam aos rapazes.
Meia hora depois, a campainha tocava, anunciando o término da aula.
Jordana refreou seu impulso de ir ao encontro de Renan, estratégia que pareceu ter surtido efeito, ao notar que ele se aproximava dela.
O olhar pesaroso do adolescente ao abordá-la, no entanto, desfez a ilusão.
— Olá, Bruna. Queria me desculpar contigo a respeito do meu comportamento nos últimos dias. É que tem sido difícil lidar com algumas situações.
— Sem problemas, Renan. Arturo e Hugo devem estar te pressionando, por conta do jogo de amanhã, né?
— Isso mesmo! — respondeu o rapaz, sem notar que havia mordido a isca lançada por Jordana — Eles estão depositando as esperanças em mim nesta final, já que ficamos sem goleiro após a partida anterior. Mais tarde, inclusive, teremos o último treino. Podíamos marcar algo para depois de amanhã, quando tudo isto tiver passado. Sabe...juntos.
— Antes vou dar uma olhada na minha agenda desta semana — esnobou a moça, provocando uma expressão desconcertada em Renan.
Jordana já sabia que ele e a irmã vinham se reunindo com Carla e Eduardo na biblioteca nos últimos dias, pois seguira o grupo em uma destas ocasiões.
Em seu íntimo, ela preferia que a causa da rejeição que vinha sofrendo fosse fruto do interesse romântico de Renan por outra pessoa. Contudo, não era o que seu coração dizia.
O evento da mudança estava bem claro na mente de Jordana. A fatídica noite do jantar que reunira ela, Renan, Nicole e sua mãe. Só a causa ainda pairava em uma espessa neblina de pensamentos turvos.
De vislumbre, os olhos da jovem seguiam a imagem apressada de Renan, até esta se perder pelo corredor que dava para a biblioteca.
Um longo suspiro partiu de dentro de Jordana.
No caminho até o ponto de encontro com os demais jovens investigadores do Sideral, Renan topou com Saletti, que havia saído do banheiro como uma flecha.
— Tudo bem, Sal? — o rapaz indagou a moça, ao notar lágrimas teimosas brotando do rosto dela.
— Claro. Coisas de garota.
Quando Renan ameaçava transmitir palavras de consolo à Saletti, lembrando de seus tempos de anjo da guarda, a jovem lhe disse, em tom de súplica:
— Não conta para sua irmã que me pegou chorando pelo corredor, por favor.
O rapaz limitou-se a assentir com a cabeça, antes de retomar seu trajeto a passos agora vacilantes, enquanto via a silhueta de Saletti sumir de vista.
Minutos depois, Renan aproximava-se da porta de uma das salas de estudo da biblioteca.
O rapaz se deteve quando ameaçava girar a maçaneta e inspirou o ar que parecia lhe faltar naquele instante.
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Entre o Céu, a Terra e o Inferno
FantasyApós protagonizarem um incidente astral, o anjo Azael e o demônio Uzá são rebaixados de posto e designados por seus superiores para uma missão de cooperação mútua, para lidarem com o aumento vertiginoso de casos de suicídio entre os humanos. O probl...