Ao notar Eduardo contemplando o teto da sala de estudo e Carla bufando do outro lado da mesa, enquanto todos aguardavam a chegada de Renan, Nicole decidiu quebrar o tédio que havia se instaurado e logo abordou sua nova parceira de investigação:
— Soube que você tomou minhas dores com a Cínthia.
— De nada.
Diante da postura taciturna de Carla, Nicole insistiu:
— Enfrentou a garota mais popular para defender alguém que mal conhece.
— Olha, para início de conversa, não me agrada nem um pouco a forma como você se porta. Não sei quais suas reais intenções, mas exibir o corpo apenas no intuito de chocar não opera em nada a favor das causas feministas que nos são tão caras. Caso não saiba, nossa luta para conquistar direitos básicos custou a vida de muitas ao longo dos séculos.
— Por que então fez isso? — Nicole protestou, diante do sermão.
— Simples. Também sou contra as pessoas serem punidas por causa de rótulos idiotas. Por trás desta sua atitude autodestrutiva pode ter alguém clamando por socorro, ao seu modo.
Carla via a súbita mudez de Nicole como sinal de que ela acusara o golpe. Assim, passou a dirigir um tom mais indulgente à garota-demônio:
— Vi você celebrando com seus amigos no Ipê Mall ontem à tarde.
— Sim. Eles também são meus amigos — ressaltou Nicole, incluindo Carla e Eduardo em seu círculo de amizade terreno, antes de arrematar. — Bem, alguns deles.
— Então significa que você me tem, no muito, como uma mera aliada de ocasião. Estou errada?
— Que bullshitada! Aposto que foi a Cínthia que colocou caraminhola na sua cabeça.
— Nem precisa. Só notar pelo timbre de sua voz. De mais a mais, é você que está se aproximando da garota-propaganda.
— Olha, Carla.... Quem disse que todos nós não podemos ser amigos?
— A sociedade, que oprime gente como eu.
— E permitir que sua vida seja ditada por essa tal "sociedade" é a sua melhor resposta?
Naquele instante, a porta se abria, com um vulto logo se enfiando no recinto, para alívio de Eduardo, que já se via em uma situação delicada entre a amiga de infância e a garota que despertava seus desejos incontidos.
— Olá, pessoal. Desculpem o atraso. Fiquei perdido na aula de redação.
— Ora, o retardatário finalmente chegou. Podemos finalmente começar, agora que o menino-anjo está entre nós!
— Por onde? — Eduardo retorquiu a questão levantada por Carla.
— Ora, bolas! Pelo nosso homem, é claro.
Ainda esbaforido com a corrida que fizera há pouco até a biblioteca, Renan franziu o cenho, antes de se manifestar:
— Você se refere à Rasputin?
— E quem mais? — Carla intuía, em tom impaciente.
Eduardo reagiu de lampejo:
— Lembro do Seu Nonô comentar em uma aula de história a respeito de um tal Rasputin. Era uma espécie de bruxo que gozava de prestígio com o último czar russo, mas com fama de satanista entre nobres e populares.
Percebendo os olhares sobre si, Nicole achou por bem externar algo a respeito:
— Que foi? Nunca vi este indivíduo mais morto. Deve ter ido para outro departamento.
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Entre o Céu, a Terra e o Inferno
FantasyApós protagonizarem um incidente astral, o anjo Azael e o demônio Uzá são rebaixados de posto e designados por seus superiores para uma missão de cooperação mútua, para lidarem com o aumento vertiginoso de casos de suicídio entre os humanos. O probl...