Capítulo 25

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Renan fingia estar concentrado na aula de redação, quando um objeto atingiu sua carteira, tirando-o do estado de torpor. 

Era uma bola de papel, arremessada do fundo da sala.

Ao virar a cabeça institivamente para trás, o jovem se deparou com Jordana, a exibir um sorriso travesso.

Renan retribuiu o gesto com um tímido aceno, logo voltando a atenção para a folha em branco na sua frente.

Já Jordana não conseguia segurar a frustração de ver a mensagem contida naquela bolinha de papel negligenciada pelo rapaz que havia arrebatado seu coração em tão pouco tempo.

"Melhor assim. Talvez a Nicole tenha mesmo razão", refletiu a moça, cabisbaixa, ao se recordar do conselho de sua amiga naquele dia na residência de Saletti, a respeito da excessiva atenção que garotas como ela davam aos rapazes.

Meia hora depois, a campainha tocava, anunciando o término da aula.

Jordana refreou seu impulso de ir ao encontro de Renan, estratégia que pareceu ter surtido efeito, ao notar que ele se aproximava dela.

O olhar pesaroso do adolescente ao abordá-la, no entanto, desfez a ilusão.

— Olá, Bruna. Queria me desculpar contigo a respeito do meu comportamento nos últimos dias. É que tem sido difícil lidar com algumas situações.

— Sem problemas, Renan. Arturo e Hugo devem estar te pressionando, por conta do jogo de amanhã, né?

— Isso mesmo! — respondeu o rapaz, sem notar que havia mordido a isca lançada por Jordana — Eles estão depositando as esperanças em mim nesta final, já que ficamos sem goleiro após a partida anterior. Mais tarde, inclusive, teremos o último treino. Podíamos marcar algo para depois de amanhã, quando tudo isto tiver passado. Sabe...juntos.

— Antes vou dar uma olhada na minha agenda desta semana — esnobou a moça, provocando uma expressão desconcertada em Renan.

Jordana já sabia que ele e a irmã vinham se reunindo com Carla e Eduardo na biblioteca nos últimos dias, pois seguira o grupo em uma destas ocasiões.

Em seu íntimo, ela preferia que a causa da rejeição que vinha sofrendo fosse fruto do interesse romântico de Renan por outra pessoa. Contudo, não era o que seu coração dizia.

O evento da mudança estava bem claro na mente de Jordana. A fatídica noite do jantar que reunira ela, Renan, Nicole e sua mãe. Só a causa ainda pairava em uma espessa neblina de pensamentos turvos.

De vislumbre, os olhos da jovem seguiam a imagem apressada de Renan, até esta se perder pelo corredor que dava para a biblioteca.

Um longo suspiro partiu de dentro de Jordana.

No caminho até o ponto de encontro com os demais jovens investigadores do Sideral, Renan topou com Saletti, que havia saído do banheiro como uma flecha.

— Tudo bem, Sal? — o rapaz indagou a moça, ao notar lágrimas teimosas brotando do rosto dela.

— Claro. Coisas de garota.

Quando Renan ameaçava transmitir palavras de consolo à Saletti, lembrando de seus tempos de anjo da guarda, a jovem lhe disse, em tom de súplica:

— Não conta para sua irmã que me pegou chorando pelo corredor, por favor.

O rapaz limitou-se a assentir com a cabeça, antes de retomar seu trajeto a passos agora vacilantes, enquanto via a silhueta de Saletti sumir de vista.

Minutos depois, Renan aproximava-se da porta de uma das salas de estudo da biblioteca.

O rapaz se deteve quando ameaçava girar a maçaneta e inspirou o ar que parecia lhe faltar naquele instante.

Entre o Céu, a Terra e o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora