Capítulo 47

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O dia estava lindo e ensolarado. E o som dos pássaros cantando e das crianças brincando na rua refletia a paz daquele lugar em que eu morava.

Da janela de casa, eu chamei: “Vem pra dentro, filho!”. Ele estava com todos os seus brinquedos espalhados pela grama verde, no pátio. 

“Daqui a pouco eu entro, mamãe”. A voz suave do meu menino ressoou.

Ele era tão lindo e feliz. Um orgulho e benção de Deus.

“Não demora muito!” Voltei para fazer as minhas coisas, porém, lembrei-me de algo.

“Filho, seu desenho preferido já vai começar” gritei pra ele, mas não houve resposta.

“Filho, seu desenho...”.

Silêncio.

Meu coração se apertou e eu abri a porta para vê-lo, contudo, ele não estava lá e tudo estava completamente limpo. Senti como se todas as minhas costelas comprimisse meu pulmão, levando minha respiração se fechar. Num piscar de olhos, as nuvens do céu enegreceram, um vento frio começou a soprar, todas as crianças na rua sumiram, e as casas ao redor pareciam velhas e abandonadas. Eu andei em passos trôpegos pela calçada, gritando o nome do meu menino, porém não tinha resposta. Minha cabeça começou a doer e minha respiração ficou ofegante; um vento forte fez bater a porta de uma das casas, tomando minha atenção, então notei que nela e em cada residência depois havia uma palavra pichada de vermelho, segui lendo até ver que ao final formava a frase: “Ele matou o pai, vai matar o filho”. Arrepiei dos pés a cabeça, e antes que eu pudesse fazer algo, ouvi:

“Mamãe!”

Aquela voz foi como uma pontada aguda que feriu meu peito. Virei para o lado, avistando meu filho de joelhos sobre a grama, tendo uma arma pontada para a sua cabeça. Era Amendoim. Sua aparência velha, com roupas sujas e lamacentas, os olhos fundos e uma ferida aberta bem no lugar onde havia recebido o tiro de James. Minhas lágrimas caíram.

“Não, não faça isso com o meu filho! Ele não tem culpa pelo pai.”

“Os filhos sempre carregarão reflexos de seus pais” Amendoim possuía um timbre grave e arrastado. “Mas eu não vou fazer isso, ele vai”.

Um raio rasgou no céu, levando-me a cair no chão como se minhas pernas estivessem sido quebradas.

“Mamãe, eu estou com medo” Meu filho soluçava e os seus olhos estavam vermelhos. E ao olhar para cima vi que agora era James apontando a arma para o próprio filho.

“Não faça isso” Tentei me arrastar até eles, porém não conseguia dar um passo. Eu olhei para mim e estava suja, com feridas abertas e podres. Eu não podia impedir James de fazer algo horrível. Eu não podia livrar meu filho. Não conseguia nem ajudar a mim mesma. Num fio de voz e com os braços esticados em favor da criança, eu pedi: “Não, por favor.”

Ele sorriu para mim, então outro trovão quebrou no firmamento e o som de tiro explodiu em meus ouvidos. Com uma ira que ecoou no peito, gritei com todas as minhas forças:

ASSASSINOOOOOOO!”

*

— MEU FILHO NÃOOOOOO! — Acordei aos gritos, segurando-me pelas barras da cama.

Não demorou muito para que meus pais entrassem e me segurasse, mas eu batia neles, eu continuava gritando como se todo o meu corpo não pudesse se controlar.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora