Quando desci do carro de James, levei algum tempo até compreender bem o que estava acontecendo.
Sem me dizer o motivo, o dono do morro estava me levando para uma festa em um grande estabelecimento. Mas não uma festa comum. Tratava-se da inauguração de um novo projeto social e o público alvo da comemoração eram crianças de todas as idades. A maioria estava acompanhada de seus pais e, apesar de aparentarem, pelo modo de vestir, serem carentes, pareciam bem felizes com todo o entretenimento e comida a seu dispor.
Quando me voltei para Céu com uma expressão confusa, ele sorriu e achegou-se a mim, fazendo um sinal com a cabeça me pedindo para acompanhá-lo.
— O que é tudo isso, Céu? — questionei enforçando-me para compreender as razões dele em ter me trazido ao outro lado da cidade apenas para ver crianças correndo de um lado para o outro segurando saquinhos de pipoca ou algodão doce.
— Eu queria te provar algo, Amber. — Ele me encarou e enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans.
Ergui uma sobrancelha, sem conseguir compreender o ponto dele.
— Não me lembro de ter pedido provas de alguma coisa. — Cocei a cabeça.
— Mesmo assim. — Ele riu um pouco e voltou sua atenção ao prédio inaugurado na direção do qual caminhávamos. — Está vendo essa estrutura gigantesca e essas centenas de crianças?
— Sim, é claro! Quem não veria? É enorme!Toma mais de um quarteirão. É algo social, não é? Do que se trata? — deixei a empolgação repentina tomar conta de mim.
— É um projeto desenvolvido por mim, cujo objetivo é alfabetizar e capacitar crianças e jovens desprovidos de renda a terem uma oportunidade de serem introduzidos na sociedade. Além disso, serão oferecidos muitos cursos variados tais como música, artes plásticas e cênicas, fotografia e muito mais — explicou e me lançou um olhar sereno, contando a parte mais impressionante: — Financiei cada centavo com o dinheiro que meu irmão julga ser apenas para sustentar meus caprichos.
— Céu, isso é incrível! — Toquei o braço dele ainda espantada com suas atitudes. — Você está dando uma chance dessas crianças terem um futuro digno longe de toda a miséria. Por que não implantou um desses no Morro da Luz?
Ele engoliu em seco e soltou o ar devagar.
— Ali eu sustento muitas famílias, cuido das escolas, dos postos de saúde, mas não posso trazer algo dessa proporção. Muitos ainda não confiam no meu jeito de liderar as coisas, graças ao meu falecido pai. Eles poderiam ver com maus olhos a minha generosidade, mas quem sabe com o tempo eu não faça algo assim — disse um pouco mais cauteloso. — Ainda assim o que oprime ao pobre, insulta aquele que o criou e eu vi pelo exemplo do meu avô o quanto Deus honra o que se compadece do necessitado. Isso é dito nas Escrituras e me empenho por praticar também. Em provérbios, Salomão fala: "como leão que ruge e urso que ataca, assim é o perverso que domina sobre um povo pobre", não quero ser esse perverso. Quero ajudar os pobres.
Meu coração saltou por ouvir mais de um versículo sendo pronunciado da boca de James. Meu espanto foi nítido e ele riu disso.
— O que foi? O dono do morro não pode ter lido a bíblia toda? Ou ter na mente decorado muitos versículos? Não precisa se assustar, assim você me ofende.
Bem, tendo em vista que eu estava em minha quarta tentativa de ler a bíblia toda pela primeira vez, me esforçando para não desistir nas genealogias sim, isso era motivo de grande espanto e vergonha para mim.
— Não me culpe, você é uma caixinha de surpresas, James — murmurei ainda refletindo sobre a minha vida cristã.
Ele percebeu meu tom de tristeza e, a fim de me consolar, segurou minha mão.
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O dono do morro da Luz e a missionária cristã
HumorATENÇÃO: o livro é humor pastelão, uma sátira que brinca com os livros com essa temática, mas com uma mensagem importante no fim - bem diferente do que vocês estão acostumados a ler por aí! Tudo foi cuidadosamente pensado para fazer zoeira! Das mesm...