capítulo 6

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Batucava os dedos em cima do peito enquanto pensava o tempo inteiro. Estava deitada no sofá da sala, sozinha no ambiente bonito enquanto alguns raios de sol adentravam pelas janelas, dando um ar harmonioso e calmante para o dormitório.

Minha mente trabalhava incansável, sem intervalos. Mas a minha vida inteira fui assim, meio ansiosa e inquieta.

Pessoas com quirks mentais tendem a ter cansaço mental pela atividade frequente, acho que isso acabou por influenciar na minha personalidade extrovertida.

Ouvi alguns passos lentos vindo de trás de mim, nem me dei o trabalho de olhar, só percebendo ser o garoto de olhos heterocromáticos quando se sentou no outro sofá, do outro lado da sala de frente pra mim.

Me sentei ágil, agora tendo seu olhar sobre mim.

Sempre tão agastado, me impressionava o humor sombrio todas as manhãs.

- Hum... Todoroki, acho que começamos mal. Não sei se sabe meu nome mas bem...

- Noble. - respondeu rápido e frio.

- I-Isso... Eu queria saber só... Tipo... Será que dá pra gente ser amigo? Desculpa por aquele dia eu só te olhei e sei lá...

Ele bufou parecendo indisposto naquela conversa.

- Certo. Peço desculpas também pela forma grosseira. - disse firme antes de se levantar e sumir atrás de mim.

Sorri boba, tinha conseguido pelo menos superar aquele impasse entre nós e talvez, iniciar uma boa amizade.

Com sorte conseguiria me aproximar.

Mas tenho medo de que, por ter sido tanto tempo submetido a um pensamento acanhado, ache que só me aproximei pelo pai.

Ah, vamos lá, não planejei me aproximar de alguém sem saber nada sobre ela.

Minutos depois, ainda sorridente fui para meu quarto, a tempo de me jogar na cadeira giratória e admirar o por do Sol que as grandes janelas me disponham com tanto prazer e vontade.

Enquanto o ponto laranja fogo descia por entre a cidade, pensava em como fazer Shoto perder sua pose robótica perto de mim, relaxar sua cabeça cheia e quem sabe sorrir um pouco.

Será que ele já tinha sorrido?

Ninguém é tão careta assim...

Apoiei os pés na mesa pequena, reclinando na cadeira me afundando nos meus próprios sentimentos complexos e distintos.

Essa vida de quirk empático era tão difícil...

Eu sentia tanto...

Eu sinto muito...

E me dói o peito da intensidade que me atingem. Queria que todos aqueles nesse prédio soubesse que, enquanto eu estivesse perto poderia domar seus maiores medos. Mas e quanto aos meus?

Acabei por lembrar de Deku.

A determinação que exala é imensa, seus medos e inseguranças vêm pra lhe puxar o pé, no entanto nunca cede a essa força. Um menino esplêndido e de coração exorbitante.

Lembrei também daquele garoto dos cabelos roxos que não pude interagir tanto. Mas a negatividade impregnada em seu passado, me afligia e espanta a coragem de estar ali, mesmo depois de ser chamado de vilão tantas vezes.

Qual seria seu nome? Shinso... Shinsou?

Tenho certeza de que não me culparia por esquecer.

Bufei, botando a mão no coração que toureava dentro de mim. Minha ansisedade querendo escapar das veias, mas se eu permitisse, afetaria todos ao redor.

Passei então a mão que antes repousava em cima do meu ponto pulsante até chegar ao pescoço, trilhando um caminho com a ponta dos dedos tateando a eletricidade quase palpável de meus sentimentos.

Uma onda elétrica se apossando da minha psique assombrosa.

Minha vista tremeu por nervosismo, meus membros dormentes ficavam doloridos pelo treino intenso pedindo arrego pela semana extensa.

- É hora de deitar. - Concluí.

Quem sabe mais tarde eu não encontre meu novo " amigo " no telhado?

Fechei os olhos, isso lá era hora de pensar nele?

Shoto... Shoto...

O que acontece dentro de você?

Aquela tarde bonita se tornou uma noite chuvosa onde acordei ofegante. Minha cabeça começou a latejar e meu coração batia forte de novo. Algo estava acontecendo e, alguém estava muito alterado.

Dos andares de baixo vibrações sentimentais instáveis lutavam com outra ainda mais desgraciosa, me obrigando a levantar ainda meio tonta e atordoada a procura da fonte dessa negatividade.

Cheguei até a cozinha vendo Katsuki e Todoroki se encarando e batendo boca feito animais rancorosos. Melhor falando, Bagukou estava gritando horrores enquanto o meio ruivo fazia uma cara feia.

Ele não parecia alguém que se tirava do sério tão facilmente, era estranho que o loiro esquentadinho conseguisse afinal, então o assunto realmente fora chocante.

- Sua mãe é tão ruim assim!? Heh!? - gritou exaltado para Todoroki.

- Não te interessa Katsuki.

Se aproximaram, tensos em posição perfeita para um briga.

- Ela fez por diversão essa marca feiosa no seu rosto meio-frio?!

Um passo mais dado por parte de Bagukou, os alunos ao redor sem saber o que fazer cochichavam e tanta radiação ao meu redor me desordenava.

- Fala Todoroki!

Se criava dentro de mim toda a energia da tensão presente na sala, fluindo por todo meu sistema queimando de modo vagoroso.

O meio ruivo tencionou, fechando as mãos esbranquiçando os nós pela força posta.

- FALA TODOROKI!

- SE ACALMEM OS DOIS!

Gritei e meu poder escorregou das minhas mãos indo ligeiramente até o chão, expandido por todo o cômodo acertando quem estava por perto, consumindo como energia invisível.

Todos pararam, assustados e afetados olhando pra mim que tinha o peito estufado. Respirei fundo e esse foi o único som do lugar até que se libertassem do súbito tremor que abalou seus sentidos.

Fechei os olhos, ainda me recuperando da ação e olhei para os fanfarrões que agora estavam estáticos.

- Deixem de ser tão insensatos e vão dormir. Está tarde.

Olhei mais uma vez para todos e me recolhi para meu quarto, cansada das emoções anormais desse lugar. Me deitei novamente, exausta antes de dormir.

Eu Posso Sentir, Shoto  ( Todoroki X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora