Como de praxe, Eduardo chegava esbaforido à recepção da secretaria do Sideral, logo se juntando aos colegas já acomodados no banco amplo que se situava em frente à entrada da sala da diretora Pilares.
Nicole fitava a porta de mogno fechada, em estado de apreensão. Já Renan e Carla segredavam algo, quando Eduardo resolveu se aproximar deles.
— Sempre atrasado, hein?! Não vai me dizer que ficou preso no congestionamento.
— Que nada, Carla. Essa marcação cerrada dos seguranças que foram contratados pelo colégio depois da morte da Sal. Queriam desmontar até minha bike... Pior, só minha mãe. Mas me digam uma coisa: e esse lance da prisão do Rasputin? Ou melhor, Ulisses. Por acaso teve dedo de vocês?
— Fizemos o que tinha que ser feito — Nicole enfim respondeu, também aos sussurros.
Com a curiosidade à flor da pele Eduardo não desistia:
— Incluindo aquele episódio dramático no alto da ponte estaiada?
— Um meio desesperado para atrair a atenção do patife. Agora quero ver o que a gente escreve nos relatórios aos nossos supervisores.
— Shhhh... — Renan interrompeu aquela discussão, enquanto fitava a secretária Camélia em sua mesa, absorta nos afazeres. — Não é o momento nem o local para essa discussão. Deixemos a discussão para outra hora.
Aquele era o aviso para Eduardo mudar o foco da conversa:
— E quanto à reunião do conselho? Alguma novidade?
— Por ora, não.
No exato instante em que Renan respondia ao colega, a porta da sala se abriu. De lá, se retiravam os conselheiros, um a um.
Os quatro jovens logo se levantaram, na expectativa de notícias sobre a decisão tomada, que selaria o destino de Renan e de Carla no Sideral.
Dois homens se aproximaram juntos. Um deles, esbelto, ombros largos, barba bem aparada, cabelos grisalhos nas têmporas e um par de olhos penetrantes que chamaram a atenção de Carla.
Já o outro sujeito era uma figura familiar de Renan e Nicole. A moça resolveu interpelá-lo:
— Olá, Papi! Não irá nos apresentar o amigo bonitão?
A forma humana do arcanjo Cassiel sorriu, enquanto o sujeito que o acompanhava se apresentou, com um beijo no dorso da mão de Nicole:
— Piacere di conoscerti, principessa! Sono il fidanzato di tuo padre.
— Hum, que galante! E ainda por cima me vem com sotaque italiano. Aí, Papi...Arrasando corações, hein?! — A moça deu um tapinha no ombro do constrangido Cássio.
Renan, que dirigia um olhar desconfiado ao suposto namorado de seu pai, não se conteve ao lhe estender a mão como cumprimento:
— Me chamo Renan. E qual sua graça? Azraéssio?
Percebendo o tom irônico do pupilo, Cássio voltou a atenção aos amigos dos pretensos filhos:
— Se me dão licença, vou alugar Renan e Nicole por um instante. Sabem como é...Colocar o papo em dia com as crianças.
Carla e Eduardo acenaram com as cabeças , em sinal de concordância.
Cássio arrastou os dois jovens para um corredor mais recuado, longe da vista dos curiosos.
O outro sujeito, que vinha atrás do trio, foi abordado por Renan no trajeto:
— Vieram posando de casal gay num colégio conservador. Aposto que foi ideia sua.
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Entre o Céu, a Terra e o Inferno
FantasyApós protagonizarem um incidente astral, o anjo Azael e o demônio Uzá são rebaixados de posto e designados por seus superiores para uma missão de cooperação mútua, para lidarem com o aumento vertiginoso de casos de suicídio entre os humanos. O probl...