Capítulo 8

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Para uma melhor experiência, caso queiram óbvio, vou deixar o link da música que eu imaginei  estar tocando quando como eu cito na história. Beijos, comentem ❤️

https://youtu.be/fA4124z9htc

Nunca vou me cansar de descrever a amenidade que aqueles dormitórios exalavam.

Acho que a tarde era minha parte favorita em dias ensolarados, quando os raios de sol escapavam pelas janelas e pintavam o ambiente das cores alaranjadas do fim do dia. Tudo tão quieto e calmo, me deleitava deitada no sofá relaxando no misto de sensações compartilhadas sobre o tempo atual.

Fico sem palavras pra descrever. Belo, deslumbrante, graciosa, poético. Definitivamente afável.

Perdendo o posto somente pra noite, que abraçava a nós, dando o tão importante sono aos aspirantes a heróis.

A casa estava quieta. Essa hora alguns cochilavam ou saiam pra caminhar. Um hábito que eu tinha, mas nesse dia preferi ignorar e observar tudo ao meu redor.

Apenas via onde eu estava, Sero e Shoto.

O último, sentado do outro lado da sala numa poltrona. Não dava muita atenção pro garoto moreno, já que meus pensamentos ultimamente eram todos voltados ao meio ruivo.

Era um bom hábito?

Me questionava o tempo inteiro.

Shoto tinha um livro de caba branca na mão, com um aspecto pouco surrado e amarelado. Deve ser velho mas está bem cuidado.

Escrito em vermelho na capa, mal conseguia indentificar - já que observava pelo canto do olho tentando não chamar sua atenção, o que era bem difícil pois era muito atento - as letras miúdas dizendo " Por além de onde andei ". Na mão esquerda segurava uma xícara de chá.

Que tipo de livro seria?

Fechei os olhos quando o sol tocou meu rosto, sentindo o calor gostoso arder na pele, o cheiro aprazente do café e doce do bolo que crescia no forno inundou meu olfato.

Tinha cheiro de infância.

Respirei fundo, trazendo junto uma paz na mente, o que me fez receber mais informações das pessoas presentes no prédio.

Soube que Jirou tocava guitarra, só pela felicidade que expressava e pulsava no coração. Deixei um sorriso brotar no rosto.

Ochaco falava com alguma amiga no telefone. A felicidade ficava impregnada no quarto e escapava pelas frestas do cômodo.

Sentimentos são muito fortes, são sim.

Não conseguia sentir Izuku. Devia estar treinando afinal. Era só o que fazia. Mas gostava.

E ao meu lado, Shouto.

Oh, ele ainda parecia cansado.

Nos últimos meses que passei aqui - apenas dois - percebi que essa postura desinteressada e infeliz pela vida o acompanhava desde sempre. Contudo, algumas vezes na semana a áurea melancólica dava um pequeno espaço para um alívio refrescante.

Julgo que ele saia para ver alguém que zela muito, sendo esse o único motivo que conheço para que ele deixe a Heights Alliance.

E isso me deixa feliz.

Quer dizer, todo mundo precisa se sentir bem as vezes né? Viver o tempo todo tão frustrado seria um inferno! Me surpreende que ainda seja tão forte.

Ah, quem quero enganar...

- Tudo que eu queria saber, é o que me chama tanto a atenção em você, garoto das cores. - sussurrei para mim mesma. 

Porquê é sim, cheio de cores.

Mesmo que o cinza domine a mente perturbada.

Abri um pouco os olhos, assistindo meu redor agora ainda mais decorado pela peleta flamejante nos poucos minutos que passaram. E ele ainda estava ali, impassível dentro do próprio mundo.

Tudo a minha volta parecia lento.

Parecia mais lento quando ele estava por perto.

Sem lhe olhar - de novo agindo por impulsividade mas quem liga? - A sensibilidade escapava de mim, indo até seu corpo, esgueirando entre os móveis até invadir sua psique.

Peguei de minha mente a sensação que tinha de estar tão confortável, expulsando a tensão e a visão embaçada do que tem a sua frente.

Shoto relaxou, nem precisava ver no momento pra saber que tinha fechado o livro.

Ele me olhava, pacífico, sem dizer uma única palavra.

Apenas me aventurava permitindo que a energia indolor dançasse, correndo de dentro pra fora, eliminando aquela penumbra.

As notas da guitarra que tocava alguns andares acima pareceram intensificar já que podia de fato ouvi-la agora.

Mas estávamos ali.

Ele me encarando e eu fingindo não saber de nada, com os braços atrás da cabeça.

Ouvi um suspiro, então lancei os olhos nele, que por sua vez tinha encostado a cabeça no sofá.

Intenso. Inquebrável.

Ele me dizia muita coisa. Mas nem abrira a boca.

Shoto era alguém com muito a dizer.

Sorri, sem esperar alguma resposta semelhante. Não aconteceu nada de fato, ainda mantinha a carranca. Só parecia menos assombrado pelo passado.

Ficamos assim até que o solo da musica acabasse.

Quando terminou, lentamente - para que não o assustasse - parei de envolver a individualidade nele. Que não demonstrou qualquer incômodo.

Não conseguia mais sentir tanto seus demônios. Ainda estavam lá, só contidos.

Tive a impressão de que se soubesse, me agradeceria pelo ato.

Não sei exatamente quantos minutos ficamos assim, só olhando um pro outro. Não era estranho, afinal.

Só nós reconheciamos.

Não iria prolongar aquilo muito mais, devagar me levantei indo em direção a cozinha, e ele pegou seu livro de volta.

Eu Posso Sentir, Shoto  ( Todoroki X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora