Capítulo 27

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Um mês.

Um longo, cansativo, confuso e estranho mês.

Trinta e um dias desde a última vez que eu vi James Bonde.

— "É quase dia; desejara que já tivesses ido, não mais longe porém, do que a travessa menina deixa o meigo passarinho que das mãos ela solta — tal qual pobre prisioneiro na corda bem torcida — para logo puxá-lo novamente pelo fio de seda, tão ciumenta e amorosa é de sua liberdade".

Fechei o livro depois de declamar em voz alta e deixei aquela expressão percorrer por todo o meu corpo. Meus olhos estavam fixos no teto branco e novamente eu me via flutuando por entre as palavras daquele trágico romance.

Já era a quarta vez que eu o lia naquele mês. Era só mais uma das muitas atividades que ocuparam minha agenda durante os dias que sucederam após eu entender que precisava soltar a corda que me ligava a James.

Balancei a cabeça e abri novamente o livro, deixando meus olhos passearem pela página marcada em busca de algo.

— "Alguns terão perdão, outros castigos. De tudo isso há muito o que falar. Mais triste história nunca aconteceu, que está de Julieta e seu Romeu".

"Alguns terão perdão". Sim, eu estava ciente que Deus poderia trabalhar na vida de quem Ele quisesse, mesmo que esses alguns pudessem ter um passado pecaminoso em meio a tanto sofrimento. E era apegada a essa possibilidade que eu orava todos os dias, incessantemente, pela vida do Céu, ainda que eu tenha, de fato, compreendido que um relacionamento entre nós era algo impossível de acontecer nas condições que eu o havia deixado, um mês antes, quando saímos daquela propriedade.

Lembrei-me perfeitamente de quando fizemos o caminho de volta ao hospital completamente em silêncio. Uma atmosfera tensa e triste nos rodeava dentro daquele carro. Eu tentei, por muitas vezes, ler no rosto dele o que se passava em sua cabeça, mas Céu era uma incógnita para mim. Se num primeiro momento ele se abriu, disposto a dar uma chance para o Evangelho, não demorou muito para que as dúvidas me consumissem ao ver o comportamento distante e reflexivo dele.

O único momento em que o silêncio fora quebrado, foi quando entramos no hospital para buscar informações sobre Dona Joana. Após constatar que o quadro dela estava instável e que ela precisava descansar, ele me levou para casa, como prometido.

— Vai visitar minha mãe quando ela melhorar?  — James quis saber no instante que o carro parou em frente ao portão de casa.

— Sim. Creio que farei isso às sextas-feiras durante à tarde — avisei e ele assentiu com um balançar de cabeça.

— Certo, posso ajustar meus horários, assim não corremos risco de nos encontrarmos — esclareceu e eu concordei, mas suspirei sentindo um aperto no coração.

Por mais que aquilo fosse o certo a se fazer, não deixava de ser difícil.

Pensei durante alguns instantes e achei melhor colocar todos os pingos nos "is", antes que ele fosse embora de uma vez.

— James? —  Olhei para ele com seriedade e quando obtive sua atenção, perguntei: — Posso te pedir uma coisa?

Ele sorriu levemente aquecendo meu coração.

— Claro, quantas quiser, Amber.

— Prometa que vai deixar a Kimberly e o Edgar continuarem o trabalho missionário no morro, mesmo sem mim — pedi sentindo um nó se formando em minha garganta. — Por favor.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora