𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙩𝙚𝙢𝙥𝙤 𝙖𝙘𝙖𝙗𝙖𝙧 ⏳ • konai

quarenta e três

Nós descemos juntos e seguimos pra cozinha. Minha mãe estava mexendo em uma panela enquanto meu padastro lavava a louça.

— Toma um pouco de iogurte, um danone ou come uma fruta molinha - Minha mãe diz - Você também, Violetta, pode comer o que quiser.
— Obrigada - Diz timidamente.
— Você quer um desses? - Mostro o Danone e ela nega com a cabeça - Certeza?
— Sim.
— Então eu como dois - Pego dois e todos riem - A gente vai sentar aqui no fundo, tá?
— Tá bom - Minha mãe responde - Fecha as portas de vidro, tá começando a chover.

Seguimos para área dos fundos e arrastei um dos puffs pra perto das portas de vidro, mas longe o suficiente pra não nos molhar.
Sentei e me ajeitei pra ela sentar ao meu lado e rapidamente ela deitou a cabeça no meu colo e encarou a chuva.

— Não quer mesmo? - Pergunto abrindo um Danone.
— Não, obrigada.
— Eu que agradeço - Rimos - O que você tem?
— Nada, porque?
— Tá quietinha, meio pra baixo.
— Foi nada não.
— Deixa eu ver.
— Ver o que? - Me olha.
— Eu tô sem celular, mas tava usando o da minha mãe no hospital - Suspiro - Eu não sou tão lerdo quanto pareço.
— João ...
— Eu vi a foto, 'quebramos a promessa eu e você'? Você não tinha se dado aquele tempo. Você tentou, não conseguiu e ia tentar de novo no fim da semana, além do mais, você nunca usa short e moletom. Ou é um ou outro - Digo e ela encara as mãos - Deixa eu ver.

Ela puxou as mangas do moletom pra cima e lá estavam os cortes. Alguns estava  pequenos e começavam a criar casquinha, outros mais abertos e alguns até com gaze pra estancar um pouco do sangue.
Deixei o Danone de lado e segurei nas mãos dela, então as trouxe pra perto e beijei delicadamente. Ela me olhava e o rosto estava vermelho, sabia que ela queria chorar, então preferi não insistir no assunto, aquele não era o momento.

— Eu te amo, tá? - Digo e ela faz que sim com a cabeça - Não vou brigar com você, não tô no direito, só não quero que você faça mais isso, ainda mais minha causa, tá? - Concorda novamente e uma lágrima desce - Não, não chora - Pego o Danone no chão - Toma, come - Coloco a colher na boca dela.
— Nossa, muito bom - Ri.
— É mesmo - Pego o outro e abro.

Ficamos ali sem silêncio, tomando o Danone e encarando a chuva que caía forte.
Um tempo depois minha mãe nos chamou pra jantar e nós quatro comemos num clima tranquilo e até bem legal. Era aquilo que eu queria, que tudo fosse daquele jeito pra sempre.

[ ... ]