capítulo 3

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Uma bagunça de caixas para lá e para cá. As minhas novas amigas me ajudavam a carregar todos os meus pertences até o luxuoso quarto que - definitivamente - era muito maior que minha sala de estar.

Conversávamos sobre tudo. O tempo, trabalhos, estágios, histórias do dia a dia e até alguns segredos toscos.

Mas era divertido, principalmente quando tentavam esconder algo mas eu sabia exatamente o que.

O dormitório parecia um hotel. Eram agradável os tons neutros do verde, branco e um pouco de marrom. Me fazia sentir em casa. O piso de madeira clara dava uma boa visão de tudo e não via qualquer bagunça.

Foi andando pelo corredor que eu vi pela primeira vez um rapaz alto e formoso, com o cabelo perfeitamente divido em duas cores distintas como os olhos e uma expressão tediosa.

Foi a primeira vez que senti uma armagura tão forte, um rancor tão doloroso e memórias tão melancólicas.

Ali, enquanto carregava uma caixa quase cobrindo meu rosto que descobri uma dor diferente, de anos e uma sequela praticamente incurável.

Me ardeu o peito, quis abraçá-lo, dizer que o ajudaria e nada mais seria tão ruim no futuro.

Como flashes, eu vi o momento que a água caia em sua direção, a agonia do calor rasgando a pele e a primeira vez que viu o espelho refletir a permanência do trauma no rosto.

Vi a negligência de um pai avarento, pondo seu desejo por cima da inocência infantil de uma criança machucada o tempo inteiro. Vi também a saudade da infância, o medo da vida e a perda de alguém importante.

Quando nossos olhos se desencontraram, e pude respirar de novo, travei. Mas ele apenas continuou andando para a porta, indiferente a qualquer coisa.

Parei tudo que fazia, encarando o nada a minha frente tentando reorganizar meus pensamentos e sentidos bagunçados, um tanto perturbados pela visão horrível.

E não percebi a lágrima cristalina manchar meu rosto, pela talvez terceira vez naquele dia.

Tantas pessoas quebradas naquela escola, como poderia continuar vivendo assim? E pior, sem que soubessem que eu sei sobre tudo?

Mas crescia dentro de mim uma vontade.

Para aquele garoto, eu traria novas lembranças.

Não sei dizer o que foi que me trouxe tanta convicção nessa decisão complicada. Talvez a falta de expressões nele, além de uma cansada.

Um barulho surgiu, arrastei as costas da mão em minha face manchada limpando o resquício de dor que o garoto me trouxe.

- Noble? Parou por que?

Sorri para Yao-Momo que vinha de trás carregando outra caixa.

- Não foi nada. Essa é a última?

- É sim, as meninas querem ir beber algo depois de todo esse trabalho. Você vem?

Eu a seguia até o último andar, repensando meus passos e como eu queria mudar tantas coisas naquele lugar.

- Nossa! Eu nem sei como agradecer vocês por tudo isso, de verdade, mas não me esperem hoje lá. Preciso organizar as coisas aqui.

Paramos em frente a porta verde do dormitório, deixando as caixas de papelão surrado no chão.

- Tudo bem, vamos sentir sua falta estamos muito curiosas sobre você.

- Sinto muito... Da próxima vez eu pago! Como agradecimento.

- Oba! Nós vamos cobrar.

Rimos antes de nós despedir, e então, um estralo se fez em minha cabeça. Um lembrete de meu mais novo mistério.

- Hey! Momo!

Chamei e ela se virou.

- O que você sabe sobre um garoto de cabelos dividos entre o vermelho e branco?

De súbito, algo se agitou dentro da garota. Um sentimento receoso e poderoso que vinha do coração.

Ciúme.

Me perguntei se teriam algum relacionamento ou se, era perigoso que me aproximasse caso estivessem. Mas de Momo, não encontrei raiva ou rancor, apenas constrangimento e um incômodo.

Era recíproco?

Não interessa, não abusaria de alguém tão bondoso por curiosidade mexendo em suas memórias.

- Ah, bom... - Respondeu, enrolando uma mecha do cabelo negro na ponta do dedo. - Ele é o Shoto Todoroki, da nossa turma. Não se assuste com a antipatia dele, se vocês se conhecerem vai descobrir que ele é um amor.

Assenti, vendo a figura graciosa sumir no fim do corredor. Pensei mais um pouco antes de me virar e adentrar na bagunça que me esperava para ser desfeita.

Era um bom passatempo para pensar em tudo e, talvez mais tarde descobrir  sobre meus colegas de classe

Eu Posso Sentir, Shoto  ( Todoroki X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora