Capítulo 28

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Isso se chama calmaria antes de tempestade.

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Entramos na sala dos dormitórios rindo da situação inusitada esbarrando os ombros antes de nos separarmos. Quem conhecesse meu namorado entes, jamais o veria rir descontraído, ou empurrando outra pessoa de gozação.

Nossa… Estou mesmo namorando com Shoto Todoroki?

E fui pega na nossa declaração pelo meu pai?

Como chegamos a isso?

Como o garoto que eu amo pode ser tão angelical assim, somente de pé ao lado de uma janela com um riso bonito estampado na faceta entediada?

É a partir de memórias como essa que me sinto sortuda. Logo eu, que jurava ser amaldiçoada por alguma entidade maligna ou coisa do tipo. O que foi feito dentro de nossos corações nos últimos meses - que podem parecer tão curtos pra um alguém mas eu afirmo ser o melhor tipo de eternidade que tive, se isso lhe faz sentido - não pode ser explicado em um parágrafo borrado. Tampouco esquecido.

Afinal seria impossível que depois de conhecer as cores de Shoto, viesse a me sentir cinzenta novamente.

Estava na cozinha preparando qualquer coisa pra comer. Minhas energias tinham se esgotado depois do treino carregado. Mesmo tendo vencido a maior parte das disputas, a exaustão e a dor de cabeça sempre apareciam. Nada que uma boa noite de sono não resolvesse.

Preparei duas xícaras do chá cheiroso que encontrei no fundo do armário. Caminhei até o sofá da sala soprando a fumacinha quente, entregando um dos recipientes ao rapaz que agradeceu rapidamente pelo mimo inesperado.

-Uma das regalias de me ter como namorada. - plantei um beijo nos lábios macios.

-Obrigado… - Agradeceu novamente - Eu gosto quando tem umas reações aleatórias.

- Que? O que quer dizer com reações aleatórias?

- Eu quero dizer que gosto quando coloca a mão no meu peito do nada, quando começa a cantar ou vem me abraçar. Gosto quando é repentino porque me faz sentir amado.

"Mas você é amado! Eu te amo!"

Era isso que eu queria dizer. Pensamento mais franco que tive porém entendia, seu conhecimento do amor vinha das cinzas então eu necessitava de mostrá-lo, de lhe ensinar a dizer o que pensava e por isso ficava imensamente orgulhosa de cada conquista que ele tinha.

Sorri melancólica antes de encostar a testa na dele.

Com o objetivo de trazer o conforto que quase implorava, deixei que aquela energia escorresse de mim, como sempre fazia ao perceber sua inquietação. Porém desta vez, sem qualquer impedimento para minha ação.

Aquele sentimento quase elétrico, afundando no sistema elevando a ansiedade, mostrei o amor, mas sem palavras, como ele fazia ao me dedicar seu olhar mais amoroso e se aliviar por saber que eu o entendia.

Esse era o maior motivo para nós darmos tão bem.

Mas ainda tinha algo errado. Quer dizer, não exatamente errado, mas um ressentimento, talvez culpa ou medo.

Lentamente distanciei nossos rostos ainda segurando cada bochecha com as mãos, procurando dentro do grafite e do turmalina afiados a justificativa pra aquela revolta. E não houve demora, já que o meu bem era alguém expressivo, portanto algumas pessoas não enxergavam.

- Ah, shoto... Posso te ler como se milhares de palavrinhas pequenas brigassem ao teu redor, voando de dentro de ti. - falei ajeitando o colarinho da camiseta branca que usava ao ajeitar o corpo que nem lembrava ter subindo em seu colo - sei exatamente o que você está sentindo.

-Não estou sentindo nada. - indagou, escondendo mais uma vez algo que não estava errado.

Sentir era normal, só precisava entender isso.

- Quanta balela. - levei a xícara aos lábios, a voz transbordando em sarcasmo. - A gente pode esquecer isso se te deixa desconfortável. Só quero que entenda, sabendo que meu redor tudo seja tão explícito e crítico, vou agir como se não soubesse, esse sendo meu segredo mais profundo e perverso, de alguém sem barreiras pra saber tua verdade. Eu posso sentir Shoto, e jamais te julgaria por fazê-lo também.

Todoroki desviou olhar pensando um pouco. Dando a ele este tempo para processar seus próprios pensamentos dentro do mundinho particular, removi a xícara vazia de sua mão colocando ao lado da minha na mesa de centro, voltando a sentar nas pernas malhadas do garoto que tomou uma decisão.

-Eu sei que você sente por tudo e todos. Nunca... pensou que pudesse ter alguém mais bonito? Alguém sem uma cicatriz dessa ou… olhos normais? Eu até consigo dizer que as meninas são bonitas e, alguns garotos também mas... Desse jeito, de beijar e… - as bochechas coraram antes de terminar sua fala - dormir, eu só consigo pensar em você. Só que…

-Eu, Shoto, não. Quer que eu te dê uma lista de tudo que me atrai em você? Porquê você é lindo. Deus, como você é lindo e divino! A cicatriz, a cor dos seus olhos ou cabelo não muda meu sentimento por quem é. As minha olheiras marcadas abaixo dos olhos não são tão delicadas quanto seus traços finos devorando seu rosto, como as sardas quase invisíveis que ficam destintas a suas bochechas. Ou então, eu não tenho a vasta miríade de estrelas e astros brigando dentro dos seus olhos coloridos. Não tenho um corpo moldado e nem dentes certinhos mas eu sei que você me quer. Como eu te quero. Mais ainda.

Levantei do seu colo, levando as xícaras na mão indo em direção a cozinha, olhando pro rapaz que tinha o coração tamborila do no peito.

-Se disser algo assim de novo, vou começar a achar que sou insuficiente pra você. Porquê pra mim, a sua pessoa ultrapassa o perfeito. - Respondi, perdendo-o de vista contudo absorvendo as borboletas em seu estômago.

Eu Posso Sentir, Shoto  ( Todoroki X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora