Contar ou não contar?
Contar ou não contar?
Contar ou não contar?
Tudo bem.
Alguém precisa saber.
Essa foi a decisão que encontrei. Esse plano impulsivo e criado com os nervosas a flor da pele, é a válvula de escape que preciso. Estou cansada de guardar todo o mistério da quirk de minha mãe.
Confesso que tremia um pouco por toda a ansiedade que fora do meu controle criava uma energia do mesmo efeito ao meu redor. Ainda pior.
Pra quem falar? Quem seria compreensível o suficiente pra me entender?
Por que era tão difícil me acalmar em horas como essas? Eu deveria ter controle total sobre as emoções mas... De pouquíssimo adiantava quando o assunto eram as minhas.
Sentei na cama, bagunçando os cabelos ao passar a mão repetidamente nele. O quarto escuro parecia solitário, quando a única luz era a vinda no corredor pela frestinha aberta.
Me encolhi no canto, com as costas encostadas na parede, a cabeça pulsando e os braços tampando o rosto, sussurrando uma melodia baixinha cortada pelos soluços que teimavam em escapar.
Apertei meus braços, marcando minha pele com o rastro que se tornava vermelho pela agressividade. Não conseguia medir minha força quando o descontrole me tomava.
A porta rangeu e uma figura baixinha começou a se aproximar de mim.
- Noble, tá tudo bem? Eu passei por aqui e ouvi um barulho...
Reconheci imediatamente a doçura na voz. O perfume de morango que encaixava perfeitamente nas madeixas marrons vindas do shampoo que sempre usava.
Ochaco se sentou na minha cama, não muito próxima tentando não me deixar mais alarmada e apesar disso, na hora eu só conseguia me sentir amuada por a envolver naquele pesadelo descontrolado.
Estava contida, mas faltava tão pouco pra que vazasse...
Minha face estava molhada das lágrimas, e meu cabelo um tanto desgrenhado. Uraraka colocou minha cabeça em seu colo os ajeitando e enrolando as madeixas na ponta dos dedos, deixando minutos passarem e o formato enroladinho moldar minhas mexas pela ação repetitiva.
Aos poucos me senti mais calma.
Veio também o constrangimento, sultimente no momento em que tirei o braço do rosto, todo inchado e avermelhado do choro.
Lamentei minha situação mas ela apenas sorria calma, enviando calmaria pra mim, e percebendo que já tinha passado muito tempo, quis a questionar por não ter feito qualquer pergunta.
- Desculpe. - Falei. Os barulhos do corredor ficando estáveis de novo quando chegavam pela porta. - De verdade.
- Não se preocupe com isso, Nob. Eu tenho certeza que pra te afetar desse jeito, algo bem chato deve ter acontecido. Eu não vou te perguntar nada, só estou fazendo companhia.
Fiquei ali, olhando pro teto pensando no que fazer.
Eu deveria falar com ela. Estava me ajudando sem pedir nada em troca sendo foi tão gentil e transparente. Mas algo me dizia ser melhor não.
Não me leve a mal, Uraraka é uma amiga maravilhosa! Mas eu sinto que sobre minha individualidade, era outro alguém que devia saber.
Confiaria nessa intuição.
- Uraraka, eu agradeço por isso, é muito importante pra mim e mesmo dizendo que não tem problema, eu peço perdão por ter me visto nesse estado.
A garota levantou, batendo um pouco na roupa pra desamassar e me deu um abraço.
- Somos amigas, estou aqui sempre que precisar. Sabe né? - se afastou voltando a andar até a saída - também conto com você.
- Você vai descer?
- Sim, estou com fome - apontou pro estômago que rugiu nos fazendo rir - Puxa, realmente a coisa tá' feia. Tá' com uma carinha melhor, vem comigo? Lava esse rosto e come alguma coisa. Hoje tem a festa do pijama mas eu acho que cê' não anda muito no clima.
- Realmente. - Desviei os olhos com vergonha.
- Eu aviso as meninas, relaxa, tira a noite pra descansar um pouco.
Ela me puxou o braço, trazendo pra perto e andando comigo até a sala. Me esperou passar no banheiro e depois fizemos um lanche, antes de me deixar de novo no quarto. A paciência e o cuidado que ela teve comigo nessa noite seria uma lembrança preciosa pra mim. Eu nunca imaginei que minhas amigas fossem tão incríveis.
Me sentia tremendamente agradecida por tê-las encontrado.
- Você sabe onde estamos. Se precisar de algo, qualquer coisa, qualquer coisa mesmo pode nos chamar. Vai fazer isso, não vai?
- Vou Uraraka! Pode ir não se preocupa. - Assegurei, pela décima vez. - Obrigada.
- Não foi nada. Até amanhã!
Se despediu, agora voltando para o dormitório da Jirou onde acontecia a festinha.
Respirei fundo, reorganizando meus pensamentos. Definitivamente me sentia melhor depois da ajuda que recebi, mas ainda precisava falar com um estudante específico.
Uma pessoa confiável, que entendia bastante e não me julgaria por nada afinal.
Deku.
O nome rodou em minha cabeça.
Precisava falar com ele.
Com passos pesados andei pela ala masculina até chegar ao seu quarto. Dei duas batidas certeiras no meio da porta, esperando que a abrisse. Meio desorientado quando me viu, perguntou imediatamente o que eu queria.
Não dei muitas explicações, arrastando o pobre coitado até estarmos novamente no meu habitat natural, nem liguei pra bagunça.
Ele entrou, olhando pra todos os lados avaliando o lugar. Tinha feito um ótimo trabalho na decoração.
É bom ele ter notado.
- Seu quarto é muito bonito Noble.
- Senta aí. - cortei.
Por conta da noite, o quanto estava escuro, sendo iluminado somente pelas luzes de led coloridas que não eram tão fortes assim para chegar a todos os cantos. Vê-lo sentado em minha cama com cara confuso era chato, tinha sido eu quem o fez sentir assim.
- Vou ser direta Deku. Primeiro, obrigada por ter vindo tão de repente.
- Você me arrastou! - Exclamou parecendo preocupado. - Vai explicar o que aconteceu?
- Eu tenho uma segunda individualidade.
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Eu Posso Sentir, Shoto ( Todoroki X OC )
FanfictionSer uma super-heroina como o pai nunca foi algo que desejou profundamente. Até descobrir o sentimento de esperança que brotava no peito, depois de um incidente em um assalto, cuja reagiu e consequentemente salvou uma senhora. Noble, filha do herói...