Andávamos os dois até a grande construção tão famosa. A escola para super heróis, também conhecida por ser uma das melhores estava ali, em minha frente esperando que tomasse coragem.
Senti uma mão alisando meu ombro e sorri, afinal ele me conhecia como ninguém e apenas por meu olhar, deveria saber as mil circunstâncias que imaginei dando tudo errado. Era meu pai, afinal.
Shouta Aizawa sempre foi um tanto inexpressivo. As olheiras profundas marcadas na face cansada e a falta de um sorriso eram sua marca registrada além do mal humor natural. Todavia sempre foi um parente muito bom, por mais surpreendente que isso pareça.
Um homem viúvo, que amou muito minha mãe, que o entendia tão bem. E o motivo para isso, alguns acreditavam que era a individualidade da mulher, mas Shouta sempre me prometeu que a compreensão e o coração dela, eram inacreditáveis.
E eu como boa criança jamais duvidei.
Agora estávamos ali, dando mais um passo em nossas vidas nada monótonas, sem saber exatamente o que esperar.
- Noble. - ditou a voz grave. - Sabe que isso não é algo que pode simplesmente jogar pro ar quando se sentir mal. E vai ter meu apoio. Mas como seu professor, não te pouparei de alguns momentos estressantes.
- Eu sei pai. Por isso fiz essa escolha.
- Noble...
- Eu sei que reprova isso mas não conheço ninguém aí dentro. Prefiro manter essa individualidade em segredo até que... Me sinta confortável.
Ele suspirou, sem me olhar nos olhos. Claramente irritado com minha decisão, mas a respeitando mesmo assim.
- Tudo bem. Ande, você ainda tem que se apresentar.
O professor começou a andar, me obrigando a segui-lo, deixando que afogasse nos milhares de pensamento desenfreados cuja o meu controle era abaixo de zero.
A mistura dos quirks no meu sangue era curiosa e confusa. Eu tinha sim a individualidade de Aizawa, mas a de Anne também fazia parte de mim.
Com os olhos, eu apagava a individualidade, até que eu piscasse e então cinco minutos depois, meu oponente a teria de novo. Um avanço que eu recebi, talvez pela mistura de DNA's. Mas minha mente era perturbada. Sentimentos alheios invadiam meu coração, e informações que eu não queria brotavam em minha psique como perfeitos invasores.
A individualidade denominada Feelings.
Ou também conhecida pelo portador como uma perfeita confusão de sentimentos.
Bastava eu olhar para alguém, ou simplesmente estar próxima o suficiente e o que ela sentisse viria para mim. Era quase palpável em alguns momentos. Isso me permitia manipula-los e criar ilusões que somente quem eu quisesse as visse. Poderia ver seus medos, amores e qualquer coisa que desencadeasse sentimentos em um alguém e os utilizar a meu favor.
E eu, a considerava invasiva demais.
Por isso, ninguém saberia sobre ela. Apenas eu, meu velho e os arquivos da escola.
Eu sei que isso deve soar como uma decisão egoísta e ambiciosa portanto veja bem, eu nunca quis que isso acontecesse. Pouco me importa a vida das pessoas! E o simples fato de que eu saiba sobre suas intimidades podem deixá-las desconfortáveis.
Nem notei quando estávamos na porta da sala, com um grande letreiro escrito " 1-A".
Ele tocou a maçaneta da porta e me olhou, como quem perguntava se eu estava pronta. Acenei com a cabeça mesmo não estando e então, todo o barulho que ouvia cessou.
O professor andou em passos largos até a mesa, recebendo um bom dia animado da turma.
Minhas mãos suavam, involuntariamente comecei a estalar os dedos pelo nervosismo.
Pude ouvir alguns murmúrios mas logo foram cortados pela impaciência do homem a frente.
- Escutem, houve uma transferência e nós temos uma nova aluna hoje.
Novamente as falas aleatórias começaram, mas bastou que os cabelos pretos se erguessem para nem uma respiração ser ouvida.
O professor levou a mão a tez, fechando os olhos irritados, vivendo a ressaca diária rotineira.
- Vou chamá-la, se comportem.
"Chamá-la? É uma garota? Será que é gostosa?"
Pude ouvir uma voz baixa dizer e então um estrondo alto. Tive certeza de que alguém foi castigado e por um momento quis rir.
- Entra logo Noble.
Essa era minha deixa. E eu definitivamente não estava pronta. Mas obrigada por mim mesma, andei até estar de frente para todos, querendo morrer de vergonha.
Os olhares focados em mim me atordoavam. Mordi o lábio antes de falar qualquer coisa e olhei pro lado procurando a figura alta que mantinha os braços cruzados sobre o peito esperando minha fala.
- Oi... Meu Nome é Noble e vou estudar aqui. Eu prefiro que chamem de Noble mesmo ok? Não tenham tanta formalidade comigo.
Fiz uma pequena reverência e procurei uma carteira qualquer pra me sentar, encontrando uma no fundo da sala. Dei meu primeiro passo mas senti um puxão na gola da camisa, me impedindo de continuar.
- Antes de se sentar, gostaria de avisar a todos que ela é minha filha, mas isso não vai mudar nada.
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Eu Posso Sentir, Shoto ( Todoroki X OC )
FanfictionSer uma super-heroina como o pai nunca foi algo que desejou profundamente. Até descobrir o sentimento de esperança que brotava no peito, depois de um incidente em um assalto, cuja reagiu e consequentemente salvou uma senhora. Noble, filha do herói...