Capítulo 18

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Por que eu só conseguia pensar nele?

Por que mesmo vendo meu pai ali tão preocupado, eu só quis que fosse ele ali preocupado comigo?

O que há de errado comigo?

O frio queimava meus lábios com a brisa gélida que passava por mim, batendo nas minhas bochechas tornando vermelhas pela agressividade da temperatura baixa no terraço.

Meu cabelos, agora maiores do que jamais tive em toda a minha vida, voavam para trás enquanto eu olhava o horizonte bem iluminado pela lua gigante, que banhava o céu através de sua graça incensurável.

Tinha as mãos enfiadas dentro do bolso no casaco bufante, imersa nos meus pensamentos constantes sobre toda a situação indizente da paixão inoportuna.

A paixão que eu tinha por Shoto, não era mistério e me fazia imprudente em situações exigentes de uma ação minha. Com sua presença, eu ficava distraída prestando atenção nos seus gestos, e quão gentis eram.

Ah, Shoto...

A última vez que tivemos um contato direto fora na noite que o tive em meus braços. Depois disso, algum cumprimento educado durante as aulas e então Eri perdeu o controle. Acabamos por nos desencontrar constantemente. Senti falta de seu jeito prostrado rodando pelos corredores.

Meu peito subiu e desceu, a tempo de ouvir os passos pesados vindo de trás e então me dei conta de quem era. Sem surpresa alguma, vi a imagem garbosa caminhar ficando paralela a mim, tomando o foco da noite nublada.

Nem mesmo a lua parecia brilhar tanto, quando a luz refletia na tez angelical.

- Parece que meu lugar favorito tem outro dono, agora.

Ri, eu sabia bem o que ele queria afinal.

- Não seja tão cínico. Você tinha conhecimento de onde eu estava.

Todoroki abaixou a cabeça, perdendo a pose séria, permitindo a feição marota se instalar na cara.
Os olhos relaxaram, ficando menos aterrorizantes.

- Me pegou. Eu sabia sim.

Eu, agora cruzando os braços oscilando o peso de uma perna para outra quando ficava rente a ele, observava o garoto que fazia o mesmo pondo os olhos sobre mim.

- E o que te faz vir até aqui?

O vento soprou novamente, mechendo os cabelos avermelhados e exibindo a cicatriz evidente. Todoroki por um momento pareceu desconcertado, e o possível sorriso que viria a se formar sumiu totalmente do semblante calmo quando tapou a metade da face com a mão.

Durante o assobio natural que a ventania causava, Shoto aparentava mais bonito nos meus olhos, indiferente a aquela cicatriz que pra mim, destacava sua existência dentre milhares iguais. Era perfeito.

Abusando de nossa intimidade me encaixei no peito forte, pegando seus braços e pondo em volta do meu corpo, temendo que ele se afastasse pela minha aproximação repentina, mas não aconteceu. Ele ficou, me prendendo em sua comodidade descontrolando a intensidade dos meus sentimentos.

Proliferou dos meus poros aquela paixão incessável, semeando nosso redor com aquela sensação repleta carinho. Vergonhoso, se ele soubesse estaria tremendamente contrariada, mas aproveitava de sua inocência e o apertava cada vez mais.

Seus batimentos cardíacos, semelhantes aos meus, pareciam desengonçados toureando dentro da caixa torácica. Do começo do couro cabeludo ao fim dos meus fios cobreados, sua mão escorria pelo comprimento, tendo o queixo apoiado na minha cabeça.

Já não parecia tão frio.

Já não doía tanto conter os sentimentos desenfreados.

E nos aproveitamos ali, daquele carinho que trocávamos sem arrependimento.

- Você parece um pouco tensa. - Ditou, ainda agarrado a minha cintura.

Sem o quirk dos sentimentos, o garoto seria uma incógnita ambulante, e no momento eu agradecia às estrelas por saber que seu peito não batia forte por impaciência, mas preocupação.

O garoto do coração flamejante, cercado por uma barreira de gelo, tinha encontrado uma razão para permitir que seu próprio fogo quebrasse aquele impedimento.

Eu só queria eu isso não tivesse influencia minha direta.

Todavia, eu andava querendo coisas demais. Tenho o garoto que desejo cuidando do meu caos, o que mais poderia esperar?

- Só penso muito.

- Isso é normal?

- É sim... - Levantei a cabeça, ditando seus olhos. - Apenas fico confusa.

- Você não devia se preocupar tanto. Eu reparo em como está sempre rondando tudo e captando informações. Fico indeciso de como consegue algumas até, contudo se continuar desse jeito vai surtar.

- É. - Sorri, daquele jeito que os olhos quase se fecham e tramei minha travessura contra o pobre cordeirinho. - Mas... Bom saber que repara bastante no que faço.

- Eu sempre reparo.

- Mesmo? - Inclinei mais pra perto, pressando meus seios no seu peitoral apoiando as mãos nos ombros largos - Porque se reparou bem, essa noite eu adoraria cometer uma blasfêmia com você...

Péssimo momento pra ele saber que eu sou uma flertadora barata.

- E que tipo de blasfêmia? - Todoroki por alguma razão, diminuiu mais da distância entre nós, deixando nossos lábios a poucos milímetros.

Certo, acho que sou eu o cordeirinho.

- Ah, Todoroki... Que tipo de blasfêmia você quer cometer comigo?

Eu não pensei em qualquer continuação para aquilo. Sabendo que o rapaz por mais insinuante que estivesse, recuaria ao mais profundo toque.

Ele tinha medo.

Respeitaria sua hesitação, mesmo que não estivesse explícita eu podia sentir e, por isso, ao deixar que o tempo passasse ainda tão próxima dele, me afastei de seus braços indo em direção a escada com um sorriso ladino estampado na boca, sabendo que ele tinha um igual quando o deixei no terraço.

Eu Posso Sentir, Shoto  ( Todoroki X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora