trinta e três

458 52 19
                                    

Cinco dias depois.

Era quinta-feira. Nada fora do comum aconteceu nos últimos dias, a não ser a enorme discussão na minha casa por causa das tatuagens, minha mãe quase não estava falando comigo. Eu sabia que ia passar, mas com certeza ia demorar um pouco.
Eu estava no intervalo conversando com alguns caras da minha sala quando alunos de uma outra escola entram no pátio. Eles estavam acompanhados de alguns professores e do diretor que falava algo que eu não conseguia ouvir. Observei atentamente as pessoas e senti como se o peso do mundo caísse em mim.
Lá estava ela. Sozinha. Os outros alunos todos andavam em duplas ou grupos, conversando e rindo e ela estava sozinha e parecia angustiada. Eu conhecia aquele olhar dela, ela não estava bem por estar ali.
Ela já tinha me dito que não tinha amigos e que raramente conversava com as pessoas da sala dela. Que todas a tratavam bem, mas ninguém a incluía nos grupos e em nada. Eu só não achei que fosse no sentido mais literal possível.
Foi uma das coisas mais dolorosas que eu já vi na vida e mais uma vez eu tive a sensação de querer tirar todo tipo de dor que ela sentisse, não conseguia vê-la assim.
Levantei e senti o olhar curioso dos caras com quem conversava e devagar fui me aproximando. Ela estava prestando atenção no que o diretor dizia, mas ao notar minha presença, abriu um sorriso largo e sincero. O mais lindo que eu já tinha visto.

— O que você tá fazendo aqui? - Pergunta surpresa.
— Eu estudo aqui, lembra? - Rimos - E você?
— A gente veio pra feira de ciências - Diz me abraçando e eu retribuo - Tão bom te ver.
— Muito bom - Sorrio quando nos soltamos - Essa galera é da sua sala?
— Sim - Encara as pessoas um pouco mais a frente.
— E o Eduardo ...
— Não, não apareceu nunca mais na aula - Diz num tom simples e logo as pessoas começam a andar novamente - Eu tenho que ir.
— Não, fica aqui - Seguro na mão dela.
— Eu bem que queria - Suspira.
— Porque você não fica mais perto deles?
— Porquê quando eu chego perto eles não ficam a vontade, já te disse. Eles são gente boa, mas não querem ser meus amigos - Fala e a voz dela começa a falhar.
— Então quem tá perdendo são eles - Digo e uso o polegar pra impedir que uma lágrima caia pelo rosto dela, então a vejo sorrir.
Faltam dois dias.
— Eu sei, tô ansioso - Admito.
— Eu também, mas ...
— Tatá?! Vamos, eles vão levar a gente pra conhecer as salas - Uma garota volta para chamá-la.
— Tô indo, Ju.
— Tá, não demora - Sorri e então volta para o grupo que estava mais longe.
— Ela parece ser legal.
— Ela é - Diz sem interesse - Mas eu preciso ir.
— Não seria uma pena se você se perdesse do resto das pessoas? - Pergunto e ela sorri.
— A gente vai se ver mais tarde, tem consulta hoje, lembra, maluquinho?
— É verdade - Rimos - Depois da consulta a gente pode tomar um sorvete, o que você acha?
— Vou adorar - Sorri - Agora eu tenho que ir mesmo, tchau João.
— Tchau - Sorrio e quando ela vira as costas eu suspiro.

Observei ela caminhar até o grupo e então parou ao lado de uma mulher mais velha que eu julguei ser professora e mais uma vez senti aquele aperto no peito.
Quando ela sumiu do meu campo de visão, voltei até onde estava e logo que cheguei os caras ficaram me encarando.

— Que foi? - Pergunto.
— Quem é aquela? - Luis pergunta.
— É a Violetta, uma ... amiga.
— Amiga, é? Então não tem problema apresentar pros seus amigos, né? - Pedro fala e o restante rir - Gatinha ela.
— É, ela é!
— Qual foi, João, ficou grilado, é? Só tamo zoando - Luis continua.
— Então zoa sobre outra coisa, esquece ela.
— Tá com ciúme, é? - André pergunta rindo - Que bonitinho.
— Na moral - Me levanto - Tá dando a hora de voltar, depois a gente se fala.

Saí sem esperar resposta de ninguém. Eu não queria ouvir eles falarem sobre ela. Eles não a conheciam e ela não era um nada pra ser tratada como isso.
Caminhei em direção ao corredor das salas e logo vi a turma dela reunida na porta de uma das salas e mais uma vez ela estava mais afastada, encarando os desenhos em um mural de exposição.
Me aproximei com cuidado mas quando estava bem perto, o sinal tocou. Ela se assustou e eu ri sozinho da cena, mas não deu tempo de falar com ela pois logo todos entraram na sala e ela foi também.

[ ... ]

𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙩𝙚𝙢𝙥𝙤 𝙖𝙘𝙖𝙗𝙖𝙧 ⏳ • konaiOnde histórias criam vida. Descubra agora