Capítulo 33

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Acordei mas, estranhamente, não consegui abrir os olhos de imediato. Ouvi sons ao fundo, risadas masculinas pareciam ecoar bem distante dali. Minha cabeça doía e quando tentei levantar a mão, percebi, tardiamente, que elas estavam atadas uma na outra com cordas bem apertadas. Abri os olhos de súbito e a pequena claridade vinha apenas de uma porta aberta no fundo de um pequeno cômodo. Senti o chão frio em contato com minha pele e meu corpo todo estremeceu. Com dificuldade tentei sentar. Toda a sala parecia estar girando. Minha garganta estava seca. Olhei ao redor em busca de água, mas não encontrei nada. Um forte odor de esgoto misturado com alguma substância estranha pairava sobre o lugar, fazendo meu estômago se revirar. Abatida, acabei colocando para fora todo o meu almoço.

— Ei, mano, a mina acordou. — Ouvi uma voz masculina carregada do típico sotaque do morro acompanhada de uma risada de um homem parado à porta ao perceber o meu estado. — Vaza, vai chamar o chefe!

Por um instante eu senti alívio. Imaginei que a qualquer hora Céu entraria por aquela porta e despejaria sua ira pelo serviço mal executado outra vez. Contudo, a sensação durou pouco. Outro homem adentrou no cômodo. Observei que ele tinha o porte forte, tatuagens espalhadas pelos braços e pescoço, de onde pendia uma pesada corrente com um pingente de cavalo, e havia uma arma presa de maneira desleixada no cinto de sua calça.

Quando ele passou pela porta e percebeu o desagradável odor que denunciava meu mal estar, balançou a cabeça em desaprovação, emitindo um som de escárnio.

— Amber, Amber! — Ele caminhou até onde eu estava e se ajoelhou na minha frente. — Não se comportou como deveria!

Senti meu corpo todo estremecer e, involuntariamente, me afastei, recuando até a parede travar as minhas costas.

— Tu acha mesmo que alguém vai limpar essa porcaria aí? — ele perguntou alterando o tom de voz ao me ver afastar. — Tenho cara de que tô aqui para oferecer alívio para alguma mulherzinha?

O pânico se instaurou. Meu corpo sentiu a onda de adrenalina injetada em minhas veias. Meu coração disparou e eu compreendi, pela postura dele, que eu estava diante de alguém que deveria temer.

Irritado com meu silêncio ele caminhou a passos largos até onde eu estava e segurou meu queixo com força, fazendo uma pressão na área, provocando muita dor.

— Primeira regra, quando eu fizer uma pergunta, tu responde, tá ligado?

Balancei a cabeça como pude e senti as primeiras lágrimas escorrerem pela minha bochecha. O homem continuou perto, apertando minha face, observando cada detalhe do meu rosto. Fechei os olhos, temendo pela minha vida, orando silenciosa ao Senhor para que me tirasse daquele pesadelo.

— Até que o Céu sabe escolher bem seus brinquedinhos! — ele declarou e aproximou seu nariz do meu pescoço. Depois de puxar o ar com força, afastou e, para meu alívio me soltou. — Tem cheiro de virgem.

Ele se ergueu e balançou novamente a cabeça, vendo-me encolhida no chão.

— Não precisa ficar na covardia, gatinha. Soube que você fica se engraçando por aí para os donos de morro. Boto fé de que tu acabe percebendo que aqui tem algo mais potente — falou levando a mão até sua arma presa à cintura. — Talvez possamos até nos divertir antes de eu conseguir o que quero.

Senti um nó na garganta e ponderei qual tipo de diversão ele se referia.

— O-o que... Que quer comigo? — perguntei hesitante.

— Com você? — Ele me olhou com desprezo. — Nada. Nada por enquanto.

O homem se afastou um pouco, pegou uma cadeira de madeira velha no fundo do cômodo, sentou-se e acendeu um cigarro, tornando o cheiro do local ainda mais insuportável. Depois de dar três longas tragadas, ele cruzou as pernas e tombando o corpo para frente me encarou maliciosamente.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora