Capítulo 48

1.5K 283 87
                                    

— Ai! Fico tão feliz por termos comprados essas roupinhas verdes e amarelas, assim que soubermos o sexo do bebê podemos comprar rosas ou azuis  — minha mãe falava com empolgação, enquanto segurava com alegria aqueles pedacinhos de panos tão bem costurados. 

Depois daquele meu encontro com o Senhor Deus, a vida pareceu fazer sentindo para mim novamente. Não, nem tudo virou flores e eu ainda carregava meus medos sobre o futuro, mas agora sentia que não precisava enfrentar tudo sozinha. E o terror dos meus pecados, eu creio sim, terem sidos apagados. Porém, todas as noites, antes de adormecer, eu ainda olhava para aquela aliança dourada em meu dedo e suspirava fundo. Desde o incidente, ainda não havia me encontrado com James, e, por incrível que pareça, nem sabia se queria mesmo encontrá-lo de novo. Mas a aliança estava ali para me lembrar de que ele ainda era o meu marido. Lembro-me de chorar amargamente por essa escolha. Quando me dei conta com quem estava casada, eu quis sumir no mundo.

— Amber, esta aí? — Despertei do meu leve devaneio com os dedos de mamãe estalando em frente ao meu rosto. Sua testa estava franzida e os olhos apertados queriam dizer algo que eu não soube decifrar. — O que tem pensado tanto? — ela voltou a sua posição normal e tornou-se para as roupinhas que tínhamos espalhado pelo tapete da sala. — Eu tenho estado muito feliz porque a tristeza dissipou mais do seu rosto e resolveu cuidar melhor de sua gravidez, mas seus pensamentos quase sempre lhe roubam a atenção.

— Tenho pensado... — Olhei de um lado para o outro. Eu queria achar as palavras certas, mas não sabia o quê exatamente. — Tenho pensado... Ah! — Murchei os ombros, desistindo de querer expressar algo. — Eu ainda não consigo descrever meus sentimentos.

— Tudo bem, querida — Mamãe tocou minha mão e deu leves batidinhas, me senti mais confortável naquele momento. — Deus vai ajudar a tudo se assentar no lugar.

Eu assenti. Minha esperança era Ele mesmo.

De repente, ouvi meu celular ressoar, apesar de ser som baixo por causa da distância, sabia que era ele. Eu levantei-me do chão da sala e disse que iria até ao quarto buscá-lo, já que era lá que havia o esquecido.

— Logo volto. — Levantei com um pouco de dificuldade. Daqui um pouco não poderia mais me dar o luxo de sentar no chão. — Pode ser a Hanna, ela ficou de me ligar agora a tarde.

— Está bem. Eu vou arrumando as coisas aqui e... paquerando também. — Mamãe tinha um sorriso largo no rosto e os olhos brilhavam ao poder escolher tantas roupinhas. Eu podia demorar o tempo que fosse e ela nem iria notar.

Ao subir as escadas, eu tive uma leve tontura no caminho, fazendo-me parar e segurar no corrimão para respirar e esperar passar. Agradeci por ter durado alguns minutos somente, então voltei a subir. Entrei no meu aposento e fui até o celular que estava em cima da mesinha perto da janela. Ao averiguar qual era o número que havia me ligado, percebi ser desconhecido. Sem demora, ouvi o som da porta se fechando e dei um pequeno pulo ao notar que havia mais alguém naquele ambiente.

Meu coração acelerou, como as rodas de um trem nos trilhos, ao constatar que era James bem ali na minha frente. Considerei que entrou pela minha varanda, como da primeira vez. Ele estava ali e balançava um celular nas mãos, me mostrando que a ligação era dele. Apoiei minha mão na mesa, pois minhas pernas enfraqueceram e a respiração pareceu faltar, uma náusea tomou conta de mim novamente e eu sentia que iria desfalecer ali mesmo. Ele notou minha fraqueza e tentou se aproximar para ajudar de algum jeito, mas eu estendi a mão e balancei a cabeça freneticamente para se manter longe de mim. Não, eu não conseguia ter nenhuma aproximação.

— Não, não me toque. Não chegue perto. — Minha voz estava tremula e a meu espírito parecia querer sair de mim.

“Oh, Deus, me ajude! Me ajude, por favor!”, clamei.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora