quarenta e cinco

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— João, cê tá dormindo? - Pergunta baixinho.
— Tô não - Puxo ela pra mais perto - O que foi?
— Hipoteticamente falando ... Nossa, que palavra difícil - Rimos - Enfim, se a gente não desse certo, não fossemos mais amigos e você ficasse famoso, e te perguntassem sobre essas duas tatuagens, você falaria o motivo?
— Acho que sim, não sei, porque?
— Porque isso vai ficar pra sempre em você, a não ser que você remova, óbvio - Ri - Mas eu tava pensando, se acontecer alguma coisa e a gente nunca mais conversar, queria saber se você ainda ia falar de mim.
— Eu sempre vou falar de você. Você é a melhor coisa que eu tenho nada vida e mesmo se a gente se separasse por algum motivo, você fez parte da minha vida, eu jamais esconderia isso. Mas porquê essa pergunta agora?
— Nada, só pensando.
— Mas a gente não vai se separar, você vai vender colar e pulseira na porta dos meus shows, lembra? - Digo e ela ri.
— É verdade - Deita de barriga pra cima - Faltam quatro meses pro natal.
— Você tá contando? - Ri.
— Claro, é a minha época favorita do ano. Você não gosta?
— Não tenho uma opinião sobre, é indiferente pra mim.
— Você é tão amargo, Scrooge.
— Eu vi esse filme - Ri - Não sou daquele jeito, só que pra mim é um tanto faz.
— Vai ser o quarto natal que eu passo sem a minha mãe - Diz e um nó se forma na minha garganta, eu nunca sabia o que dizer nesses momentos - Ela amava o natal também, sabe?
— Sério? - Pergunto dando abertura pra ela falar.
— Sim - Senta no colchão, não consigo ver seu rosto pois estava tudo escuro, mas sabia que ela estava sorrindo - A gente enfeitava a casa toda, compravamos presente pra todo mundo. Ela sabia que eu amava muito o natal e fazia de tudo pra ficar o mais parecido com aquele natais de filme - Diz e nós rimos - Mas tô me sentindo um pouco mal.
— Porque? - Seguro na mão dela.
— Faz meses que não vou no cemitério. Antes eu ia muito, limpar, levar flores ou só conversar com ela.
— E porque você não foi mais?
Porque eu não tô me sentindo mais sozinha como antes - Sorrio involuntariamente - Eu aposto que ela ia adorar você.
— Eu ia gostar muito dela, tenho certeza. E se você quiser, podemos ir lá amanhã, levar flores e limpar, como você fazia.
— Você iria comigo?
— Claro que sim.
— Obrigada, João.
— Não me agradece, não é nada de mais.
— Mesmo assim, obrigada - Sinto ela se mover no colchão e logo deita a cabeça no meu peito - Amanhã nós vamos acordar bem cedo pra começar a arrumar seu quarto, né?
— Vai me ajudar mesmo?
— Óbvio, jogos de decoração são os meus preferidos - Rimos - Além do mais, esse quarto não tá te fazendo bem, então vamos resolver isso.
— Será que agora as coisas vão dar certo?
— Como assim? - Pergunta.
— Será que a gente vai ter uma vida normal? Não normal no sentido literal, isso não - Rimos - Mas será que vai ficar tudo bem?
— Eu espero que sim, meu coração e meu psicológico não aguentam mais nenhum susto - Rimos - A cota foi excedida pelas próximas dez vidas.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Depende, se for sobre alienígenas, não. Eu não gosto deles - Diz baixinho e eu ri.
— Não é sobre alienígenas, mas depois vou querer saber porque você tem medo deles, se eles não existem.
— Eu não vou discutir isso com você, menino sem fé - Diz e eu ri mais - Mas pergunta.
— Como você sabe que me ama?
— Não sei, só sinto - Diz simples - Não é uma coisa que surge na sua cabeça do tipo, nossa eu amo essa pessoa. Eu tenho certeza que amo meus pais, meus avós e meu primo Rafael - Diz e nós rimos - Do mesmo jeito que tenho certeza que amo você. Eu só sinto. Mas porque?
— Sei lá, é um bagulho tão confuso. Eu não tenho certeza do que exatamente é o amor, mas eu morreria por você. Eu até fiz uma música - Rimos - E eu não faria uma música pra ninguém, se não fosse pra você.
— Nem pra sua mãe?
— Pra minha mãe eu faria um poema - Rimos mais.
— Se eu soubesse, eu também faria uma música pra você.
— E qual seria o tema dessa música?
— Não sei bem, mas sei o nome - Rimos - Quatro estações.
— Porque quatro estações?
— Porque você me lembra as quatro estações - Ri - Aquele negócio que as pessoas dizem que se sentem numa montanha russa e tal, eu não sinto. Sinto como se eu passasse pelas quatro estações do ano quando tô com você. Desde o seu lado mais frio tipo o inverno, ao seu lado mais quente e intenso tipo o verão. Seu lado sem graça, duvidoso e sem fé é o outono e a primavera é o seu lado calmo, lindo e o que eu mais gosto.
— Uau - Digo surpresa - Por essa eu não esperava. Talvez eu faça uma música sobre isso.
Quero os direitos autorais e cem por cento dos lucros - Diz e nós rimos, então ela boceja.
— Tá com sono?
— Só cansada. Faz umas semanas que não durmo muito bem.
— Quer que eu faça carinho em você até você dormir?
— Quero, mas não agora.
— Porque?

Ela não respondeu nada, mas após alguns segundos senti a boca dela tocar a minha, então nos beijamos.

[ ... ]

Capítulo mais chatinho mas é só pra deixar algumas coisas registradas que mais pra frente vão ter efeito.

𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙩𝙚𝙢𝙥𝙤 𝙖𝙘𝙖𝙗𝙖𝙧 ⏳ • konaiOnde histórias criam vida. Descubra agora