Capítulo Bônus

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POV — JAMES BONDE

— S-si-sim... — A voz entrecortada e suave de Amber assentou em meu coração, aquecendo-o por inteiro.

Mesmo ela não dizendo em palavras, vi pela forma que me olhava, que ela já me amava tanto quanto eu a ela. E, constatar aquilo, me encheu de uma emoção que nunca saberei explicar.

Levantei-me e a puxei para os meus braços. Meu corpo e tudo dentro de mim gritavam em necessidade de tê-la o mais perto possível. Porém, eu sabia que deveria honrar aquela menina e não poderia perder a confiança dos pais dela, algo que eu esperava alcançar com o tempo. Então, aquele abraço teria que ser necessário por ora.

Eu estava disposto a fazer tudo de maneira correta dessa vez. Sabia muito bem que a maneira que estava vivendo no momento, não era o jeito certo das coisas acontecerem. Eu havia aprendido sobre o jugo desigual e porque isso era um grande problema. Era necessário uma mudança total em minha vida, e isso significava abandonar tudo, por isso eu não poderia estar no mesmo jugo que ela, tão pura e perfeita, diferente de mim.

Mas, uma coisa era certa. Eu estava disposto a mudar. De verdade. Não só por amor a Amber, mas porque sabia que uma força, que ia muito além dos meus sentimentos, me puxava para o caminho certo, para longe de tudo que vivia até então.

Tê-la em meus braços, fez uma paz inundar o meu interior. A mesma paz que sentia quando eu acompanhava o meu avô a igreja.

Um sentimento nostálgico me inundou e eu fechei os olhos, deixando as lembranças me levarem em direção ao passado que eu havia enterrado no fundo da minha memória, mas que, eu acabara de perceber, estava mais vivo do que nunca.

Meu avô adorava falar sobre o amor e de como ele era mais uma decisão do que um sentimento.

“O amor é uma decisão, não apenas um sentimento, James. Amar é dedicação e entrega. O amor é como um exercício de jardinagem: arranque o que faz mal, prepare o terreno, semeie, seja paciente, regue e cuide...”.

Era como se as palavras ainda ecoasse em meus ouvidos, tão vívidas quanto era possível.

“E isso, James, se aplica em qualquer situação. Se você decidir seguir os princípios do Senhor e andar em suas Santas veredas, você terá uma vida próspera e feliz. Você só precisa querer e estar disposto a isso. Você só precisa decidir...”.

E eu estava disposto a fazer essa escolha, mas ainda sentia que precisava colocar tudo em seu devido lugar antes de poder ir de uma vez por todas pelo caminho que escolhera e dar a Amber a vida que ela merecia a meu lado.

Deus era prova — e talvez também o motivo — do amor que eu sentia por aquela garota, algo que eu nunca sonhei sentir um dia por uma mulher. E ali, com ela nos meus braços, sentindo o seu perfume agitar cada célula dentro de mim, eu decidi que a amaria, pelo resto dos meus dias.

Apertei mais o meu braço em volta dela, quando sem aviso prévio, outras lembranças se apoderaram de mim. Isso sempre acontecia quando me recordava do meu avô. Era como se ela puxasse meu pai com ela.

Assim como eu podia ouvir as palavras sábias e afetuosas do mais velho, também era possível escutar o timbre duro e rígido do meu progenitor, dando ordens e me preparando para seguir os seus passos.

Um calafrio percorreu minha espinha diante das lembranças dolorosas que se seguiram. Essa era uma parte da minha vida que eu adoraria esquecer, mas que estavam marcados em mim a fogo. Era algo que eu levaria para sempre e não me abandonaria enquanto eu vivesse.

Será que algum dia eu me sentiria perdoado? Será que a misericórdia de Deus era grande o suficiente para cobrir aquela culpa que me corroía ano após ano? Será que eu experimentaria a graça de Deus me ajudando a me livrar daquele fardo? E o mais importante, Amber ainda me amaria se soubesse da bagagem que vinha comigo?

Decidi naquele momento que ela não precisava saber de tudo. Não seria capaz de arrastá-la para o mesmo buraco. Eu iria protegê-la dos meus demônios.

Amber pareceu sentir o meu temor, pois tentou se afastar ao me fitar com ternura, mas eu a prendi, fazendo com que a distância entre nós fosse suficiente apenas para nos olharmos nos olhos.

— Você está bem? — perguntou, passando os dedos suavemente pela lateral do meu rosto.

Fechei os olhos e curti o seu toque tão gentil e puro.

— Estou. — Sorri, encarando-a outra vez.

O brilho nos olhos dela se intensificou quando ela sorriu de volta.

— Você quer mesmo ter três ou quatro filhos?

Meu coração começou a se acalmar outra vez.

— Se essa for a vontade de Deus...

Dessa vez, um sorriso travesso tomou conta do rosto de Amber.

— Quem te viu e quem te vê, James Bonde. Se no início da minha missão me dissesse que eu ouviria essa frase saindo da boca do dono do morro um dia, eu teria zombado dessa pessoa.

— Se me dissesse que eu me apaixonaria perdidamente por uma missionária petulante algum dia, acho que também zombaria dessa pessoa.

Amber jogou a cabeça para trás e riu alto. Sua risada espontânea chacoalhou meu peito por dentro, fazendo-me lembrar do por que eu a amava tanto.

— Você acha que algum dia conseguiremos ficar juntos? — perguntei cheio de esperança.

Dessa vez, permiti que Amber se afastasse dos meus braços e juntos voltamos a nos sentar lado a lado. Tomei sua mão direita e entrelacei nossos dedos, esperando por sua resposta.

— Certa vez eu li que às vezes encontramos a pessoa certa, só que na hora errada. — Amber acariciou dorso da minha mão com o polegar, fitando nossas mãos dadas. — Nós dois sabemos que esse é o momento errado — disse com a voz tão cheia de pesar, que partiu meu coração. — Você tem muita coisa pra resolver. Tem muito para desapegar e renunciar. E, sobretudo, tem que tomar a maior decisão da sua vida. — Ela levantou os olhos lentamente e me ofereceu um sorriso fraco. — Não estou te pressionado a nada e quero que você entenda que não deve tomar todas essas decisões por mim.

— Eu sei.

Assenti, ciente de que ela estava certa. Talvez eu houvesse embarcado naquele barco pelos motivos errados, mas depois de todos os estudos com o pastor Sérgio, percebi a grande mudança necessária em minha vida, sobretudo o quanto eu precisava do agir de Deus. Minha perspectiva havia mudado drasticamente e eu havia caído de cara na água.

— Precisamos de um plano. — Amber apertou a minha mão contra a dela. — Temos que ser cautelosos para não deixar nossos sentimentos falarem mais alto a ponto de sobressaírem ao que Deus quer para nós.

— Eu só consigo pensar em uma coisa.

— O quê?

Respirei fundo, não vendo alternativa.

— Temos que nos afastar novamente. Só assim pensaremos com clareza em tudo. Você usa esse tempo para orar a respeito do nosso futuro, e eu vou usá-lo para colocar minha vida de volta nos trilhos.

Amber pensou um pouco e por fim concordou.

— Parece bom para mim. Mas precisamos estipular um tempo.

— Acho melhor deixar essa questão do tempo com Deus, Amber.

Ela me olhou com admiração e certo espanto, fazendo-me rir.

— Tem razão — concordou por fim.

— Então é isso? — Exalei o ar com força, pondo-me de pé outra vez.

— Acho que sim.

Ofereci minha mão a ela outra vez e juntos voltamos para casa do meu amigo, onde todos deveriam estar a esperando.

Enquanto seguíamos em silêncio pelo curto caminho até lá, eu tentava deixar bem fixo em minha mente uma frase de 1 Coríntios 13:

“O amor é paciente...”

Isso teria que ser suficiente para enfrentarmos o que ainda estava por vir.

***

Ownt... O Dono do Morro tem um coração, afinal!!!

V.E

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora