Capítulo 12

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Quando abri os olhos no domingo, tive certeza de que meus problemas eram reais. Uma pontada forte denunciou a dor aguda da minha cabeça e eu estremeci de frio quando tentei colocar os pés para fora da cama em busca de me arrumar para a Escola Dominical.

Sim, eu estava doente.

Eu ainda não sabia se aquela sensação febril era devido a uma alergia recém-chegada, ou meu emocional que estava gritando, anunciando a todos a pressão e a angústia afetando a minha alma.

Sem forças para me erguer, deitei novamente e fechei os olhos. As lembranças que eu tentei tanto reprimir no dia anterior, retornavam com força. Até aquele momento eu ainda não tinha conseguido compreender porque tudo aquilo estava acontecendo.

A reação de Céu após Emma derramar café em minha blusa, ainda estava muito vívida em minha memória. Ele explodiu, irou-se de tamanho modo que eu recuei alguns passos, sendo amparada por Noah que arquitetou um plano para me tirar dali. Contudo, logo eu percebi que não era eu o motivo de sua fúria.

Depois de pegar a loira pelos cabelos, ele a colocou a minha frente e apertando seu braço, forçou a menina a pedir desculpas diante de todo mundo. O olhar de humilhação estava estampado no rosto de Emma que com a voz furiosa obedeceu às ordens do dono do morro.

— E sabe o que mais, Emma? — Céu disse, apertando ainda mais o braço dela quando ela cumpriu com suas ordens. Seus olhos, contudo, estavam presos aos meus. — Você me deu uma excelente ideia! Se teme tanto que a Amber tome seu lugar, sei como aliviar seus medos.

Ele soltou a garota, girou ao redor e com os braços levantados, ergueu a voz.

— Esse ano faremos uma boa ação, uma ação comunitária. Se não podemos afligir as regras do concurso, como nossa antiga Rainha afirmou enfaticamente, o dinheiro será destinado para boas mãos em prol de nossa comunidade. — Céu fez um sinal para Pipoqueiro que, relutante, entregou a ele um maço de dinheiro. Depois, caminhando em direção a Noah ao meu lado, estendeu a quantia para meu amigo. — Nossos missionários aplicarão o dinheiro da premiação para o bem de nossa comunidade!

Depois disso foi um tremendo fuzuê. Noah, atônito, segurou em meu braço, nenhum pouco disposto a me permitir sair de perto de si. Céu deixou sem muito cuidado o dinheiro em suas mãos e antes de sair me olhou profundamente com um sorriso malicioso que me fez estremecer.

— Vamos comemorar, minha gente! — ele gritou. — Esse ano os nossos queridos missionários representarão nossa comunidade! Um novo tempo há de chegar para nós!

Levei as mãos até a minha cabeça e apertei meus olhos. Onde eu havia me metido? Tudo estava acontecendo tão depressa que eu mal conseguia raciocinar. Minhas emoções sobrepunham minha razão e eu fiquei muito satisfeita quando mamãe entrou no quarto e, percebendo meu estado, constatou uma febre que a forçou a dedicar seus cuidados a minha saúde.

Depois de medicada e de tomar um chá, fui liberada de ir à Igreja e voltei para baixo das cobertas.

...

Era claro que eu estava apreensiva! Quem não estaria? Contudo, esperava que a fúria de Hanna se abrandasse um pouco diante da irmã enferma estagnada o dia todo na cama.

E, bem, eu não estava errada. Nem sobre a fúria dela, nem sobre sua resignação.

— Amber da Silva! — Hanna esbravejou abrindo a porta do meu quarto. Suas narinas estavam dilatadas e seu rosto avermelhado. — O que você fez?

Pressionei meus lábios tentando não rir. Havia passado a tarde toda imaginando como seria a reação de minha irmã ao descobrir meu plano.

— Você está louca? — Hanna perguntou, levou a mão até a testa e pressionou entre os olhos, respirando fundo. Depois, fechou a porta e se aproximou da minha cama. — Eu não posso acreditar que você armou para mim. Ainda mais com... Com... Argh!

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora