Capítulo 36:

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— Meu Deus, Hanna! Como você está linda! — exclamei assim que entrei no quarto daquela casa de fazenda onde contemplei minha irmã gêmea usando um lindo vestido branco simples e modesto e maquiagem pronta para se casar.

Eu não conseguia acreditar na maluquice que estava sendo aquele ano. Primeiro vi um simples projeto missionário transformar-se em um drama mexicano no qual eu e um dono do morro éramos os protagonistas. Depois de lutar muito contra meus sentimentos, acabei me permitindo viver uma paixão intensa que resultou não só em meu grande amor se rendendo aos caminhos do Senhor como também se rendendo a polícia depois de ter me salvado das garras do traficante mais perigoso da cidade, que, por acaso, também era irmão dele. Claro que levei muito tempo lidar com tudo isso, três meses, quinze dias e duas horas, para ser mais exata. Contudo, minha vida finalmente estava voltando aos trilhos e lavando-me para cada vez mais longe de toda a confusão na qual me meti. Embora ainda tivesse recaídas e me preocupasse com James vez ou outra, eu sequer podia expressar o quanto me sentia feliz por ter a chance de ser uma moça normal que naquela data em questão estava apenas indo ao casamento de sua irmã com seu melhor amigo.

— Amber, graças a Deus você chegou! — A noiva sorriu ao me ver, veio até mim e me abraçou. — Estou tão nervosa.

Afastei-me um pouco para observá-la e notei como a maquiagem e o penteado escolhidos deixavam-na parecia uma princesa de tão bela. E como não pareceria? Ela era Hanna da Silva e o fato de estar deslumbrante não deveria me surpreender.

— Hoje é o seu grande dia, é normal estar nervosa. — Sorri feliz e acariciei o rosto dela. — Eu queria ter vindo mais cedo para te apoiar, mas foi a tia Lúcia quem me trouxe e ela não é conhecida pela pontualidade.

— E como foi sua última semana lá? Está pronta para voltar? Todos realmente sentiram muito sua falta por aqui — ela declarou afobada.

— Não foi fácil pra mim, garanto. — Soltei o ar lentamente.

Hanna assentiu e me encarou com certa preocupação. Ela sabia bem das minhas lutas e além de me ligar todos os dias, me visitou muitas vezes durante o tempo em que estive "de férias" em São Cristóvão. Foi um tempo bom, no qual eu pude me reconciliar com Deus, aceitando a vontade Dele em me manter afastada do Céu, quer dizer, James. Também usei minha disponibilidade para aperfeiçoar meus dons, aprendendo com minha tia como era o verdadeiro agir de uma mulher piedosa. Minha única ressalva era não ter conseguido auxiliar Hanna com os preparativos do matrimônio e me sentia mal, principalmente por saber que ela partiria na próxima semana.

— Não precisa se preocupar. Vejo realmente que está muito melhor e nem consigo expressar o quanto estou feliz por te ver bem, minha irmã. — Ela ficou um pouco emocionada. — Sei que os assuntos do coração são tensos, mas espere no Senhor e se for a vontade Dele, você terá um marido piedoso e cristão, o que é o mais importante.

Deixei cair meus ombros e, apesar de não gostar de entrar naquele assunto, eu senti necessidade de me explicar.

— Ele se tornou cristão, Hanna, do contrário por que teria aberto mão do Morro da Luz e se entregado à polícia sem resistência? Isso é uma mudança e tanto, não acha? — perguntei e quando vi minha irmã um pouco pensativa, resolvi mudar de assunto: — Mas agora o que adianta? Talvez eu nunca mais o veja.

— Você confia nele, eu sei, mas eu tenho medo, Amber — ela contestou. — Sou desconfiada, você sabe. E não quero que você acabe como a Kimberly.

— O caso da Kimberly é diferente. Eu não planejo me entregar, nem engravidar de ninguém antes do casamento — sussurrei a fim de não expor aquele caso delicado e Hanna ergueu as sobrancelhas com ceticismo. — É verdade.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora