vinte e sete

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— Você já bebeu alguma dessas coisas? - Ela me pergunta enquanto encaramos os vários tipos de bebidas em cima da ilha na cozinha.
— Hum, já bebi essa - Pego uma vodka de sabor.
— É boa?
— Horrível - Digo sincero - Quero dizer, se você quiser experimentar pra saber, vai de você, mas eu não curti.
— Acho que quero um pouco - Pega um copo - Você não vai beber nada?
— Vou, energético - Pego a garrafa - Talvez fosse melhor você não ... Exagerar.
— Não se preocupa - Ri do copo que ela encheu - Se for muito ruim, eu jogo fora.
— Coloca um pouco de gelo, se você beber isso quente vai ter um coma alcoólico.

Ela foi até a geladeira e pegou gelo pra nós dois. Servi meu copo com energético e então voltamos juntos pra sala, onde as pessoas ainda nos olhavam como se fossemos estranhos. Bom, pelo menos eu era.
Sentamos nos degraus da escada e começamos a conversar sobre as mesmas coisas aleatórias de sempre.

— Porque será que as coisas tem o nome que tem? - Pergunto.
— Não faço idéia - Ri e dá um gole na bebida - Nossa!
— Forte? - A encaro.
— Sim - Ri mais - Mas é gostosinho.
— Você só vai beber esse copo, pra uma primeira vez bebendo, tá muito bom.
— Tá bom, pai - Revira os olhos.
— Só não quero ficar a noite toda segurando seu cabelo pra você vomitar - Observo as pessoas ao redor.
— Você faria isso? - Sinto ela me olhar.
— Ou é isso ou corro o risco de você vomitar fora da privada e sujar o chão, então sim, eu faria - Olho pra ela novamente.

Ela deu um pequeno sorriso e foi involuntário sorrir de volta. Senti minhas mãos suarem e talvez fosse pela música ou pelo clima totalmente propício pra isso, mas a vontade de beija-la surgiu e dessa vez muito mais intensa.
Ela continuou olhando pra mim, mas logo seus olhos percorreram meu rosto até chegar na minha boca e automaticamente olhei pra boca dela que foi se abrindo aos poucos. Nós estávamos muito próximos por conta do tamanho da escada e não precisariamos nos mover muito para que o beijo acontecesse. Eu estava pronto e sentia que ela estava também.

— Cê tá aqui?! - Edu pergunta se aproximando.
— É, tô - Diz se afastando um pouco - Tava me procurando?
— Sim, queria falar com você ... Só nós dois.
— Ah - Ela me olha.
— Pode ir - Digo - Só não demora, temos que ir lá fazer aquele negócio.
— Sim - Concorda prontamente - A gente vai lá assim que eu falar com ele então.

Ela me dá um sorriso de lado e então os dois seguem pelo meio das pessoas até a cozinha e logo saem pela porta dos fundos. "Pelo menos não foram pro quarto". Ótimo jeito de ver o lado positivo das coisas.
Eu sabia que ela nunca tinha beijado ninguém e isso provavelmente aconteceria hoje, mas eu imaginei que seria comigo e não com um otário que com certeza não quer nada além de ficar com ela e depois deixar de lado.
Eu não deveria me importar tanto assim, mas é inevitável e só de pensar que eles estavam se beijando, meu sangue esquentava.
Pensei e repensei por mais ou menos cinco minutos e depois de dar um bom gole no copo de bebida que ela havia deixado ali, levantei e segui na mesma direção em que eles foram.
Passei por algumas pessoas que me olhavam demais, ou por eu ser um total estranho pra eles ou pela forma que eu me vestia que não era nada igual as pessoas que estavam ali.
Assim que saí da casa, observei o quintal enorme e totalmente vazio. Não existia uma alma se quer ali e aquilo era totalmente estranho, considerando que aquilo era uma festa. Observei tudo e não vi ou ouvi sinal deles ali, então pensei que talvez eles já tivessem voltado pra dentro e eu não vi.
Voltei pra dentro da casa e depois de quase dez minutos procurando por eles, imaginei que esse cara tinha se teletransportado com ela pra outro lugar, eles não estavam em canto algum.
Fui novamente até o quintal e quando estava pronto pra ligar pra ela, percebi que a luz de um quartinho onde provavelmente era usado de depósito, estava acesa. Aquilo não estava aceso antes. Caminhei devagar até lá e ao me aproximar pude ouvir a voz dela.

— Eu tô te pedindo, por favor, Edu - Ela estava nervosa, talvez chorando - Por favor, não faz isso.
— Qual é, Tatá! A gente se conhece a anos, vamos lá. Vai ser bom, você vai gostar - Responde - Sente aqui.
— Não, eu não quero!
— Pega nele um pouquinho, olha só - Faz uma pausa - Tá duro só de imaginar dentro de você.

Foi o que eu precisava ouvir pra entrar ali. Abri a porta de uma vez e então quando meus olhos se encontraram com os dela, percebi que ela estava chorando muito mais do que a voz aparentava.

— Qual foi, moleque? - Ele pergunta enquanto sobe a calça - Sai fora.
— Vamos embora - Falo diretamente com ela.
— Ela não vai pra lugar nenhum - Coloca a mão na frente dela, a impedindo de sair.
— Sai da frente - Agora falo com ele.
— Sai você daqui, ninguém te chamou.
— Você não entendeu que ela não quer? - Dou um passo pra frente.
— Ela quer, só tá se fazendo de difícil - Ri debochado.
— Ela tá chorando, tá assustada e tá falando que não quer - Dou um empurrão para que ele se afastasse dela.

Ele esbarrou em algumas coisas e aproveitei para puxa-lá e sair dali o mais rápido possível, mas quando estava saindo ele me puxou por trás e me jogou no chão, dando um soco no meu rosto. Eu não conseguia me livrar e ele distribuiu mais alguns socos antes de ser atingido na cabeça por um vaso pequeno de plantas. Olhei pra ela e apesar de estar assustada, ela tinha conseguido fazer aquilo.
Ele saiu de cima de mim, na intenção de ir atrás dela nas então eu o joguei no chão e depois de acertar alguns socos em seu rosto, me levantei para irmos. Ela se aproximou dele e quando eu menos esperava, o acertou com um chute no meio das pernas, o que o fez gemer de dor.
Segurei firme na mão dela e então demos o fora dali.

[ ... ]

𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙩𝙚𝙢𝙥𝙤 𝙖𝙘𝙖𝙗𝙖𝙧 ⏳ • konaiOnde histórias criam vida. Descubra agora