trinta e um

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Acordei com meu celular tocando e antes mesmo de ver quem era, recusei a chamada para não fazer barulho já que Violetta ainda estava dormindo.
Com cuidado tirei meu braço que estava ao redor dela e então saí do quarto sem fazer barulho enquanto retornava a ligação que logo vi ser da minha mãe.

— Oi mãe.
— Bom dia meu amor, dormiu bem?
— Muito bem, fazia tempo que eu não dormia assim tão bem - Digo sincero.
— Nossa, que beleza! Você recebeu a mensagem que te mandei ontem?
— Sim, só esqueci de responder, mas obrigada pelos parabéns e manda um beijo pra minha vó.
— Só não te liguei porque no sítio não está pegando no sinal, daí viemos na cidade hoje e aproveitei pra te ligar e saber se tá tudo bem.
— Tudo mais que bem.
— Você tá sendo irônico, João Vitor?
— Por incrível que pareça, não - Ri e ela ri também.
— Então saiba que você alegrou o dia da sua mãe por estar tão feliz assim. Aliás, mandei entregar uma cesta de café da manhã aí, mas como eu trouxe a chave, vou te contar onde está o controle reserva do portão, mas você tem que me prometer que não vai sair.
— Prometo - Ri pela inocência dela.
— Tá na gaveta de bagunça lá na cozinha, não é pra sair - Dá ênfase.
— Uhum, ok - Digo e ouço a campainha tocar - Acho que chegou aqui mãe, vou lá pegar.
— Tá bom meu amor, fica com Deus, te amo muito, tá?
— Tá bom, tchau.

Desci as escadas rapidamente e depois de pegar a cesta, voltei com ela pra cozinha e deixei lá. Subi e entrei novamente no quarto com cuidado, então entrei no meu banheiro e depois de um banho rápido, voltei e ela estava acordada.

— Te acordei? - Pergunto.
— Não, meu pai me ligou, queria saber se eu estava bem.
— Você já tem que ir?
— Você quer que eu vá?
— Não.
— Então não - Sorri e eu faço o mesmo - É ... Melhor eu sair, pra você se trocar.
— É, tá. Tem café da manhã, minha mãe exagerada mandou uma cesta - Digo e nós rimos.
— Se sua mãe não me odiasse, eu ia adorar ser amiga dela - Levanta.
— Ela não te odeia ...
— Só não me suporta - Diz parando na minha frente - Eu vou tomar banho também.
— Tá, tá bom.

Continuamos parado nos olhando e eu lembrei da noite anterior. Meu corpo inteiro e esquentou e eu estava pronto pra beija-la de novo, mas então ela sorriu e entrou no banheiro, fechando a porta em seguida.
Tentei afastar os pensamentos e então me troquei rapidamente. Desci para abrir a cesta e tirar as coisas pra gente comer e alguns minutos depois ela desceu.

— Quando disse que ela era exagerada ...
— Pois é - Ri.
— Nossa, eu amo esses bolinhos.
— Então vamo comer - Digo me sentando e ela faz o mesmo - Tenho outra pergunta pra você.
— Pode perguntar - Serve suco pra nós dois.
— Um tempo atrás você me disse que existe fadas, duendes e essas paradas.
— Porque existem - Diz e morde o bolinho.
— Tá, mas se eles existem pra tentar cuidar do planeta, porque ainda existe essas coisas de aquecimento global e tudo mais?
— Porque existem mais seres humanos do que seres mágicos e além do mais, olha a quantidade de lixo, gases e porcarias que nós produzimos e jogamos na natureza. Os coitados não conseguem cuidar disso tudo sozinho. Nós sujamos, nós viveremos na sujeira.
— Então porque Deus não ajuda eles?

Ela ficou em silêncio, pela primeira vez eu a vi sem resposta pra perguntas desse tipo. Eu não acreditava em Deus, mas não julgava a crença dela, só que ela sempre tinha uma resposta pra tudo isso e dessa vez não teve.

— Tudo bem, não precisa responder - Digo rindo.
— João, vamos supor que você tenha um filho. Você ensina tudo o que pode, explica como as coisas funcionam e o que devem fazer e mesmo assim, depois de um tempo, seu filho faz tudo ao contrário. Você, como pai, orienta mais de uma vez, mas chega em um ponto que não tem mais solução, seu filho sai de casa, ele quer viver a vida dele da forma que bem entende. O que você faria?
— Eu deixaria, ué - Digo óbvio - Se mesmo depois de todos os ensinamentos e tomadas de cú e ele não aprendeu, deixo que ele viva a vida dele como quer, mas eu não interfiro mais.
— Taí a sua resposta - Sorri satisfeita e volta a comer - Sério, esse bolinho é muito bom.
— Você não existe mesmo - Digo rindo.
Não, sou só uma ilusão da sua mente instável - Sorri.
— E como eu faço pra fazer você sumir?
— Pisque bem forte e peça por favor para que eu vá embora.
— Posso testar?
— Você quer arriscar?
— Se eu me arrepender, você volta?
— Se você me quiser aqui, sim.
— Então tá - Fecho os olhos firmemente - Por favor, vai embora!

Abri os olhos e ela literalmente tinha desaparecido. Aquilo era uma loucura, mas eu senti meu coração acelerar por uma fração de segundos por acreditar que aquilo era real, mas não durou muito.

— Tá, eu quero você de volta - Digo rindo mas nada acontece - Ei, eu quero você de volta... Por favor.
— Bom garoto - Sai de baixo da mesa comendo o bolinho e eu dou risada.
— Maluca.
— O que você quer fazer hoje?
— O que você quiser fazer, desde que a gente tenha tempo pra limpar meu violão.
— Ah, é mesmo! Você tá animado com as aulas?
— Ainda não decidi - Digo rindo - Eu lembro de muito coisa e como vou começar do zero na aula, talvez seja tedioso ... Mas não seria se você fosse comigo.
— Eu? Na sua aula de violão? E porque me deixariam entrar?
— A gente pode dizer que você é minha namorada ciumenta, a recepcionista já acha isso mesmo - Digo e nós rimos.
— Cuidado, eu posso estar escondida atrás de alguma porta, te esperando.
— Não vou mentir, eu ia gostar - Digo e ela sorri timidamente.

[ ... ]

𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙩𝙚𝙢𝙥𝙤 𝙖𝙘𝙖𝙗𝙖𝙧 ⏳ • konaiOnde histórias criam vida. Descubra agora