Epílogo

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— Eu tinha cinco meses quando meu pai me viu, face a face, pela primeira vez, apesar de estar completamente limitado devido a sua condição — John Paul declarou, por fim, olhando fixo para um ponto do horizonte.

Elizabeth alisou as mãos no tecido de sua calça jeans e expirou. Ela sabia que trazer o passado à tona, podia não ser uma experiência agradável, por isso sentiu-se ainda mais honrada pelo fato de JP confiar nela a ponto de se abrir. 

— Não deve ter sido nada fácil para sua mãe. 

— Sim, realmente não foi fácil, mas Deus usou toda essa situação para moldá-la. Ela se tornou um grande exemplo para mim. — JP esboçou um sorriso confiante. — Você não faz ideia do quanto mamãe foi corajosa no Senhor, Liz. Diante de tantas dificuldades, eu sempre a via orando por nossa família e lendo as Escrituras para buscar sabedoria em como proceder nas diversas situações que enfrentamos. — Ele encarou sua amiga. — Sabe, mesmo quando as coisas ficavam muito difíceis, raramente a vi murmurando ou reclamando para os outros, ao contrário, ela sempre voltava-se para Deus e, volta e meia, atribuía suas tribulações ao reflexo das decisões erradas do passado. E, ainda assim, Deus foi grandemente misericordioso na vida dela. 

Elizabeth massageou a garganta, tentando dissolver o pequeno nó que se formou ali. Ela não duvidava do quanto aquela família deveria ter sofrido. A realidade relatada por John Paul era muito distinta da dela, uma vez que teve a graça de crescer em um lar onde Cristo reinava absoluto.
 
— E o seu pai não se converteu? — Elizabeth perguntou, mas bastou ver o comprimir de lábios do rapaz sentado ao seu lado para que a resposta ficasse clara. 

— Não, mas temos orado por isso continuamente, dia após dia. Meu pai tem o coração endurecido e não aceita a graça do Senhor Jesus. Minha mãe diz que ele carrega muita culpa em decorrência do seu passado. — John engoliu em seco, esforçando-se para conter o quanto aquele assunto específico mexia com suas emoções. Só mesmo Deus sabia o quanto ele, desde a tenra idade, clamava pela salvação de seu pai. — Nós cremos que há um Deus real e poderoso o bastante para transformar o papai por completo. Se ele for um eleito, nada poderá impedir o agir do Espirito Santo de regenerá-lo, nem mesmo sua dura cerviz. Contudo, eu também sei que existe a possibilidade de nada mudar, se essa for a vontade soberana do Senhor. Não gosto de pensar nisso, mas tenho me agarrado na esperança de que Deus tem o controle de tudo. E quem somos nós para questionar suas decisões?

John recordou-se de uma passagem preciosa do livro de Romanos, no capítulo 9. Aliás, todo aquele capítulo teria trazido consolo a ele, certo dia dia no passado, de que a salvação da alma de James não dependia de seu pai, tampouco de sua mãe, ou das orações deles. Todo o processo de salvação era uma obra completamente exclusiva de Deus, e os versículos 20 e 21 daquele capítulo, sobretudo, o fizeram calar diante de seus questionamentos.

Elizabeth ofereceu um pouco de água da garrafa que eles haviam trazido naquela cesta de piquenique preparada especialmente para os dois e aproveitou os segundos enquanto ele deglutia, para refletir. 

Quantos casos como o da mãe de seu querido JP, ela não havia conhecido? Quantas moças e rapazes cristãos, amigos seus, se deixaram levar pela desobediência ou o desespero de morrerem solteiros, entraram em jugo desigual com a cabeça erguida e foram humilhados por uma vida que não era nada como um conto de fadas? Quantos tiraram suas afeições de Cristo, desobedecendo-o deliberadamente, para entregar seus sentimentos a pessoas que não demonstravam um caráter piedoso e um amor a Jesus acima de tudo, preferindo fixar seus olhos em coisas secundárias e não no primordial.

Ah! Como Satanás era astuto e expert em assaltar corações colocados em lugares errados!

— Infelizmente também conheço algumas mulheres que se casaram em jugo desigual e também sofrem ansiando pela conversão de seus maridos — Liz declarou com pesar. — Na maioria dos casos, são elas quem se afastam do Senhor ou continuam caminhando sozinhas pelo resto da vida. Sequer imagino quão ruim deve ser viver nessa condição. 

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora