Lembro-me como se fosse hoje, da primeira vez que tudo foi arrancado de mim. O amor e o respeito que eu tinha por minha mãe apesar de tudo. Cresci sem um pai pois quando soube de minha existência, sumiu pelo mundo. Aos quatro anos de idade minha mãe se casou novamente com meu padrasto, eles se conheceram em uma festa quando morávamos no Brasil, depois de alguns meses namorando resolveram se casar e nos mudamos para os Estados Unidos, eu me sentia tão feliz, teria finalmente um pai para me ajudar e me auxiliar em tudo, bom, eu era realmente ingênua ao ter esse pensamento porque, ele não gostava de mim. Ele me odiava por eu não ser sua filha legítima e me odiava mais ainda por ser a culpada de minha mãe não poder ter mais filhos por conta de diversas complicações que ela teve no parto. Já a minha mãe bem, ela estava cega de amor pelo meu padrasto e por conta disso começou a me odiar também, até aí tudo bem, com o tempo superariam e seríamos uma família feliz, foi ao que os seis anos de idade, dois anos depois de se casarem, que eu pensava depois de cada surra sem motivo que eu levava de minha mãe ou padrasto. "Eles só estão tentando se acostumar com essa realidade" foi o que eu pensava toda vez que chorava e chorava por minhas costas ou minhas pernas estarem machucadas demais ao ponto de eu não conseguir me levantar, mas a cada dia que passava parecia piorar, os anos continuaram passando e começou a haver brigas e brigas entre minha mãe e meu padrasto, diversas delas por conta de traições dele. Isso durou por mais quatro anos e seguia sempre o mesmo ritmo. Eles brigavam, descontavam em mim dizendo que tudo isso era minha culpa e que seriam mais felizes se tivessem tido outros filhos, que eu fui um erro e etc e, depois de tudo isso eles se reconciliavam já que minha mãe não queria se separar dele e disse que faria e daria qualquer coisa para ele, bem, eu não esperava que esse termo de "qualquer coisa" estava incluído a mim também. Os anos se passaram e com 11 anos minha mãe começou a me colocar trabalhar, eu mal tinha tempo de estudar pois sempre ficava sobrecarregada do emprego, no meu primeiro emprego de doméstica, no final de semana sempre pegavam todo o meu dinheiro dizendo que era mais que minha obrigação. O lado bom de tudo isso era que as agressões pararam, parte por conta do que meus patrões iriam pensar ou perceber ao me verem machucada e parte porque eu passava praticamente o dia inteiro fora, de manhã ia pra escola e de tarde até às seis da tarde eu ficava na casa de meus patrões trabalhando e na pequena folga que tinha, eu estudava e revisava tudo o que havia aprendido na escola. Com o tempo comecei a ter muito carinho pela neta de meus patrões, a Ana, ela era da minha idade e com o passar do tempo nos tornamos muito amigas. Ao verem o meu grande esforço dia após dia, decidiram aumentar o meu salário com 100 dólares a mais, só que com medo de minha mãe e padrasto descobrirem, pedi que mês após mês eles me dessem somente o dinheiro que eu geralmente recebia e o restante, guardasse para caso eu realmente precisasse futuramente. Os anos foram se passando e com eles, iria recebendo pequenos aumentos por todo o meu esforço e dedicação e graças a eles que atenderam ao meu pedido, pude ter uma quantia muito boa, essa quantia na qual me ajudaria muito mais tarde. Com treze anos de idade, quando tudo parecia estar se encaixando e melhorando para mim, mal sabia eu que meu padrasto começaria a me olhar com outros olhos por conta de eu estar virando mocinha e desenvolvendo o corpo, lembro-me da primeira vez em que ele pegou em um de meus seios. Eu fiquei assustada e completamente paralisada, eu não sabia o que fazer e a quem recorrer, me senti muito mal com isso e comecei a chorar copiosamente, o medo fez com que eu me calasse por sentir que a culpa era minha, que todos me julgariam e que minha mãe não suportaria mais olhar em minha cara, foi por isso que tomei a primeira pior decisão de minha vida, me calar. Eu achava que iriam me julgar já que quase todos sempre fizeram isso, na escola eu era motivo de chacota por ser negra com os cabelos cacheados e ainda tinha o fato de eu ser brasileira e na época eu ainda não sabia falar tão bem o inglês, foi uma época bem terrível. Sofria tantos apelidos maldosos vindo das partes deles, mas eu não tinha culpa, eu tinha nascido assim e essa era eu, esse foi um dos meus piores erros, o meu segundo pior erro foi com certeza, contar pra minha mãe quando meu padrasto tentou me agarrar a força e eu consegui fugir para fora de casa, vivíamos em uma casa boa até que era de meu padrasto, eu achei que como ela era minha mãe, ela viria ao meu socorro, que ela me protegeria, que ela ficaria ao meu lado, que ingênua eu fui mais uma vez. Ao terminar de contar o que recebi foi uma dolorosa bofetada no rosto seguida de diversos xingamentos do mais baixo escalão possível, ela e meu padrasto brigaram feio mas dessa vez foi diferente, o meu... O meu padrasto queria se separar de minha mãe e ela em seu desespero doentio disse que concordaria com tudo o que ele quisesse mas diferente das outras vezes, ele me quis... Aquele maldito! Ele... Ele quis o meu corpo e eu não pude... não pude me defender pois minha mãe me agarrou com força enquanto ele rasgava as minhas poucas roupinhas que eu tinha e, naquele dia um dos meus piores pesadelos havia virado realidade. Meu padrasto tirou o restante de inocência que restava em mim, eu gritava por minha mãe e por ajuda mas ela me segurava cada vez mais e mais forte enquanto ele... Tirava a minha pureza. Depois daquela noite eu nunca mais fui a mesma, o meu corpinho, ele estava todo dolorido, eu sentia a minha parte íntima completamente dolorida e só conseguia chorar e chorar enquanto esfregava cada vez mais e mais o meu corpo na esperança de tirar aquela terrível lembrança.
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O Delegado
RomansaAgradeço imensamente a @ullyfigueira por ter feito essa maravilhosa capa para meu novo livro ❣️❣️ "Você será a minha loucura meu pequeno e doce pecado..." Peter e Julia, duas pessoas completamente diferentes, de mundos diferentes, mas com passados...