𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙩𝙚𝙢𝙥𝙤 𝙖𝙘𝙖𝙗𝙖𝙧 ⏳ • konai

onze

— Você acredita em duendes, fadas e essas coisas? - Ela pergunta.
— Não - Digo simples - E você?
— Acredito, acho que eles mantém o equilíbrio no mundo... Ou pelo menos tentam, né? - Rimos.
— Mas cê acha que eles são pequenos como nos filmes ou invisíveis?
— Não, acho que eles andam no meio de nós, disfarçados, pra observar nosso comportamento e ver do que o mundo realmente precisa, entende?
— Aham, mas sei lá, acho que não existem não.
— Humano idiota - Fala baixo, mas eu ouvi.
— Tá bom, senhora Fada - Digo e nós rimos.
— Faz quanto tempo que cê não anda nessa bicicleta?
— Ah, uns cinco anos ou mais - Explico - Quando era mais novo eu ia pra todo canto de bike, mas depois de um tempo eu meio que desanimei e deixei de canto.
— Eu amo andar de bicicleta, dá uma sensação boa. Queria aprender a andar sem as mãos, acho muito radical.
— Super - Falo e nós rimos - Eu sabia, hoje em dia acho que não sei mais.
— Se você souber, me ensina? - Sinto ela me olhar.
— Aham - Olho de volta e nós sorrimos.
— Beleza.

Nós estávamos descendo a pé, empurrando as bikes em direção a bicicletaria perto da minha casa, pra concertar a minha. Quando chegamos lá, o cara olhou e disse que ficaria pronta em uma hora, então nós resolvemos ir até um poliesportivo que ficava quase em frente do lugar, onde tinha pista de skate, playground infantil, campo de futebol e outras coisas relacionadas a esporte.
Entramos lá e seguimos direto pro campo de futebol, onde tinha algumas árvores ao redor e nós poderíamos ficar embaixo delas.

— Acho que isso vai dar uma coceira na gente - Fala me vendo sentar.
— E você vai ficar em pé? - Encosto as costas na árvore.
— Não, né? - Ri - Abre as pernas.
— Pra que?
— Só abre, cara.

Me ajeitei como ela pediu, então ela se virou de costas e sentou no meio das minhas pernas e deitou com as costas e cabeça apoiados na minha barriga.

— Nada folgada você, né?
— Nenhum pouco - Ri.
— Se realmente existem duendes e fadas, pra manter o equilíbrio no mundo, porque tudo ainda me parece tão bagunçado? Quer dizer, esse mundo é um caos.
— É por isso que eu disse que eles tentam - Ri - Tipo, a gente tinha tudo pra viver num mundo perfeito e tal, mas o ser humano não colabora com isso e eles não dão conta de tudo sozinho, são mágicos, mas não são Deus.
— Você acredita em Deus? - Encaixo o dedo em um dos cachos do cabelo dela e enrolo.
— Tenho medo de falar que não e ser julgada por ele depois - Fala rindo - Mas não sei, eu acredito que exista alguém, mas não sei se seria exatamente Deus, e você? Acredita?
— Não, se existisse, você não acha que a vida seria boa? Que Deus é esse que vê tudo o que tá acontecendo e não faz nada pra melhorar? Se ele é não é Onipotente, porque é que deixa tudo ser do jeito que é?
— Tô sentindo uma certa mágoa na sua voz - Vejo um dos seus braços pender pra trás e sua mão toca meu rosto - O que foi?
— Nada, só acho muito foda a idéia de que exista alguém que pode parar todo o caos do mundo, vendo tudo isso e não faz merda nenhuma pra mudar.
— É, faz sentido - Suspira - Mas sei lá, por mais que eu ache que vou reencarnar aqui quando morrer, não quero ofender ninguém pra não ter uma vida pior que a que eu já tenho.
— Eu já nem me importo mais - Digo por fim - O que vier, provavelmente foi porque eu merecia, né?
— Deve ser - Ri - Mas você é bom, vai direto pro céu.
— E se quando chegar lá, vou ficar sozinho? Porque de acordo com você, cê não sobe, né?
— Você vai achar alguém pra te fazer companhia até eu me endireitar e poder subir.
— E se você subir e eu ficar aqui?
— Isso é impossível - Diz rindo.
— Mas e se acontecer?
— Então eu chuto alguns anjos e faço eles me mandarem de volta, não vou te deixar sozinho, nunca.

[ ... ]