Capítulo 10

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A aula nem tinha começado direito e eu já me amaldiçoava pela escolha ridícula de ser heroína.

Sete da manhã, correndo pelo ginásio como loucos, eu repassava em minha mente o momento que decidi fazer isso, e essa era apenas minha centésima volta, ainda faltavam algumas dezenas dolorosas a minha frente.

Mas nada que vem fácil vale tanto a pena.

O uniforme pelo menos não me impossibilitava os movimentos, algo esperado para uma academia de treinamento mas ainda assim, com o azar que sei que tenho, as coisas sempre poderiam ficar mais complicadas.

Não foi uma surpresa quando alguns alunos tentaram nós atacar durante a corrida, meu fôlego já tinha pego suas malas me deixando pra trás. De qualquer forma, não eram ataques reais, certo?

Bom, não parecia quando era Katsuki quem comandava as investidas impiedosamente, fazia todo o sentido que ele estivesse se divertiindo com aquilo, principalmente nas oportunidades abertas para acertar Izuku, que sendo muito ágil desviava de todas com classe.

Um verdadeiro espetáculo proporciado caso eu estivesse na platéia. Infelizmente eu estava em campo e faltando centímetro para que fosse pega pelos ácidos da Ashido.

O apito interviu todas as atividades e me joguei no chão, ao lado de Kirishima e Shinsou que também sofreram durante o trabalho árduo.

Não tivemos nem cinco minutos de descanso para o apito doar novamente, obrigando todos a entrarem em formação.

Haja dedicação porque paciência, olha...

Depois da breve explicação fui designada a pegar os materiais utilizados na aula. Me abaixei, juntando alguns equipamentos pedidos para a aula passada hoje, mas me assustei com um baque surdo. Obviamente procurei a fonte do som, e fiquei até um pouco surpresa ao olhar pra trás vendo Shoto passar a mão na nuca com dor. Sem entender nada avistei Aizawa que tinha fogo nos olhos.

- Ela ainda é minha filha. Não faça isso na minha frente, nem com ela nem com ninguém. - Logo ele voltou a repassar o treinamento do dia.

Olhei para ele, buscando uma explicação do ocorrido mas apenas balançou a cabeça, se virando em direção a seu posto. Fiquei confusa, mas relevei e também corri até minha posição.

Basicamente eu, Shoto, Tokoyami, Mineta e Uraraka deveríamos evitar a passagem do resto dos alunos, utilizando todo o material que nos foi dado. No caso, alguns estilhaços espalhados pelo chão e minhas faixas que serviriam muito bem.

Ergueram-se do chão quatro pilares formando um quadrado e os alunos restantes deveriam passar por dentro dele e chegar ao outro lado. Dito isso, nocaute ou isolamento seria considerado vitória nossa. Eu estava em cima de um pilar junto a Minera, já nos outros três tinham responsabilidade total por suas pontas.

Quando o apito gritou novamente, a onda de adolescentes começou a correr simultaneamente, com algum ou outro tentando passar mais despercebido. A primeira coisa que fiz foi desativar a individualidade de Izuku, que seria o mais rápido a sair dali, e depois com as faixas, fui puxado quem ficava pelo canto para fora da arena criada, como cipós puxando pelos braços e pernas, jogando para longe.

Estava tudo dando certo até uma explosão desestabilizar meu pilar o fazendo tremer inteiro. Minera se agarrou em mim, melhor, nos meus peitos gritando e chorando que não queria morrer. Desejei enfiá-lo no centro da terra mas eu ainda tinha a tarefa de me manter de pé e evitar que alguns fugitivos escapassem.

Quando o concreto se quebrou, tive que pular até uma rocha flutuante que Ochaco disponibilizou, agradeci com um aceno de cabeça tentando reencontrar meu ponto de ataque, mas o corpo grudado ao meu me desequilibra, e a mão boba infeliz desse garoto me irritava como nunca.

Se eu chutasse a uva desgracada até ficar da cor do cabelo, perderia ponto pela agressividade e eu não estava ali pra isso. Parei para pensar um pouco no que fazer, durante a batalha, com o garoto preso e ainda puxando pessoa para o alto, só tinha escolha se acabar assustando para que me soltasse.

Olhei no fundo dos olhos procurando qualquer lembrança assustadora que tivesse para usar a meu favor. Pra minha surpresa, e para meu alívio - gostaria de deixar claro que nunca gostei tanto de ter uma individualidade psíquica quanto agora - ele tinha medo de palhaços.

Exigindo muita concentração minha em meio a todo aquele caos, mexi nas emoções conturbadas e em sua cabeça, tomei a forma de um palhaço medonho gritando na sua cara.

- ME SOLTA! - disse lutando contra a língua enorme de Tsuyu. Nesse momento já estávamos quase no chão, então me faltou pena de o chutar pra longe assim que senti afrouxar as mãos.

Me vi livre do peso extra, começando a puxar pelas costas algumas pessoas que chegavam próximos a saída, vendo uma ou outra sendo suspensas por Dark Shadow, também quase esmagadas pelos escombros voadores.

Na linha de frente, Shoto utilizava seu gelo na defesa prendendo os azarados atrevidos a bater de frente com a barreira maciça e gélida.

Vendo que não tinha mais ninguém atrás, corri até ficar ao seu lado, ajudando a prender qualquer engraçadinho tentando desviar.

Não restavam muito, na parte de cima estava Ochaco e Tokoyami dando a cobertura necessária para nós que batalhavamos embaixo.

Em determinado momento, passei a subir pelos destroços no segundo pilar destruído, tentando encontrar um desavisado com uma visão mais ampla.

Mas, bem eu já disse do meu problema com a sorte, certo? Sem que percebesse, na minha canela se enrolou uma fita, por deslize dei atenção total a ela o que resultou em um choque estonteantemente eletrizante - certo vou parar com as piadas por aqui - que travou meus músculos. Eu estava consciente, mas estava caindo de uma altura consideravelmente alta.

Isso deu brecha para Sero e Kaminari passarem por mim, eu estava numa encrenca feia quando encontrasse o chão.

Por sorte - ou não pois como disse anteriormente, a ela nunca esteve ao meu favor - eu vi o gelo se alastrar ao meu redor e depois, o calor dos braços fortes de alguém me circundado a cintura.

Fiquei imóvel vendo a faceta atônita coberta pela cicatriz avermelhada bem desenhada ao redor do olho turmalina. Quis trocá-la, mas não conseguia pois estava atrofiada pela descarga elétrica.

De longe ouvi gritos eufóricos dos alunos que conseguiram passar, contudo como poderia me concentrar naquilo quando estava tão próxima de Shoto desse jeito? Ainda mais quando ele tinha as bochechas pouco coradas. Qualquer um diria que isso, era culpa do esforço feito no treinamento. Mas eu sabia, junto a energia depositada por Denki, corria dentro de mim o constrangimento do garoto que tinha as mãos bem presas ao meu redor

Dessa vez, não fiquei incomodada com o toque.


Eu Posso Sentir, Shoto  ( Todoroki X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora