Capítulo 17

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Me levanto sentindo uma dor de cabeça muito forte, parece até que um trem desgovernado passou por cima da minha cabeça. Olhando o despertador estrondoso resmungo enquanto rolo para o outro lado da cama e estranho ao respirar fundo e sentir o cheiro de um perfume desconhecido porém familiar. Tento puxar na minha mente alguma lembrança sobre eu ter usado algum perfume mas nada vem em mente e por conta da dor de cabeça aguda, desisto. Me levanto da cama esfregando meus braços com frio, não me lembro de ter ligado o ar condicionado também. Vou em direção ao espelho e fico espantada com o estado do meu rosto, meus olhos estão inchados e levemente avermelhados, como se eu tivesse chorado muito, dou de ombros enquanto vou em direção as minhas roupas pegar meu uniforme. Deve ter sido por conta do dia estressante e constrangedor que tive ontem, qualquer um no meu lugar teria chorado também. Depois de tomar banho, meus remédios e arrumado meus cachos em um rabo de cavalo, desço até a cozinha para tomar um rápido café, uma olhada rápida em meu telefone me diz que tenho somente pouco mais de meia hora pra começar meu expediente. Sorrio para Berta que se encontra sentada em um dos balcões da cozinha e vendo seu olhar de pena, me adianto.

-So quero esquecer do que aconteceu, mudando de assunto, onde está a senhorita Rebecca?-Pergunto pegando um copo de café, umas frutas e um pedaço de bolo.

-Tinha ido dormir na casa de uma amiga dela, ela iria te chamar mas você estava dormindo e precisava descansar.

-Entendo.-Digo tomando meu café enquanto ficamos em um silêncio confortável que é quebrado quando vejo a velha chata.

-Bom dia Berta.-Diz me ignorando, fazendo com que eu revire meus olhos.

-Bom dia, por que não cumprimenta a Júlia também Clotilde?

-Deixa ela Berta, entendo que talvez não tenham ensinado bons modos pra ela na época dela e se provavelmente ensinaram, ela já deve ter se esquecido já que sua infância já se foi faz décadas se não séculos.-Digo encarando a véia chata enquanto escuto Berta gargalhar alto.

-Ora sua... Pirralha!-Diz me encarando com uma expressão assustadora.

-Tia? O que aconteceu? Por que a senhora está tão brava assim?-Pergunta uma moça correndo em direção a véia. Com um olhar interrogativo, encaro Berta.

-Ela é a Anne, a nova cozinheira que irá substituir a antiga e também, sobrinha da Clotilde.-Diz e curiosa encaro a mulher bonita que não tem nada haver com essa véia.

-Ola Anne, muito prazer me chamo Julia.-Digo sorrindo.

-E quem te perguntou alguma coisa, empregadinha.- Diz me olhando de cima a baixo com desgosto enquanto arqueio minha sombrancelha.

-Pelo visto é educadinha igual a esse monumento histórico.-Digo com sarcasmo.

-Iih garota se toca! Não se mete onde não é chamada e nem tente fazer amizade comigo porque de você só quero distância.

-Nooooossa ok madame rainha da cocada preta, última bolacha do pacote e dona da porra toda. Só estava tentando ser gentil sua mal educada, mas tudo bem, não vou perder meu tempo discutindo com uma pessoa com uma massa cinzenta no lugar do cérebro igual a você.-Digo sorrindo enquanto como vendo sua cara ficando vermelha de raiva.

-Não vale a pena gastar sua saliva e beleza com uma coisinha tão insignificante igual essa menina minha sobrinha, venha me ajude aqui na cozinha.

-Veia do capeta, filhote de satanás.-Digo em português. Revirando os olhos as duas se viram e vão até a dispensa da cozinha e quando estamos a sós, curiosa Berta me pergunta o que eu disse e quando falo para ela em inglês ela começa a rir muito.

-Você não tem jeito mesmo não é menina. Só tente evitar essas briguinhas bestas perto do patrão já que ele não tem o mesmo senso de humor que eu.

-Obrigada pelo conselho Berta.-Ao terminar de tomar meu café, coloco tudo na pia e decido não lavar só para poder dar mais trabalho para as duas ariranhas. Vendo Berta ainda tomar café a pergunto.-Sabe me dizer se o patrão já saiu? Preciso começar limpando o seu quarto.

-Olha eu não tenho certeza mas eu acho que ele já saiu sim, por via das dúvidas bata na porta.

-Ok Berta obrigada.-Digo seguindo para a área da limpeza. Chegando lá pego todos os materiais necessários e já em frente ao seu quarto, bato algumas vezes na porta e sem nenhuma resposta resolvo entrar. Seu quarto se encontra quase da mesma maneira que o deixei ontem, exceto pela cama bagunçada e alguns livros fora do lugar. Coloco meus fones no ouvido e o celular no bolso e começo a cantarolar a música em espanhol que toca enquanto danço feito minhoca e retiro um por um dos livros os limpando com cuidado. Avalio cada um de seus livros enquanto os limpos e me vejo encantada por alguns títulos. Quando pequena sempre gostei de ler e sempre que podia, pegava alguns na biblioteca escassa da escola. Ao ouvir o som de notificação do meu telefone, abaixo o volume da música para poder ouvir a mensagem de áudio de minha amiga mas antes que possa o ouvir, escuto uma voz atrás de mim que me faz levar um susto e deixar o livro cair no chão.

-O que você está fazendo no meu quarto? Não sabe bater antes de entrar? A Berta não te avisou que você não deve entrar em meu quarto caso eu ainda esteja nele?-Pergunta meu chefe com a típica arrogância dele.

-Bom em relação ao que estou fazendo no seu quarto acho que está mais que obvio.-Digo apontando para os materiais de limpeza.-Bati na sua porta mas não ouvi nada então resolvi entrar. Desculpe pelo livro, acho que não o danificou.-Digo o pegando e o avaliando.-Tudo certinho não o danificou mesmo.-Digo o encarando pela primeira vez me arrependendo logo em seguida ao vê-lo somente com uma toalha amarrada em sua cintura. Ele me encara de braços cruzados com um olhar questionador e fico sem fala e travada enquanto meus olhos não conseguem desviar da gotinha de água que está descendo em seu peito, agora em sua barriga e ah sim, foi pra toalha. Volto de volta pra realidade quando escuto um pigarrear e ao olhar seu rosto, vejo um vislumbre de um sorriso. Meu corpo reage de uma maneira nunca sentida por mim antes o que de certa forma me assusta, sinto meus seios pesados enquanto o desconforto no pé da barriga e entre minhas pernas aumenta ao encarar seu rosto que exala perigo. Ah droga não vá por aí! Pense com a cabeça de cima não a de baixo, que merda, nem pau eu tenho, mas cê entendeu né? Penso comigo mesma enquanto me sinto ridícula ao cair na real de que já estou a muito tempo o encarando.

-Er, você quer que eu dê lincença né?-Pergunto me sentindo mais idiota ainda enquanto tenho uma enorme vontade de me socar. Com um olhar de deboche ele responde.

-Mas é claro, se quiser tirar uma foto pra ficar encarando depois como está agora tudo bem por mim.-Diz sorrindo de lado enquanto silenciosamente parece debochar muito de minha cara.-Aconselho você a sair de meu quarto bem rápido menininha, esse olhar que está lançando em direção ao meu corpo não está passando despercebido e o lobo mau aqui pode ficar com fome e querer comer por longas horas sua menininha.-Diz em um tom rouco enquanto o azul de seus olhos parecem ficar mais escuros e droga, sinto uma imensa dificuldade em engolir minha saliva por conta de todas as intensas sensações que meu corpo está sentindo. Merda, merda, merda, mil vezes merda. Andando com dificuldades, saio de seu quarto e vou para a cozinha beber água. Respiro fundo enquanto tento acalmar meu corpo. Que caralhos está acontecendo comigo?

O Delegado Onde histórias criam vida. Descubra agora