Capítulo 23

1 0 0
                                    

— Vocês estão com a cara que não pregaram o olho.

— E era para ser diferente, Edu? Mataram uma menina lá do CAPEV.

O tom irritadiço de Nicole surpreendeu o rapaz, fazendo com que ele desviasse o olhar para o irmão dela. A expressão sisuda de Renan, entretanto, conferia uma atmosfera ainda mais soturna ao local.

Ao menos, a reunião na sala individual de leitura na biblioteca durante aquela manhã de terça permitia maior privacidade ao trio para debater sobre aquele assunto indigesto.

— A Pérola só relembrou o passado dela por minha causa. Esse foi o gatilho para ela mandar aquela mensagem e seguir por outro caminho para casa — lamentava Renan, finalmente se manifestando.

— Não foi você que a matou — Nicole tentou confortar o irmão.

— Eu praticamente a joguei nos braços daquele meliante. Por que não fiquei quieto quando você blefou no Pôquer das Almas"? Nada disso teria acontecido...

Com aquele comentário, era a vez de Nicole ter a culpa remoendo dentro de si.

— Você fez aquilo porque queria salvar uma alma.

— E o que adiantou, ao final de contas? — Renan questionou a irmã com os braços estendidos, sem obter resposta.

Eduardo resolveu quebrar o silêncio que se apossara da sala:

— Fiquei cismado com uma coisa. O nome da vítima divulgado pela imprensa era Renée, mas vocês a chamaram de Pérola agora há pouco.

Nicole mordeu os lábios antes de responder, reticente, àquela indagação:

— Pérola era o nome de batismo de Renée. Ela teve que trocar de identidade depois de ter sobrevivido, ainda criança, à chacina de sua família.

— E eu era o anjo da guarda da menina na época — complementou Renan.

Eduardo começou a ficar inquieto na cadeira, chamando a atenção de Nicole.

— Que foi, Edu? Ficou pálido de repente.

— Bem, tenho uma informação a acrescentar a respeito. — o rapaz coçou a cabeça por um instante — Mas não sei se esta notícia irá melhorar ou piorar o humor de vocês.

— Desembucha logo, fedelho! — exasperou-se Renan.

Sons cavos ressoaram pelo ambiente, até que a porta se abrisse.

— Carla! O que faz aqui?

— Essa é a minha fala. O que você faz com as duas criaturas aí?

Entre o Céu, a Terra e o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora