quarenta e quatro

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Depois do jantar, subimos para o quarto. Expliquei pra minha mãe que não me sentia mais confortável dormindo na minha cama e ela entendeu o porquê.
Disse que Violetta e eu podíamos dormir juntos desde que a porta do quarto ficasse aberta, mas depois de muita insistência, a desculpa de que o ar condicionado estaria ligado e um pouco de drama da minha parte, ela acabou deixando fechada, mas levou a chave com ela.

— Quer jogar? - Pergunto quando ela se joga no colchão no chão.
— Não.
— Quer fazer o que? - Me jogo ao lado dela.
— Absolutamente nada, comi muito - Diz e eu ri - Sua mãe cozinha bem pra caramba, não que a comida do meu pai seja ruim, mas a da sua mãe tá de parabéns.
— Vou falar pra ela - Nos viramos de frente um pro outro - Ainda não acredito que você não foi com os seus avós.
— Como eu iria sabendo que você tava daquele jeito? Impossível.
— Mas e agora? Você vai ter que ir?
— Ainda não sei, meu pai tá evitando qualquer assunto que me deixe muito nervosa, porque sabe que eu tava muito preocupada com você.
— Pelo menos teve um lado bom então - Digo e ela ri.
— Idiota.
— Eu te amo.
— Eu também te amo - Sorri - E falando em amor - Senta e eu faço o mesmo - Acho que isso aqui é seu - Tira um papel amassado do bolso do moletom - Eu peguei quando ... Enfim, você tá segurando com tanta força que achei que deveria ser importante.
— Você leu? - Pego o papel e encaro o mesmo.
— Comecei, mas toda vez que ia ler, eu chorava - Fala rindo.
— Você entendeu o que era?
— Parecia ser sobre ... Amor. Mas eu não li tudo, então não tenho certeza.
— Posso tocar pra você?
— Então é uma música? - Sorri e eu faço que sim - E você que escreveu?
— Uhum, não tá muito boa, mas ...
— Eu quero ouvir, agora!

Me levantei e então peguei meu violão, voltando pro colchão em seguida. Apesar do ar estar ligado, ainda era possível ouvir o barulho forte da chuva lá fora e eu me concentrei nisso, antes de começar a tocar.
Dedilhei as primeiras notas e assim como da primeira vez que toquei pra ela, não tive coragem de olhar diretamente nos seus olhos.

— Te faço um convite pra me conhecer, não tô com pressa pra beijar você. Caso fique frio a gente fica lá dentro, sentado na cama... Eu já nem ligo pro tempo, contigo passa lento - Crio coragem e abro os olhos - Tu é a zona de conforto pra essa zona que eu sou. Do meu universo tu é o centro, a melhor decoração pro meu interior - Ela sorri largamente - Já não tem pra onde ir sem você, não tem mais pra onde ir sem você. Te faço um convite pra me conhecer, não tô com pressa pra beijar você. Caso fique frio a gente fica lá dentro, sentado na cama - Olho diretamente nos olhos dela e aumento a intonação da voz - Então só fica mais um pouco, acalma aqui dentro, se não eu fico louco. Tu já sabe do meu medo de estar só... Do meu medo de estar só - Vejo uma lágrima escorrer no seus rosto, mas ela permaneceu sorrindo - Te faço um convite pra me conhecer, não tô com pressa pra beijar você. Caso fique frio a gente fica lá dentro sentado na cama ouvindo só o som do vento ... Do meu medo de estar só ... Só falta um convite pra me conhecer - Toco as notas finais.

Deixei o violão de lado e voltei a olhar pra ela, esperando que ela dissesse qualquer coisa, mas assim como da outra vez, ela simplesmente se jogou em cima de mim e me abraçou firme. Não demorou muito e eu já conseguia ouvir o choro dela bem baixinho.

— Tá chorando porque? - Pergunto rindo.
— Foi a música mais linda que eu já ouvi na vida - Diz em meio ao choro - Tão, mais tão linda. João!
— O que? - Ri mais - Você gostou?
— Eu amei - Se afasta o suficiente pra me olhar - Ficou perfeita.
— Se você não percebeu, é sobre nós - Digo receoso.
— Óbvio que eu percebi - Sorri - Por isso é perfeita.
— Eu queria escrever uma carta, queria te deixar uma carta, mas nada fazia sentindo. Aí eu tentei dessa forma e deu meio certo - Ri.
— Deu cem por cento certo - Sorri - Você precisa cantar de novo pra eu gravar e poder ouvir o dia todo.
— Vou fazer isso - Sorrio pra ela - Que bom que você gostou.
— Eu amei.
— E eu te amo.
— Também te amo, muito e pra sempre.

[ ... ]

𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙩𝙚𝙢𝙥𝙤 𝙖𝙘𝙖𝙗𝙖𝙧 ⏳ • konaiOnde histórias criam vida. Descubra agora