Capítulo 28

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Confesso.

Manter-me concentrada durante o culto dominical foi a coisa mais difícil que tive que fazer em toda a minha vida até aquele dia.

Meus olhos constantemente me traíam, e vez por outra eu me pegava olhando para James sentado a alguns bancos do outro lado do corredor.

Ele havia cortado o cabelo, deixando-o um pouco mais jovial. As sobrancelhas levemente contraídas, atento as palavras do pastor era um charme a parte. Sua beleza exótica e sua postura me atraíam de uma maneira assustadora. E, por mais que eu tentasse me desvencilhar, me sentia presa como uma mosca em uma teia de aranha.

"Perdão, meu Deus!" — pedi pela enésima vez, desviando os olhos dele e dando de cara com meu pai ao meu lado, fitando-me intrigado.

Dei de ombros extremamente sem graça e tentei novamente prestar atenção ao estudo.

Pastor Sérgio naquela manhã ensinava sobre...

Bem, ele pediu para a congregação ficar de pé e foi aí que me dei conta que nem ao menos lembrava do versículo lido no começo do culto.

Envergonhada com minha postura displicente, fechei os olhos, mas a oração não saiu. Minha mente fervilhava em mil pensamentos. Definitivamente, eu não suportaria tê-lo tão perto de mim e ao mesmo tempo renunciar os meus sentimentos. Seria uma batalha cansativa e que eu não tinha certeza de que estava disposta a travar.

Alguns avisos foram dados e o culto encerrado.

Rapidamente, marchei na direção oposta a de James, para cumprimentar alguns amigos do outro lado do templo, forçando-me a ficar o mais longe possível e assim dando tempo de ele ir embora sem que precisássemos nos esbarrar novamente.

A igreja foi ficando vazia, e crendo ter dado tempo suficiente, me despedi dos meus colegas e saí para o estacionamento. Porém, tive que firmar os olhos pra ter certeza de que o que eu via, era realmente o que eu via.

James e meus pais conversavam ao lado do nosso carro em um papo que parecia pra lá de descontraído.

Eu quis fugir, mas era tarde de mais. Minha mãe já havia me avistado e fazia um sinal nada discreto para que eu me aproximasse.

Serrando os dentes, andei lentamente até ele.

— Querida, espero que não se importe. Convidamos o seu amigo para almoçar conosco hoje — disse meu pai, me encarando de maneira significativa.

Meus olhos foram dos meus pais para James e de volta para o meu pai.

— Algum problema se eu aceitar, Amber? — James parecia estar se divertindo com meu constrangimento.

— N-não. Por que teria? — gaguejei e me odiei por isso.

— Ótimo! — Meu pai falou com uma empolgação que não era dele.

Eu estava encrencada.

— Hanna vai para a casa de uma amiga. Seremos apenas nós quatro — informou minha mãe.

— Eu sigo vocês com meu carro. — Escutei James falando quando eu já entrava no carro dos meus pais, procurado um refúgio o mais rápido possível.

Ele seguiu para seu veículo, mas não antes de parecer me provocar com um sorrisinho zombeteiro.

— O que o senhor pensa que está fazendo? — inquiri quando meu pai se posicionou atrás do volante.

— Apenas conhecendo o inimigo — respondeu ele, colocando o cinto de segurança e me fitando pelo espelho retrovisor.

— O quê? — Senti a raiva subindo pelo meu pescoço e o rubor cobrindo meu rosto.

— Você subestima a minha inteligência, Amber da Silva.

— Não sei do que o senhor está falando.

— Tudo bem. Pode fingir o quanto quiser, mas eu vi como você o encarou o culto todo.

Desviei os olhos para o lado de fora, concentrando minha atenção nos carros que passava por nós, enquanto deixávamos o pátio da igreja com James logo atrás.

— Às vezes eu esqueço como o senhor é paranóico.

A gargalhada profunda e espontânea do meu progenitor encheu o veículo.

— Chame do que você quiser, querida. Mas uma coisa é certa: Você e aquele rapaz tem mais do que querem admitir. E eu não honraria meu papel de pai se não sondasse as verdadeiras intenções dele antes de dar minha bênção.

Meu pai piscou para mim pelo espelho retrovisor quando me virei de supetão ao ouvir sua declaração, dando-me de cara com seus olhos sempre tentos.

— Ele parece ser um bom rapaz — minha mãe se manifestou pela primeira vez, virando-se para trás. — Vai dar tudo certo — sussurrou a fim de me tranquilizar.

Engoli em seco, não tendo tanta certeza se aquilo era mesmo verdade. Só Deus sabia o que poderia acontecer se por algum motivo James e meu pai não se dessem bem. Ou, Deus me livre, meu pai descobrisse qual era a verdadeira ocupação do Céu.

A terceira guerra mundial estaria declarada.

— Não sei, não — contrapôs meu pai, concentrado na pista. — Tem alguma coisa nos olhos dele que me deixa intrigado. Ele tem um segredo. Ah, sim tem...

Estremeci e tentei não reagir, ciente que seus olhos poderiam muito bem estar sobre mim outra vez.

— Quem não tem, querido? — mamãe disse distraída e recebeu um olhar intrigado do marido.

— Você esconde alguma coisa de mim, Maria?

Minha mãe riu alto.

— Claro que não! Só estou dizendo que todos nós passamos por certas coisas em nossas vidas que não gostamos de sair falando por aí sobre o assunto. Você sabe bem disso.

Meu pai se calou, aguçando minha curiosidade. Ele raramente não tinha argumentos. Mas para o meu alívio, eu deixei de ser o foco e aproveitei o silêncio que seguiu para pôr minha cabeça no lugar e bolar uma maneira de escapar dos possíveis questionamentos que poderiam surgir durante aquele almoço.

Estacionamos na garagem, com James logo atrás.

— Papai, seja gentil, por favor — supliquei antes de descermos.

— E quando eu não sou? — brincou ele, com um sorriso travesso.

— Mamãe... — choraminguei.

— Eu prometo fazer ele se controlar. — Minha mãe o advertiu com um olhar que pareceu ser o suficiente no momento.

Quando saímos do carro, James já nos guardava. Era impressionante como ele parecia tão tranquilo diante da situação que para mim era a mais constrangedora da minha vida.

Ele nos acompanhou até a sala. Minha mãe seguiu direto para cozinha para avisar a secretária de que teríamos um convidado. Meu pai pediu licença e foi para o quarto trocar sua roupa social por algo mais confortável. E eu, me vi sozinha com James depois de um longo mês.

— Você está muito bonita, Amber — disse ele, dando alguns passos pela sala. — Acho que nunca tinha te visto de vestido.

— O que você está fazendo? — questionei, segurando firme a alça da minha bolsa.

— Te elogiando.

James se acomodou de maneira confortável no sofá e sorriu. Meus joelhos bateram levemente um no outro. Minhas pernas pareciam feitas de gelatina de repente.

— Você sabe que não estou falando disso. — Tentei soar o mais firme possível.

— Bem — ele mudou de posição no assento, apoiando o braço no encosto do sofá —, a situação mudou.

— Como assim?

Um brilho diferente atravessou os olhos de James e ele ficou sério, como nunca antes eu havia visto.

— Agora eu quero, Amber. E estou disposto a tudo para merecer você.

V.E

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora