Capítulo 15

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Depois do lanche que tivemos na casa de James, voltamos ao nosso evangelismo. Procurávamos conversar com as pessoas sobre a vida em geral e alguns pormenores. Alguns ainda eram duvidosos sobre nossas intenções, mas eu não os julgo, para quem sempre viveu à sombra do medo e da morte, confiar em alguém podia custar sua vida.

Já era tarde quando descemos do morro e seguiamos em direção às nossas casas. Todos nós morávamos no mesmo bairro, o que era legal. Então, deixamos Kim primeiro e, Noah me acompanharia à minha residência, contudo eu queria andar um pouco sozinha, precisava por minha cabeça no lugar e pensar sobre todos aqueles sentimentos que estavam fluindo, sem ao menos eu poder controlar.

— Não acho uma boa ideia — Noah disse. — Deixa eu te acompanhar.

— Não é preciso, Noah. Eu moro na próxima rua. — Toquei no ombro dele a fim de lhe dar a certeza que tudo ficaria bem. — Vai pra casa e descansa, pois amanhã teremos um dia cheio novamente.

Ele com condescendência aceitou meu argumento.

— Vá depressa e não pare para falar com ninguém. — Ele me alertou, enfaticamente.

— Prometo, senhor Darcy! — assegurei num tom mais grave e quase batendo uma continência. — Agora pode ir! — Sorri para ele, mostrando que tua ficaria bem.

Ele se afastou de mim e caminhou rumo para o seu lar. Eu segui meu trajeto, que não era muito longe.

Em minha caminhada, pude desfrutar do vento gélido roçar sobre minha pele, divaguei pelas recordações dos meus momentos com o Céu. Ele era um homem muito carente de afeto e mal-humorado, contudo também tinha a capacidade de demostrar os belos afetos e de sua boca sair encantadoras palavras. Eu não podia negar que, de certo modo, estar perto dele mexia comigo. Mas a verdade é que eu não podia me deixar levar por sentimentos. Eu e ele nunca poderíamos dar certo. Nunca! Jamais! Nem pensar!

Ainda naquela minha guerra mental, eu olhei para diante de mim e avistei uma menininha de cabeça baixa, sentada a beira da calçada. Ela usava um vestido branco e tinha os cabelos cumpridos. Fiquei curiosa, e também receosa, mas me aproximei dela.

— Ei, criança o que você faz aqui sozinha? — perguntei, já ao lado dela. — Essa é hora de criança está em casa.

Ela aos poucos levantou a cabeça e observei que seus olhos estavam vermelhos, de tanto chorar.

— Meus pais — ela chorou mais — eles não param de brigar. Todo dia e toda hora. Não aguento mais ouvir gritos.

A voz embargada dela me compadeceu, sentei ao seu lado e acariciei suas costas. Contudo, após um tempo eu não ouvia grito de nada. Em nenhum lugar. Estava tudo como sempre esteve: uma completa calmaria.

— Você disse que seus pais brigam toda hora, mas estamos aqui sentadas e nada escutei até agora — falei, com uma pontada de desconfiança surgindo em meu coração.

A menininha olhou para mim, com muita atenção, e declarou:

— Mas, eu não moro aqui

Senti meu sangue congelar da cabeça aos pés. Quem era aquela menina? De onde ela veio?

— E de onde você é então? — indaguei, ficando em pé e me afastando dela.

Mal pude terminar de falar e um carro em alta velocidade entrou na rua a qual estávamos. Ele parou bem a nossa frente e um homem com uma máscara saiu de dentro do veículo, ordenando:

— Não grita, não esperneia e assim não te machuco, tá bom? — aquele timbre de voz era rouco.

— O que vocês querem comigo? Eu não tenho nada. Sou uma pobre estudante. — Minhas lágrimas não demoraram a descer. Meu sangue corria a todo vapor pelas minhas veias e artérias, levando o coração a bombear mais do que deveria a ponto de quase ter um infarto ali mesmo.

— Você vai servir direitinho para o que precisamos. — Ele se aproximou e sua agilidade foi tal, que antes de eu sequer me despertar para correr, já tinha sido presa nos pulsos.

— Me solta! Me solta! Ou senão eu vou gritar...

— Se gritar vai perder essa sua língua e olha — ele tirou de dentro do bolso um alicate — eu não estou brincando.

Aquele homem me jogou dentro do carro e havia mais dois bandidos lá e a garotinha. Meus olhos foram vendados e minha boca amordaçada. Meu corpo dava indícios de que desfaleceria naquele momento. "Não foi assim que eu imaginei minha morte", dizia em meus pensamentos. "Oh, Senhor!"

No percurso, eu escutava alguns sons que vinham de fora, que eram risadas, músicas e conversas, tudo isso parecia como lâminas cortando meus ouvidos.

Após uma longa viagem, o carro parou e fui tirada de dentro dele com certa violência, quase me arrastaram pelo caminho.

— Anda, garota! — a voz daquele homem me apressava.

Por fim, fui jogada ao chão frio e uma porta foi fechada. Minha venda foi removida, senti meus olhos quase serem queimados por conta da iluminação do lugar, mas assim que me acostumei com a luz, percebi dois pares de sapato diante de mim. Quando levantei os meus olhos, não acreditei no que vi.

— Você?

∆∆∆

QUEEEMMM SERÁ????

NÃO PERCA OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS, CHUCHUZINHOS!

P.W.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora