Capítulo 19

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Uma carta.

Apenas uma carta que esclareceria tudo e removeria esse peso enorme dos meus ombros. Era madrugada de novo, todos já devem ter notado que esse é meu horário de funcionamento normal então, não é surpresa que só me vejam andando por aí na madrugada, seja falando sozinha - coisa super comum pra mim que tenho mil e uma ideias idiotas na cabeça além de uma peculiaridade de absorção intensa - ou comendo algo sentada no balcão da cozinha, provavelmente olhando a janela.

A diferença, era que essa madrugada eu estava enfurnada no quarto, escrevendo, apagando e escrevendo de novo uma carta pra minha estúpida paixão.

Ela não poderia ser grande, mas tinha quer ser perfeita, tocante e explícita.

Todoroki é incrivelmente lerdo as vezes, então eu preciso destacar essa parte do explícito.

O grande problema era que as palavras me fogem pra descrever meus sentimentos, sendo eles tão… extensos.

Essa tinha sido minha decisão pra acabar de uma vez com essa tensão entre eu e o rapaz bonito. Escrever uma carta, contando a ele sobre não só esse sentimento ardente, mas também sobre minha individualidade secreta e como ela me afeta. Com sorte, Shoto seria compreensivo.

Não sei se ele seria tão bondoso quanto Izuku havia sido, o único que sabe verdadeiramente os motivos pra que eu me afaste de repente quando algo muito animador acontece, ou até alarmante.

Nós dois - eu e Midoryia - estávamos evidentemente mais próximos. As meninas até questionaram nosso relacionamento mas cortei as suspeitas de algum envolvimento amoroso.

Não existia um, claro.

Uraraka estava obviamente mais calma. Depois de proferir tais palavras, o aperto constante quase sumiu de dentro da menina.

Por isso, quando eu estou quase surtando, eu mando uma simples mensagem para o garoto sardento - involuntariamente meio grosseira pelo nervosismo mas ele entende que não estou muito controlável. É o acabo de fazer, tendo em mente que se continuar tentando escrever nem que seja mais uma frase, esse prédio inteiro vai acordar numa ansiedade tremenda.

" Deku, eu juro pelo santo caralho que vou surtar "

" Noble, olha a boca! Prefere que eu vá aí?"

" Deixa que eu vou aí. As meninas já acham que a gente tem um romance tipo Romeu e Julieta só que ainda pior, então é melhor que nem te vejam no meu quarto."

" Hahaha, ok. Estou esperando."

" Tá"

Desliguei a tela do aparelho, largando o lápis de ponta enfeitada na mesa, levantando com tanto desânimo que quase tropeço nos meus próprios pés. Xinguei o móvel ao acertar o dedo ali e fui rumando até o quarto temático do All Migth em que Izuku vivia.

Ao encontrar a porta já aberta, nem avisei ter chegado, só resmungando o apelido do garoto e me jogando na cama, vendo-o sentado na cadeira da escrivaninha com o sorriso idiota.

-Deku. - falei com a voz arrastada.

-Nossa Nob. Desse jeito fico mais assustado com você falando assim do que se fosse o Kachan falando.

-Não exagera. Aquele projeto de pessoa é realmente assustador…

Meti a cara no meio dos travesseiros, aliviando o peso nos meus ombros, permitindo um pouco da individualidade ser liberada de mim, sem me importar com a presença do garoto.

- Você tá' mesmo estressada.

-Uhum.

-E o plano da carta?

-Ah cara… não é tão fácil quanto parece.

-Nunca disse que era - Deku veio e se sentou na beirada da cama, parecendo meio cambaleante em efeito a peculiaridade se misturando aos seus sentidos. - Ah, isso me deixa estressado que nem você.

-Tcharam! Por isso eu não uso em ninguém.

-Entendo… Quer me contar como as coisas estão indo?

-Izuku… É horrível! Eu jamais vou terminar isso. Eu tento ao máximo ser o mais clara possível na minha escrita só que… falta, sabe? 

Moveu as mãos no ar me insentivando a continuar.

-Não é como se eu pudesse falar simplesmente " Porra Shoto. Você me pergunta o que tá acontecendo eu nem sei te dizer, sabe? Não sei dizer, melhor, não sei explicar quando tudo isso começou a acontecer. Foi de repente! Ficou importante demais ver coisas que nunca foram tão relevantes mas aqui estou eu, me questionando sobre tudo que somos." - Fiz aspas com os dedos enquanto falava.

-Ele te perguntou o que está acontecendo?! - Exclamou apoiado nas mãos com a surpresa estampada na cara.

-Semana passada. Depois do episódio no terraço onde a gente meio que flertou do nada, eu até agora tô tentando entender que aproximação foi aquela, eu fiquei meio avoada ao redor dele. Tô apaixonada… O que quer que eu faça?!

-Vai dizer que não gostou? - O garoto arqueou uma sombrancelha testando minha paciência que no momento era mínima. - Ficou falando daquilo por dois dias.

Nossa, por que eu contei pra ele?!

Encostei a cabeça na parede, olhando pras esferas esverdeadas penetrando ainda mais minha quirk no seu sistema, me preparando pra um susto cômico.

Em uma ilusão barata, transformei meu rosto no de Bakugou chegando mais perto dele, torcendo minha cara pra fazer uma careta bizarra.

-Deku! Pare de me irritar! 

Eu sei, eu sei. O pobre menino não fez nada demais, porém com a acumulação de estresse da semana puxada eu estava milhares de vezes mais rancorosa.

Num salto, foi parar do outro lado do quarto, abalado e atônito pela qualidade de minha ilusão.

Acho que passei uns cinco minutos rindo do susto, ri tanto que minha barriga começou a doer. Só acabando com aquele folgazão ao sentir uma presença bisbilhoteira na porta. Brevemente cresceu dentro do meu peito um arrependimento mútuo vendo Shoto parado, expelindo agitação pelos olhos.

Encarei-o, que ao perceber ter sido avistado, saiu constrangido andando pelo corredor. Izuku parecia ainda mais confuso me olhando de canto.

-Izu… deixamos Shoto enciumado.

Falei chorosa, percebendo o meu erro e querendo sumir naquele momento.

Eu Posso Sentir, Shoto  ( Todoroki X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora