Capítulo 15

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Encolhida dentro do carro, encaro a expressão séria de Peter enquanto meu coração ainda está acelerado por conta de toda a situação.

-Obrigada por ter me defendido.-Digo com a voz embargada. Ele me encara com um ódio descomunal, que me deixa assustada por um momento.-Eu já sei eu já sei, é pra eu pegar minhas coisas e acertar as contas por que estou demitida.-Digo com um nó na garganta.

-Do que você está falando? Eu não vou demitir você.-Diz me olhando confuso.

-Eu entendo que só está tentando amenizar a situação por conta de todo esse escândalo que rolou e não te culpo, sei que tem que cuidar de sua imagem e qu-

-Foda-se a porra da minha imagem!-Diz batendo no volante o que faz com que eu pule do assento.-Desculpe, eu só estou muito chateado com toda essa situação.-Diz me encarando agora mais calmo.-Quero que me escute, vamos a um hospital fazer um corpo de delito pra que possamos ter mais uma prova pra poder processar esses dois.

-Apesar de tudo isso eu não quero... Eu não quero mais problemas pra mim, só quero ficar em paz.-Digo esgotada

-O caralho que você vai! Eles te maltrataram e o segurança te agrediu! Você não sabe como eu tive que pegar cada resquício de sanidade pra poder me acalmar diante daquela situação quando o que mais eu queria era fazer aqueles dois sofrerem.-Diz com um tom sombrio enquanto vejo seus olhos novamente irem pra um tom escuro o que faz com que eu me arrepie, dessa vez de medo.

-Por que? Não vale a pena afinal eles são bem de vida e apesar de o senhor ser justo, nem todos os outros são. Fora que ainda tem o fato de serem brancos e eu negra e nem um advogado eu tenho.-Digo mas me surpreendo ao vê-lo soltar uma risada irônica.

-Vai por mim, eles vão pagar muito caro por ter te maltratado dessa maneira, nenhum ser humano deveria ser tratado dessa maneira, inferno! Nem um animal deveria ser tratado assim! Em em relação a um advogado não se preocupe, eu arranjarei um para esse caso.-Diz me surpreendendo.

-Por que? Por que tanto interesse assim em mim e como sabe que eles irão pagar caro por tudo o que fizeram comigo?-Pergunto recebendo um silêncio dentro do carro que somente é quebrado quando o carro é ligado e, quando penso que ele não irá me responder ele diz.

-Porque o juiz que farei pegar esse caso é meu irmão.

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Peter onn...

Não sei como consegui me controlar diante daquela situação quando a minha vontade era de somente socar a cara daqueles dois, respiro fundo tentando controlar todo esse ódio enquanto observo o belo rosto porém melancólico de minha menina. Seu olhar vago faz com que eu me questione sobre o passado dela. Lembro-me quando a olhei nos olhos, o quão tristes eles eram apesar de cheios de vida, aquilo fez com que minha curiosidade, junto de meu interesse, aumentassem apesar de eu sentir que, seja qual for o seu passado, não é nada bom, temo perder o controle caso descubra, sei que algo muito ruim aconteceu mas duvido muito que ela iria me contar.
Chegando ao hospital, a levo até a recepção e após contar toda a situação vejo ela receber um olhar de pena da recepcionista que faz com que ela fique desconfortável, coloco meu braço em sua cintura e a trago para perto de mim por conta da necessidade de mantê-la por perto que é mais forte que eu. A levo até a sala onde a pessoa responsável nos espera e receosa, a vejo entrar na sala com o homem. Observo o extenso corredor vazio e ainda de olho na porta que ela entrou, disco o número de meu irmão que no segundo toque atende.

-Hélio.-Diz em um tom frio.

-Preciso de um favor seu em um caso.

-Do que se trata?

-Vitima de agressão e racismo, foi humilhada em público.-Digo curto e grosso.

-E por que eu deveria pegar esse caso? Parece bem simples para mim e qualquer outro juiz poderia pegá-lo.-Diz me fazendo respirar fundo

-Eu preciso que seja você.-Digo levemente irritado enquanto o vejo soltar uma risadinha irônica, típica dele.

-Pra você me pedir um favor tão simples como esse com certeza é porque você tem algum interesse na garota.-Diz com um leve deboche e divertimento.

-Vai ou não vai pegar o caso porra!

-Acalme-se irmãozinho, está bem, irei pegá-lo mas saiba que eu serei imparcial como sempre.

-Não espero nada menos vindo de você. Obrigado, vou te visitar nos próximos dias pra que possa te passar tudo e tomarmos umas cervejas, já faz uns bons 5 meses que não nos vemos.

-Ok até lá, tenho que ir, tchau.- Diz logo em seguida desligando o telefone, apesar de frio o filho da puta é muito bom no que faz, é considerado um dos melhores juízes dos Estados Unidos o que faz com que ele tenha muitos inimigos e precise de segurança vinte e quatro horas por dia e assim como eu, ele é brutalmente honesto, o destino de nós dois fez com que fôssemos quem somos, vagando em pensamentos sobre um passado que eu pagaria cada centavo que tenho pra poder esquecer pra ter ao menos uma noite de sono completa, mal percebo quando sou chamado.

-Sim.-Digo me levantando.-É grave o ferimento dela no braço? O filho da puta a machucou em mais algum lugar?-Pergunto ao ver a expressão preocupada do médico.

-Não, ele não a machucou em mais nenhum local e o ferimento em seu braço deve passar nos próximos dias já que a dei os medicamentos necessários.-Diz fazendo com que eu me acalme um pouco.-No entanto, ao fazer a análise de seu corpo, encontrei várias marcas.-Diz fazendo com que eu estreite meus olhos e fique desconfiado.

-Marcas de que exatamente doutor?

-De queimaduras, feitas provavelmente por cigarros, pequenas cicatrizes principalmente em suas costas e, a julgar por alguns sinais em sua barriga, essa menina já esteve grávida-Diz me fazendo ficar com o coração acelerado.-O meu palpite é de que, a julgar pelas marcas em seu corpo, ela foi vítima de algum tipo de violência.-Diz fazendo com meu meu ódio cresça ainda mais enquanto tenho mais e mais certeza de que irei encontrar a pessoa culpada e a farei pagar caro, nem que seja com seu próprio sangue.

O Delegado Onde histórias criam vida. Descubra agora