Capítulo 35

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- Ah, por favor. Sem esse clichê de quase morte ou tipo de coisa. Você-

Terminaria de falar se não tivesse sido engolida pelo corpo maior.

O tremor de alívio chega até mim dentro do abraço, e a moradia que ele trazia - mesmo instável pela tremedeira que tinha - era reconfortante depois de uma longa soneca cansativa. A urgência do aperto demonstrou a dor da falta no tempo que dormi, cujo qual descubro como muito ao adentrar o sentimento melancólico. Como se fosse um cheiro deixado no ar, sinto escrito no vento a frase: Sinto sua falta a dois meses.

O que era genuinamente impactante.

O tempo era uma marca permanente na memória dele, tão fixado que parecia uma tatuagem refeita cada dia que passava desacordada, marcando mais um tracinho na contagem.

Eu estive todo esse tempo inativa?.

Puxa... dois meses.

Lentamente ergui o corpo da cama, tentando ao máximo alcançar a abraçar-lhe a cabeça sem rodar muito o torso, mas ignoro esse aviso do cérebro sentindo a ausência do buraco abaixo dos meus seios. O flashback do sentimento imperturbável veio como uma flecha, mas me restringi a apertá-lo com mais força, ignorando o desfiladeiro de sensações. Desse modo pude sentir o calor das lágrimas molhando minha blusa, a pressão do enlace deixando clara a saudade e desespero dos dias passados. Então me deixo inundar em lágrimas juntamente a ele.

- A-Ah Shoto! Você está chorando! Meu bem, não se preocupe, estou aqui agora!

- Eu te vi no chão, ensanguentada e quase inconsciente, disse que não podia sentir e eu.... Eu... Noble...

Alisei a repartição de cores, mesclando o branco e vermelho com uma mão e depois limpando as lágrimas geladas e quentes das maçãs coradas, domando o desespero com dificuldade. Os segundos em silêncio que acalmei o sentimento caiu como um lençol delicado cobrindo lentamente uma superfície e sorri compreensiva entendendo o que queria dizer, mas estava esquecido dentro da garganta a tempos.

- Eu te amo Noble. Amo mesmo. E acreditei que era tarde demais pra te dizer isso enquanto tinham... tubos! Muitos tubos enfiados no seu tórax e não conseguia sentir você. Realmente acreditei... - o choro embargou a voz rouca me levando a beijar a cicatriz detalhada no olho turmalina.

- Eu te amo muito, Shoto. - Afirmei com compaixão. - Mas se engana pensando que nunca disse. Não precisa de palavras pra me dizer algo Sho, eu... - Suspirei sorridente, o ar enchendo meu pulmão com a primavera refrescante do lado de fora - Eu posso sentir, querido. Só não chore, tudo bem? Eu ainda estou absorvendo seus sentimentos e minha cabeça dói recebendo tantas informações...

- Tudo bem... Me desculpe também.

O pedido de desculpas foi desnecessário, mas relevei o instante pois estava sendo praticamente impossível não chorar com o garoto nos meus braços, recebendo como mensagens telepáticas - um verdeiro bombardeio- toda a angústia acumulada dos dias que estive ausente e as fortes emoções que passou sem que eu pudesse o ajudar. Claro, falaríamos sobre isso quando for oportuno caso ele quisesse. Porém agora, eu só precisava deixar a onda de frieza que permanecia no meu coração se esquentar nele. 

Uma enfermeira apareceu na porta e deu um aceno como se me cumprimentasse, mas partiu sem falar qualquer coisa. Nos minutos que ainda recuperava minha autonomia - pois parecia que minha alma tinha deixado o copo por muito tempo e a dormência permanecia - abraçava Shoto com todo o amor que tinha, até estranhar o paladar curioso enfeitado na minha boca.

- Alguém me deu... amoras? - Pergunto. 

Assistindo o balançar de cabeça do meu namorado descubro com um sorriso leve estampado nos lábios que o azedo adocicado que quase me permitia ver o avermelhado na ponta dos meus dedos veio do sonho qual eu era embalada. 

Eu Posso Sentir, Shoto  ( Todoroki X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora