Capitulo 11

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Noah questionou se eu estava bem assim que me aproximei dele. Provavelmente minha cara refletia tensão, afetada pelo que acabara de acontecer entre mim e a loira barraqueira, e depois a situação tensa no meu encontro com Céu.

Apenas dei uma desculpa barata alegando que estava mal em ver a situação depravada das pessoas ao nosso redor. Eu sabia que não poderia continuar mentindo assim, aquilo já estava se tornando uma bola de neve.

Tudo bem, eu poderia ter contado sobre a Emma, afinal, dessa vez eu não fiz nada para merecer o ranço dela. Porém, ele iria questionar sobre o motivo dela ter implicado comigo, logo, descobriria que tinha algo a mais na história, então ele iria tirar satisfação com Céu e o problema só iria aumentar.

Estremeci ao me lembrar do homem segurando o chaveiro da minha casa, mas mudei os pensamentos repetindo para mim mesma que tudo que fazia era para o bem das pessoas do morro.

Tentando evitar expor o hematoma em meu braço,  peguei o meu casaco na mochila, alegando sentir frio, tendo assim uma desculpa para poupar mais um interrogatório de Noah.

— Não vai dar certo! — Ele bufou se sentando no meio-fio.

— Vai desistir tão rápido? — questionei me ajeitando ao seu lado.

A verdade é que eu pouco estava prestando atenção no desenrolar do evangelismo. Minha mente, na verdade, ainda estava em Céu, em suas ameaças, sua namorada. Repreendi-me mentalmente e busquei me esforçar para prestar atenção no meu amigo.

— As pessoas não estão nem aí para nós, Amber. Suas atenções estão voltadas para o concurso, para a prostituição. Todos que tentamos conversar fizeram descaso.

Suspirei e abaixei a cabeça entre as pernas, tentando pensar em alguma estratégia para aquele momento. Não podíamos desistir, Deus havia confiado essa missão nas nossas mãos.

Comecei a refletir sobre todos os anos que estudei e me preparei para ser missionária, das histórias que ouvi na igreja, que li na internet. Então uma luz se acendeu na minha cabeça.

— Para tudo! Tive uma ideia.

Noah virou-se de repente esperando que eu falasse.

— É óbvio que eles não vão estar nem aí pra nós. Temos que entrar em suas vidas, na sua rotina, na sua cultura. — Estalei os dedos mostrando a solução para todas as nossas tristezas.

— E o que você sugere? Que a gente coloque shorts hiper curtos e saia por ai igual duas piriguetes? Pelo amor de Deus!

— Ih, você tá virado, hein? Enfim, não era isso. Nós chegamos aqui já querendo impor a nossa crença, mas eles não estão nem aí para nós. Primeiro temos que nos tornar mais que amigos, friends, e só depois disso começamos a evangelizar. — Abri os braços imaginando as milhares de vida se rendendo para Jesus. — Mas é claro, sem abrir mão dos nossos princípios.

— Não sei, melhor irmos para casa, não vai dar em nada.

— Noah, você vai desistir tão fácil? — questionei com um sorriso sugestivo.

— Essas pessoas simplesmente não querem saber de nós, Amber! — ele falou exasperado e eu respirei fundo, contando até dez.

— Eu acabei de lhe explicar que elas não tem motivos nenhum para nos dar ouvidos, então obviamente não vão nem querer saber de nós. Vamos guardar os folhetos por um instante e ouvir mais o lado delas, suas histórias — declarei enérgica e esperei a reação de meu amigo.

Noah me olhou como se ainda não confiasse na ideia, por fim ele suspirou, concordou com a cabeça e eu sorri feliz.

Levantei-me batendo o pó da calça.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora