— Eric, nós podemos conversar? — perguntei sentindo as pernas bambas quando o lindo filho do pastor deixou seus amigos do grupo de louvor e virou-se em minha direção.
Eu estava muito nervosa por dois motivos: o primeiro porque, diferente da Hanna, que era amiga de todos, homens bonitos me deixava muito desconcertada. Noah era meu único amigo homem e isso só aconteceu pois, embora ele estivesse mais ajeitadinho nos dias atuais, quando o conheci ele era do tipo patinho feio que aos poucos se tornou um belo marreco de penas douradas, do contrário nossa amizade jamais seria possível. A prova disso era Eric. Ele sempre foi o mais lindo de toda a lagoinha que era nossa igreja e, consequentemente, o queridinho das meninas. Por isso eu sempre travava em sua frente. Entretanto, meu motivo para romper os limites da minha tremedeira e mãos suadas e esperar até o fim do culto de domingo para falar com aquele homem eram nobres e eu não deixaria seu rosto bonito atrapalhar meus planos.
— Ei! Como é bom te ver, querida... É... Você é a Hanna ou a Amber? — ele perguntou confuso enquanto mascava seu chiclete. Claro que gostei de ser confundida com a Hanna, mas ele riu, denunciando que estava apenas tirando onda comigo. — É claro que sei que é a Amber. Você é a gêmea bonita, não é?
Bem, se ele continuasse me jogando xavecos daquele jeito, eu teria muitas dificuldades de prosseguir com meus planos.
— Está ocupado? Preciso te fazer um pedido — fui direto ao ponto e antes de dar minha resposta, ele fez um sinal com a cabeça para que eu o seguisse e fui obrigada a ir com ele até sua amada bateria, algo que Eric amava mais do que camisetas apertadas que marcavam seus músculos.
— Isso depende, Hanna, quer dizer, Amber. — Ele sentou-se no banquinho e começou o processo de guardar os pratos do instrumento. — Eu posso fazer uma pergunta antes?
Engoli em seco e olhei para os fundos da igreja, agradecendo porque a maioria dos membros -isso incluía minha família- àquela altura, estavam se deliciando com o chá e bolachinhas servidos regularmente ao término dos cultos e apenas alguns gatos pingados ainda mantinham-se no templo arrumando seus instrumentos.
— C-claro. — Cocei a cabeça.
Ele mostrou seus dentes em um sorriso que Kimberly apelidou de "sorriso fatal" e veio até mim novamente.
— Você tem namorado? Ou já namorou? Tenho a impressão que nunca a vi com um namorado antes e bem, a sua irmã também não — ele pontuou. — Por acaso isso tem a ver com o fato do pai de vocês ser ex-fuzileiro naval?
Senti as bochecha esquentarem rápido, mas uma certa coragem me invadiu.
— Bem, papai é bem rígido, mas apenas deseja meu bem e o de Hanna. Apenas isso. — Eu segurei o ar. — Agora, posso ou não te fazer meu pedido?
Ele fez uma careta de tédio e assentiu.
— Diga.
Pensei bem em como formularia minhas palavras, pois não podia entregar o peixe. Seria muito estranho afirmar que, por amor das almas perdidas, eu deveria conseguir informações para o Céu do morro inimigo.
— É, procurei no Facebook e vi que a Vanessa está fazendo missões no Morro das Trevas e bem, queria saber se você pode me passar o contato dela. Soube que o trabalho lá é bem precário, por isso pensei em perguntar se eles precisam de ajuda.
— Hum, meu pai me falou o quanto você e seus amigos se mostraram firmes em não parar as obras e eu fiquei surpreso... — Ele cruzou os braços e reposou a mão no queixo. — Muitos que passaram por uma experiência de tiroteio dessas, nos pede para mudar e você... Você, no entanto, quer mais trabalho?
— Sim. — Sorri nervosa. — Sabe como é, o amor pelas almas e tudo mais.
— Sei sim — Ele riu. — Bem, a Vanessa não gosta muito de mim, mas se for por Cristo, posso falar com ela e marcar uma visita pra você.
— Ótimo! — Fiz uma dancinha, mas logo lembrei-me de um fator importante. — Posso contar com a sua discrição para não dizer nada a ninguém?
Eric me encarou, franzindo os olhos e eu temi ser descoberta.
— Há! Já entendi tudo! — exclamou e eu senti o coração quase sair pela boca. — Você quer manter a humildade, não é?
Suspirei aliviada e agradeci porque Eric era mais bonito que sagaz.
— É isso! — Sorri.
— Tudo bem, eu não conto, mas, com uma condição. — Ele me olhou de um jeito diferente.
— Condição?
— Sim, é simples. Quero que você convença Hanna a aceitar tomar um sorvete comigo, o que acha? — ele propôs todo alegrinho e eu franzi os olhos me perguntando se ele não estaria me confundindo com Hanna mais uma vez.
— Bem, eu posso tentar, mas você sabe como é meu pai e...
— Amber! Vamos, filha, já estamos indo embora, sua mãe está me apressando — papai nos interrompeu com um grito da entrada da igreja e eu não tive opções a não ser partir, com uma estranha sensação de estar praticando um crime.
No caminho, Hanna foi contando como tinha amado a mensagem do pastor Sérgio daquele dia, enquanto as minhocas da minha cabeça só pensavam que eu teria de reportar meus avanços em me infiltrar no Morro das Trevas ao Céu no dia seguinte. Minha gêmea até estranhou meu comportamento evasivo, achando que isso tinha relação com minha conversa com Eric, a quem ela apelidou gentilmente de "atribulado", mas neguei a hipótese.
Quando chegamos em casa, eu fui direto para o quarto que dividia com Hanna colocar meu pijama, cuja a camiseta tinha a estampa do belo rosto do meu amado Mr. Darcy quando meu celular tocou em alto em bom som a música do Irmão Lazaro, Vou Passando Pela Prova dando Glória a Deus. Era um número desconhecido.
— Deve ser da cadeia — concluí e desliguei e antes que pudesse pensar em guardar o celular, a batida do batuque começou novamente e voz do Irmão recomeçou. Eu desliguei umas cinco vezes até que me irritei e atendi: — Olha aqui, sua mula de Balãao, praga de Faraó e raça de víbora, eu já sei o seu truquezinho. Ninguém aqui foi sequestrado e...
— Pra uma cristã que, provavelmente, estava na igreja nesse domingo, você não tem um pingo de domínio próprio — ouvi aquela voz e senti o corpo todo gelar ao reconhecer a quem ela pertencia. — Ah, um gato comeu a sua língua?
— Céu... — murmurei e até me sentei na cama ao sentir a pressão caindo. — Como conseguiu meu número?
— Amber? Falou comigo? — ouvi o grito da Hanna vindo do banheiro.
— Não... E-eu só estou cantando... "Ainda bem que eu vou morar no céu" — Entoei desafinada e senti uma profunda vergonha ao ouvir a risada do homem do outro lado da linha. — O que é que você quer?
— Ora, meu amor, eu só quero saber como estão nossos planos — ele foi franco e direto e me fez tremer com o "meu amor". — Amanhã as ruas estarão agitadas, com milhares de almas perdidas na rua desejosas para assistir o anúncio da vitória da Rainha do Morro, e quero saber se verei seu lindo rosto por aqui ou devo anunciar às famílias que os amaram tanto que nunca mais voltarão aqui.
Pensar nas famílias perdidas fizeram meu coração doer. Eu tinha um compromisso com elas.
— Estou resolvendo isso — respondi temerosa.
— É assim que eu gosto, Amber — ele pronunciou devagar. — Ainda bem que você, além de linda, se preocupa com quem vai ou não para o céu e...
— Ei, James? Emma está aí e quer vê-lo a todo custo — Céu foi interrompido e quando minha curiosidade foi aguçada, a ligação caiu.
Senti algo ruim em meu coração, como um mau presságio, mas não soube dizer o que era.
Oi, turma!
Esse capítulo finaliza a nossa maratona.
Mas não fiquem tristes, voltamos em breve.C.H.S
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O dono do morro da Luz e a missionária cristã
HumorATENÇÃO: o livro é humor pastelão, uma sátira que brinca com os livros com essa temática, mas com uma mensagem importante no fim - bem diferente do que vocês estão acostumados a ler por aí! Tudo foi cuidadosamente pensado para fazer zoeira! Das mesm...