Capítulo 26

2.8K 428 395
                                    

Desde a infância eu havia me apaixonado platonicamente diversas vezes. Minha última e talvez mais intensa paixão, Matheus West, havia ignorado toda a minha afeição e direcionado a dele para minha irmã mais velha. Sendo assim, eu ainda não tinha provado a sensação de ter meu sentimento retribuído na mesma intensidade.

E lá estava eu, sendo capturada novamente por aquela ligação terna que havia surgido de maneira improvável e também imprópria, ao me encontrar dentro dos braços de James. Como num passe de mágica, toda a dor que eu tinha padecido nos últimos dias, grande parte causada por ele mesmo, deram espaço para uma ternura sem igual, principalmente quando eu percebi que o poderoso Céu não escondia sua fragilidade momentânea enquanto buscava conforto naquele contato entre nós.

— James... — murmurei aflita, lutando contra minha real vontade e minhas lembranças conflitantes.

— Só me abraça, por favor — pediu apertando suas mãos em minhas costas, enquanto afundava ainda mais o seu rosto entre meus cabelos.

— James, acho que isso não é apropriado — respondi me afastando um pouco depois de alguns instantes quando percebi o quanto ele me puxou para perto de si. — Você mesmo disse que não tinha autocontrole e eu não quero comprovar essa suposição.

Precisei fazer um grande esforço para me afastar, mas consegui. Cruzei os braços em frente ao peitoral, tentando evitar assim que meu corpo seguisse novamente o caminho de volta para os braços dele. Ele me encarou e, embora houvesse o brilho de lágrimas em seus olhos, eu não conseguia interpretar os sentimentos através de sua expressão.

— Você está bem? O que houve? — questionei ao perceber que ele tinha optado pelo silêncio.

Notei o peito dele subindo e descendo com fúria. Ele estava se controlando, sabe se lá por que. Sem nenhum aviso prévio, ele se virou e seguiu pelo corredor a caminho da saída do hospital.

Vendo-o partir, minha mente travou a maior batalha de toda a minha vida em alguns segundos. Primeiro, ponderei que o melhor era eu realmente deixá-lo partir. Quanto mais longe ele ficasse de mim, melhor seria. Não queria sofrer mais por causa do dono do morro e estava muito claro de que ele era um grande problema em minha vida. Seria melhor nunca mais vê-lo e eu não queria me importar com o que seria da vida dele. Contudo, seria inocência demais assumir que eu não me importava. Sim, eu me importava.

As palavras duras com as quais eu havia acusado Jason um pouco antes, de não estar lá para o irmão quando ele precisava, mudaram o rumo dos meus pensamentos. James parecia quebrantado naquele momento. Estava infeliz, triste e por algum motivo ele confiava em mim, ele precisava de mim. Além do mais, ele era uma alma perdida e eu não poderia deixar que meus sentimentos me dominassem a ponto de deixá-lo entregue à sua depravação e pecado. Eu fui chamada para ser luz e talvez aquele fosse o momento de brilhar entre as trevas. Talvez tudo aquilo tivesse um propósito e por um instante eu vislumbrei a possibilidade de que toda aquela dor serviria para alcançar uma alma perdida.

— James! — chamei enquanto meus pés já percorriam o mesmo trajeto que ele tinha percorrido anteriormente.

Ele não me ouviu. Apressei meus passos enquanto o via atravessar a porta do hospital certificando-me de que estava fazendo a escolha certa quando o vi parar por um instante, completamente perdido e sem rumo, antes de dobrar a direita.

Quando eu também atravessei a porta, meus olhos vasculharam o estacionamento em busca dele e o vi entrando em seu carro. Corri naquela direção e quando ele deu a partida, parei em frente do capô, acenando com as mãos.

— Espera, James, por favor! Vamos conversar — supliquei tentando fazê-lo compreender que eu estava disposta a ajudar.

Os olhos dele denunciaram uma luta interna.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora