oito

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Acordei com o barulho do portão eletrônico abrindo na garagem. Senti um peso sob o meu peito e então notei que a Violetta estava ali, dormindo. Nós deitamos enquanto eu tentava acalma-la e acabamos dormindo. Olhei as horas no celular e passava da 01:00 da manhã.

— Ei, acorda - Digo baixinho - Violetta, acorda.
— Já disse pra não me chamar assim - Fala baixinho mas então se levanta de uma vez - Que horas são?
— Uma e vinte - Digo - A gente dormiu.
— Percebi. Nossa, meu pai deve estar maluco - Pega o celular - Meu Deus, ele me ligou um milhão de vezes. Tô fodida.
— Calma, fica aqui e fala com ele, vou descer pra ver se eles tão de boa.
— Não fala que eu tô aqui - Diz - Vai que ela chama a polícia, sei lá.
— Relaxa - Levanto da cama - Já volto.
— Tá bem.

Saí do quarto devagar e desci as escadas sem fazer barulho. Queria ver o que eles estavam fazendo, porque se estivessem na sala, ia ser difícil da gente sair e pro nosso azar, minha mãe e meu padastro estavam lá, sentados no sofá conversando.

— Eu sei amor, mas ele tá disposto a ir na próxima consulta.
— Mas e depois? - Meu padastro diz - Ele vai em uma ou duas consultas e depois? Se tranca no quarto, a gente não sabe o que tá fazendo lá dentro, com quem tá falando.
— E você quer que eu faça o que? Já conversei com o pai dele e nós concordamos que íamos fazer o possível.
— Mas acho que já extrapolou, né? Quem garante que um dia nós vamos chegar em casa e ele vai estar morto dentro do quarto ou no banheiro? Eu acho que deveríamos sim considerar a opção de mandá-lo pra fora do país. Lá eles vão supervisionar ele o tempo todo e ...

Senti uma mão no meu ombro e Violetta estava ali. Minha visão estava turva por conta de algumas lágrimas. Eu sabia que era um fardo na vida da minha mãe e de todo mundo, mas ouvir eles falando assim, sobre me achar morto e eu sei lá, me senti um inútil de merda.
Violetta fez um gesto pra que eu a seguisse de volta até lá em cima e assim nós voltamos ao quarto sem fazer barulho e, quando fechamos a porta, ela me abraçou apertado.

— Não queria ter ouvido, mas... Não fica mal, por favor - Pede.
— Eu realmente sou um fardo na vida deles, puta que pariu - Digo segurando o choro mesmo com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Cara, cê já esqueceu tudo o que me falou mais cedo? João, cê não é um fardo, eles só estão com medo de você fazer alguma coisa, é normal, eles sabem que você não tá bem e estão preocupados, mas a gente vai se ajudar, lembra? Vou tirar você dessa.
— Cê quer saber qual é o meu maior medo? - Pergunto e nos afastamos um pouco pra nos olharmos.
— Achei que cê não tinha medo de nada.
— Eu tenho medo de... Ficar sozinho, de perder todo mundo que eu amo. De que ninguém esteja comigo ... Tenho medo da solidão.
— Cê não vai ficar sozinho, nunca mais! Eu tô com você.
— Cê não vai rir? - A encaro.
— Óbvio que não, idiota - Pega nas minhas mãos - É normal, eu te entendo. Sozinho a gente pensa merda pra caralho e a solidão... Dói - Suspira - Mas você não vai mais se sentir assim, eu não vou deixar.
— Eu não queria ser assim.
— Ninguém quer, mas acontece - Se aproxima mais ainda e coloca as mãos no meu rosto, puxando pra encostar nossas testas - Mas agora eu tô na sua vida e nunca mais vou te deixar em paz.
— Cê vai ficar comigo?
Pra sempre.

[ ... ]

𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙩𝙚𝙢𝙥𝙤 𝙖𝙘𝙖𝙗𝙖𝙧 ⏳ • konaiOnde histórias criam vida. Descubra agora