Capítulo 4

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Ando apressada pelas ruas principais de Los Angeles enquanto tento a todo custo acertar o número de Ana, quero lhe contar a nova novidade mas meus planos são interrompidos quando alguém esbarra em mim e o copo de café dessa pessoa é derramado em ambos.

-Qual o seu problema cara! Não sabe olhar por onde anda não!-Exclamo puta da vida ao ver minha roupa toda suja de café.

-Eu que te pergunto isso sua maluca!-Levanto meu olhar mais brava do que nunca para o ser que acabou de me chamar de maluca e nossa... Que homem lindo, gzuiz que olhos azuis são esses e essa cicatriz que o deixa com a aparência de cara mau... Júlia foco! Ele é bonito mas te chamou de maluca.

-Escuta aqui quem você pensa que é pra me chamar de maluca! Tá precisando de um óculos pra conseguir ver claramente por onde anda seu babaca!-Digo andando puta da vida para o meu destino que é um ponto de ônibus ignorando totalmente o bonitão mas quando estou passando por ele sinto uma mão em meu braço e meu corpo se enrijecer enquanto meu coração acelera tanto pela adrenalina quanto pelo medo.

-Pra um serzinho do seu tamanho até que você é bem bravinha.-Diz o homem bonitão/idiota/babaca fazendo com que meu corpo lance um delicioso arrepio desconhecido por mim.

-Vai se foder imbecil, babaca!-Exclamo puxando meu braço de sua mão e ao ver que já estou em uma boa distância, olho para trás e o pego me encarando com uma sombrancelha arqueada e antes que eu possa pensar aponto meu dedo do meio para ele que fecha a cara para mim novamente. Babaca!

Peter onn...

Continuo encarando a pequena mulata de longos cabelos cacheados enquanto um misto de emoções passam por mim, raiva, indignação e um leve tesão. Continuo puto da vida ao ver a audácia da pequena mulata ao apontar um dedo do meio para mim, sem perceber é claro a noção do perigo. Sigo meu caminho para meu carro enquanto lamento o estado de minhas roupas, todas sujas de café. Olho pelo retrovisor os dois carros que me seguem que são de meus dois seguranças contratados e vendo que está tudo ok sigo com mais calma para casa enquanto paro para repensar na situação inusitada de hoje, aqueles pequenos olhos castanhos estreitos para mim me fulminando, ela é realmente uma menina muito linda, respiro fundo enquanto tento controlar essa súbita atração ao lembrar-me de seu belo corpo e seus longos e rebeldes cachos.

-Olhe para você, parece um adolescente olhando um rabo de saia pela primeira vez, patético.-Murmuro para mim mesmo ao observar meus olhos no retrovisor do carro. Nenhuma mulher em sã consciência iria querer se relacionar comigo, e quando quisessem, seria apenas pela fama ou o meu dinheiro, afinal sempre foi assim, por que que agora seria diferente? A resposta é, não seria.
  Desço de meu carro e vou rapidamente em direção a minha casa e quando entro sou recebido pelo olhar deveras surpreso de Berta minha governanta.

-Boa tarde senhor, oh meu deus o que aconteceu com sua roupa?-Diz vindo em direção a mim

-Nada de importante, conseguiu contratar alguma empregada que irá substituir a Nina?-Pergunto seguindo em direção ao meu quarto no segundo andar.

-Sim senhor, o nome dela é Julia Cooper e irá iniciar o trabalho amanhã cedo.

-Que seja, o almoço está pronto?

-Sim senhor, deseja algo a mais?

-Não Berta pode ir.

-Com licença senhor.-Diz dando meia volta e indo para o andar de baixo. Em frente ao meu quarto, respiro fundo enquanto abro a porta, me deparando com meu quarto impecavelmente arrumado. Pego outra peça de roupa e vou para o banheiro, após ligar a água e me enfiar dentro do chuveiro, volto a pensar na pequena mulata de hoje de tarde. Patético, afinal eu provavelmente nunca mais irei voltar a vê-la.

Julia onn...

-Como está indo aí na nova cidade amiga?-Pergunta Ana e sorrio enquanto me sento no sofá e tiro meus sapatos.

-Olha admito que estou um pouquinho nervosa porque tudo aqui é muito novo, mas estou feliz porque consegui o emprego em uma casa enorme.

-Fico muito feliz com você amiga! Ah antes que eu me esqueça, sua mãe esteve aqui em casa hoje perguntando por você, disse que ontem vocês haviam brigado e que você resolveu sair de casa, coitadinha ela parecia super arrependida.-Diz Ana fazendo com que meu corpo se enrijeça. Tento controlar meu ódio ao ouvir falar daquele mulher e o quão cínica e cretina ela é. Desde que todo o meu inferno pessoal começou ela e meu padrasto sempre foram muito bons em disfarçar o quão cruéis eles eram. Na frente de todos eu era a filha e enteada perfeita que tinha os melhores pais do mundo.-Amiga? Você está aí?-Pergunta Ana fazendo com que eu volte a focar no presente

-Ana eu não quero que ela ou meu padrasto saibam aonde eu moro está bem? Por favor me promete que não irá contar a eles onde eu estou.

-Prometo amiga mas pra ti me pedir algo do tipo é porque a briga de vocês duas realmente foi bem feia não é mesmo? Você parecia bem abalada e meio desesperada, quer me contar o por que?-Pergunta Ana com a voz mais calma

-Não vale a pena tocar no assunto amiga, tenho que ir tomar um banho e resolver algumas outras coisas, nos falamos mais tarde tchau Ana.

-Tchau Ju e não esqueça de me dar notícias.

-Pode deixar, tchau.-Desligo o telefone e quando o coloco no sofá, me sento encolhida no chão e me ponho a chorar, de raiva de ódio por tudo o que me fizeram e me sinto sufocada pela sensação de impotência que sinto por não poder contar a todos o que me aconteceu durante todos esses anos, eu só queria poder dizer a todos o inferno que sofri durante todos esses anos mas não me dariam ouvidos, diriam que é minha culpa, me julgariam dizendo sobre o por que não procurei a polícia antes e etc já que nesse mundo a culpa sempre é da vítima e como se não fosse ruim somente esse fato, ainda tem outros fatos como eu ser uma mulher negra, pois apesar de dizerem que não existe mais racismo e muito menos o machismo em pleno século vinte e um, lá no fundo sabemos que isso não é verdade. Somente quem realmente já passou por isso ou por algo semelhante que poderá me entender, que não me julgará, pois também já se sentiram assim, sem voz, e sem o direito de reclamar afinal "andando com essa roupa estava pedindo para isso acontecer" "Com essa atitude de mulher qualquer estava pedindo" com essas e outras lamentações me encontro chorando no sofá da sala enquanto rezo para que meu futuro seja melhor.

O Delegado Onde histórias criam vida. Descubra agora