catorze

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— Então até terça? - Vivian pergunta abrindo a porta.
— Até.

Violetta não estava ali, então deduzi que não tinha acabado. Sentei no sofá e peguei meu celular no bolso, então enviei uma solicitação para seguir o perfil dela no Instagram, já que era privado. Passados mais ou menos dez minutos, a porta da sala do doutor Roger se abre e ele aparece, sendo seguido por ela. Ele me olhou e fez um gesto com a cabeça para cumprimentar e eu retribuí e, só então olhei nos olhos dela e vi que ela tinha chorado.

— Até semana que vem - Ele diz.
— Até - Fala sem ânimo - Vamos, João?
— Vamos - Me levanto - Tá tudo bem?
— Tá - Sorri fraco - Tô com fome, vamos logo.
— O que aconteceu? - Pergunto enquanto seguimos até a porta.
— Sigilo médico e paciente - Fala rindo - Não foi nada, sério.
— Então porque você tava chorando?
— Você esqueceu que eu sou chorona? - Me olha e sorri - Tá tudo bem, mas e aí, como foi a sua consulta?
— Normal - Digo soltando a minha bicicleta da corrente.
— E vocês falaram sobre o que? - Pergunta enquanto faz o mesmo com a dela.
— Sigilo médico e paciente - Falo e nós rimos - Ela queria saber sobre meu sono, quer que minha mãe venha na próxima consulta pra receitar um remédio pra dormir.
— Essa cretina nunca me passou um remédio pra dormir, só me enchia de Menelat.
— Que remédio é esse? - Pergunto enquanto empurravámos as bicicletas até o outro lado da rua.
Antidepressivo - Diz simples.
— Você precisou tomar antidepressivo? - A encaro.
— Ainda tomo.
— Porque não me contou?
— Achei que não era uma coisa da qual você precisasse saber, sei lá.
— Seu diagnóstico foi ...
Transtorno distímico - Encosta a bicicleta no poste - Depressão média com longa duração.
— A minha é Unipolar - Digo rapidamente.
— Você teve diagnóstico também? - Sinto ela me olhar.
— Sim, mas a minha nem se compara a sua.
— Não tem nada disso, depressão é depressão, não importa o grau.
— Eu sei, mas sei lá - Coloco minha bicicleta ao lado da dela.
— Você toma algum remédio?
— Não, não posso.
— Não me diga que as três vezes que você tentou...
Foram com remédios - Digo simples - Por isso a psiquiatra e não uma psicóloga.

Ela pega na minha mão e aperta firme, então nos olhamos e sorrimos um pro outro. Entramos na barraquinha e nos sentamos, então logo um garoto se aproximou e pelo jeito que a Violetta ficou, eu deduzi que aquele era o cara de quem ela falou mais cedo.

— Boa tarde - Diz colocando dois cardápios na mesa - Eai Tatá.
— Oi Edu - Sorri pra ele.
— Podem ficar a vontade, já volto pra retirar o pedido - Diz e vira as costas em direção ao balcão.
— Tatá? - A encaro.
— Todo mundo na escola me chama assim - Diz olhando o cardápio.
— Porque? - Faço o mesmo.
— Violettatá - Da ênfase nas últimas sílabas - Ninguém mais me chama de Violetta.
— Gosto mais de te chamar de Violetta do que de Maria - Digo e nós rimos.
— Então me chama de outra coisa - Diz simples.
— Não vou te chamar de Tatá.
— Tá bom - Ri - Só na escola me chamam assim.
— E seu pai te chama de que?
— Filha, princesa, linda, irresponsável, sem noção ... Essas coisas assim - Responde e nós rimos, então o garoto volta.
— Já escolheram?
— Eu quero um pastel de carne com queijo, milho e azeitona.
— Eu quero um de frango com catupiry.
— E pra beber?
— Escolhe você - Digo quando Violetta me olha.
— Guaraná antártica, pode ser?
— Pode - Concordo.
— Quinze minutos e tá pronto - Diz - Mais alguma coisa?
— Só isso mesmo - Ela responde.
— Beleza - Sorri pra ela - Gostei do seu cabelo assim.
— Ah, valeu - Responde tímida.
— Tá, então... Licença.

Ele se afastou e ela encarou até ele chegar ao balcão, então apoiou os cotovelos na mesa e sorriu boba pra pra mim, o que me fez rir.

— Eu gosto mais do seu cabelo cacheado - Digo simples.
— Não é feio?
— Pra mim, não - Falo - Acho diferente das outras, liso é tão... Comum. Não é que é feio, tem umas minas que ficam gatas de cabelo liso, mas sei lá.
— Eu fico feia?
— Não é isso, aí mano, nem sei o que tô falando, o cabelo é seu, cê sabe o que faz.
— Eu gosto de saber sua opinião, é importante pra mim.
— A opinião do Edu também, né?
— Tá com ciúmes? - Ri.
— Não, nada a ver, mas cê ficou toda boba quando ele disse que gostou do seu cabelo assim.
— Foi um elogio, elogios deixam qualquer um bobo, não importa de quem seja.
— Então se eu dissesse que gostei do seu cabelo assim, você teria gostado de ouvir?
— Sim. Eu gostei de saber que você gosta do meu cabelo natural, eu acho feio, mas tô feliz que alguém acha bonito.
É lindo - Sorrio e ela faz o mesmo.

[ ... ]

𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙩𝙚𝙢𝙥𝙤 𝙖𝙘𝙖𝙗𝙖𝙧 ⏳ • konaiOnde histórias criam vida. Descubra agora