Capítulo 15

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Um mês já tinha se passado.

E duas horas, desde que tinha me deitado

Faziam exatas duas horas que eu estava tentando dormir mas não podia, não quando do outro lado do prédio, Denki e Jirou pareciam se divertir muito bem.

Eu tentei, tentei muito não me incomodar com o cenário mas... é muito mais difícil quando dentro de mim, as sensações... Bem, não acho que seja necessário explicar isso.

Fiz tudo que consegui imaginar para me distrair dessa situação, até virar na cama em todas as posições possíveis para aliviar a intensidade da sensação e infelizmente, a tensão que esses dois tinham parecia ter sido acumulado por meses. E tinha sido mesmo! Infelizmente, meu pobre cérebro que sofria as consequências.

Sem mais escapatórias - e pelo bem do resto de minha sanidade mental - decidi sair pra tomar um ar. Ver uma série, testar uma receita nova, qualquer coisa que me fizesse esquecer ou no mínimo abafar o borbulhamento na pele e a temperatura que nunca parava de subir.

Sequei o suor na minha testa, passando pelo corredor escuro tudo parecia piorar e chegando na sala, tive compulsão de minha decisão. Apenas não a repugnei tanto ao ver um Todoroki visivelmente incomodado sentado na cadeira da cozinha com os dedos pressionando as têmporas e um copo cheio de achocolatado barato ao seu lado. Hesitante, comecei a andar em sua direção, tocando seu ombro, tendo seus olhos nos meus. Posso dizer que ele estava meramente irritado, mas a maior parte de sua aflição tinha origem de um pesadelo, feelings sussurrava isso no meu ouvido.

- Todoroki, aconteceu alguma coisa?

Cínica.

O quase ruivo usava o costumeiro casaco azul marinho e tinha os cabelos bagunçados que para sua sorte, o deixava uma graça.

Com "uma graça" eu quero dizer gracioso, não vejam isso como uma cantada porque não é.

Antes de responder, Shoto ajeitou a postura, permitindo que um pouco de seu pescoço ficasse a mostra. Tive uma avidez esquisita por tocar a pele alva, a beleza traiçoeira e pecaminosa que ele tem chega injusta aos olhos, trás a vontade de toca-lo mesmo sabendo que não deveria.

Foi apenas um momento. Um curto momento que me deixou em curto circuito. Mas não o daria o luxo de perceber.

- Acredito que saiba que não tenho dormido muito bem. É comum nos encontrarmos nesse horário por aqui, então não é mistério entre nós.

- Verdade. É comum nos encontramos mais aqui de madrugada do que na escola. - Ele assentiu, sustentando o olhar.

- Geralmente isso não basta pra me fazer levantar, só que hoje Kaminari está...

- Não termine essa frase. - corei da cabeça aos pés, sendo imperceptível pela má iluminação do lugar. - Eu sei exatamente o que está acontecendo, também não consigo ignorar. - Falei rápido, tentando mudar de assunto o quanto antes. Todoroki me lançou um olhar de estranhamento, e se levantou para me acompanhar.

Fomos pra sala, combinando de assistir alguma coisa até que a farra do casal mais eletrizante - sei que falei sobre o fim das piadas, mas elas fazem parte de mim - se desse por terminada.

- Noble, o quarto do Kaminari fica do lado oposto do seu. Como exatamente sabe o que está acontecendo?

- Existem muitas coisas que não precisa saber, Todoroki. - Desviei do jeito mais idiota que consegui.

Durante a escolha do filme, percebi garoto encarar o nada, preso, a deriva nós próprios pensamentos por mais dolorosos que fossem tendo o pai como o próprio pesadelo particular. Tinha pena, queria ajudar e podia.

Sim, eu podia.

Tomei fôlego, catando coragem do chão pra fazer o que pensava. E não tenho certeza se a culpa disso foi pelo calor anormal que meu corpo absorvia do local ou da necessidade de cuidá-lo finalmente me deixando burra.

Era arriscado, um ato gentil que poderia ajudá-lo mas, seria o suficiente? Seria eficiente?

Deitei-me no sofá, deixando as pernas pouco separadas e o peito aberto, fiz um movimento com a mão lhe chamando para perto.

- Vem aqui, tá tudo bem.

- Noble, isso é um pouco indecente...

Eu entendia. Tudo bem, a cultura que tínhamos não costumava nós ensinar a ter um movimento tão íntimo assim porém, quem ditava as regras? O que significava aquele toque? Era carinho, apenas conforto pra alguém que precisa de um abraço.

- Vem aqui, Shoto. Isso não significa nada tão ofensivo, não tem problema se eu estou dizendo. Ta escrito na sua testa que precisa espairecer um pouco.

- Deitando no seu colo?

- Ganhando um pouco de carinho. - minha voz desceu alguns decibéis. A vontade se agitando no coração alheio, imitando o sentimento dentro do meu. - Vem, eu sei que quer.

Ainda meio indeciso , devagar, ele se sentou ao meu lado, encaixando-se nos meus braços e  lentamente apoiando a cabeça em meu busto, com medo de me machucar ao cobrir meu corpo com o seu. Afaguei seus cabelos, sentindo quão macios eram.

Passei as mãos delicadamente por suas costas, alisando os músculos sib as pontas dos meus dedos que pareciam desenhar montanhas, tendo seu olhar penetrante em mim.

Sereno, amável.

Ele carecia disso e eu estava ali para dá-lo.

Abaixou o rosto, me fazendo perder a vista do mar revolto dentro das esferas nubladas.

Não demorou, pude sentir a melancolia brotar ao redor sem freios, nos envolvendo com vontade. Só não tão bem quanto os braços fortes agarrados a minha cintura, mais apertados a cada segundo.

Abracei sua cabeça, fechando os olhos também, impondo minha presença sobre aqueles sentimentos tortuosos e lembranças quebradas.

Tentavam brigar comigo, mas não permito apertando a vista usando toda a coragem pra combater aquela onda paralisante de medo.

Imersos em nossa conexão, ele ergueu a cabeça, me obrigando a procurar seu rosto. O azul e grafite dele misturado no meu marrom, concentrados naquilo.

Éramos só nós.

Presos a nós.

No impulso, dedilhei a cicatriz avermelhada domando seus medos, que se assustam com meu ato repentino, de repente, eu os controlava.

Pra mim, tornou-se irrelevante se ele sabia. Com a força mística que rondava , seria difícil não perceber que eu alterava nossa circunstância.

- Não se prenda quando eu estiver por perto. Eu posso sentir, Shoto.

Às pessoas alheias de nossa realidade, essa era uma simples frase. Algo rotineiro que alguém diria numa tentativa de consolação cafona mas, no momento, significava mais. Eu de fato sentia.

Aproveitei meu deslumbre por tê-lo tão próximo. Agora sim eu entendia toda a apoteose que as meninas dos outro anos faziam sobre Todoroki. As frestas da luz lunar que escapavam pelas janelas iluminavam bem pouco seu rosto junto a claridade azulada da televisão atrás de si. Ele me olhava intensamente parecendo saber do que eu falava.

- Eu sei. - disse simplista.

Depois retornou a deitar a cabeça no meu peito. Fiquei me perguntando se ele realmente sabia do que falava. Entre tantas possibilidades, me faltava certeza do que Shoto acreditava que eu fizesse. Ou se apenas imaginava que tinha uma empatia enorme por si.

Eu Posso Sentir, Shoto  ( Todoroki X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora