O pastor Sérgio olhou mais uma vez para nós e pela sua expressão estava tentando pensar no que faria conosco. Até agora todos os seus argumentos haviam caído por terra, sendo sempre rebatidos com sucesso.
Estávamos eu, ele, Kim e Noah no escritório do papai, que havia gentilmente fornecido o local para a mini reunião.
Quando o pastor chegou em minha casa, foi uma verdadeira loucura. Vozes sobressaíam uma em cima da outra, afinal, todos desejávamos ter razão. Meus pais queriam a todo custo que a missão fosse abortada, nós batemos o pé teimando que não iríamos parar.
Até o instante quando Hanna, perfeita como sempre, ergueu a mão e sugeriu que nós quatro — eu, meus amigos e o pastor — fôssemos até o escritório do papai no andar de cima. Lá o pastor poderia conversar e tentar nós dissuadir da perigosíssima ideia de prosseguir com o evangelismo.
Já havíamos explicado todos os nossos motivos para continuarmos nosso trabalho missionário no morro, mas ele não queria se render.
— Vocês tem que entender que ainda estão sobre a cobertura dos pais de vocês.
— Pastor, todos temos mais de dezoito! — Kim o cortou.
Era uma verdade. Ninguém ali era uma criança para ficar escondido em barra da saia da mamãe com medo do mundo lá fora.
Eu havia enfrentado um tiroteio em cima de uma moto com um dos bandidos mais perigosos do país. É óbvio que poderia dar conta de mim mesma.
— Não importa, vocês ainda moram com os pais, então eles são responsáveis por vocês. Se eles não querem, não posso fazer nada. O Morro da Luz tem ficado cada vez mais perigoso, não podemos arriscar suas vidas dessa forma.
Comecei a entrar em desespero pensando nas oportunidades que estaria perdendo por causa da birra boba dos nossos pais.
— Pastor, compreendemos o seu ponto de vista, sabemos a preocupação sua e dos nossos pais. Porém, peço que o senhor veja o nosso lado também — Noah começou a falar. — Nós visitamos o morro, vimos a vida das pessoas lá. Sabemos que elas precisam de Deus. A realidade delas, seus sonhos, só vão mudar se conhecerem a palavra.
Meus pensamentos foram levados para o Céu, na conversa que tivemos sobre Deus. Eu sabia que ele era um solo fértil, e não poderia perder a oportunidade de evangelizá-lo, de falar do amor de Jesus por ele.
— Noah, eu entendo, mas é perigoso, vocês podem morrer — ele contra argumentou.
— O próprio Paulo fala na Bíblia que viver é Cristo e morrer é lucro, não devemos ser apegados as coisas daqui na terra. O que seriam dos povos perseguidos se os missionários tivessem esses pensamentos? Dos índios Auca se Jim Elliot e seus amigos tivessem ficado em casa ao invés de evangelizar? Ou se os apóstolos não tivessem morrido falando do evangelho? E do próprio Jesus, que foi crucificado por pregar a verdade? — Comecei a gesticular desesperadamente. — Nós não vamos desistir dessa missão. Se Deus nos enviou para lá, iremos até o fim. — Levantei-me e fiquei de frente a ele tentando demonstrar firmeza nas minhas palavras.
Por dentro eu estava morrendo de medo de todo o meu discurso ter sido em vão, aguardando ele me olhar com deboche e falar que toda a missão estava cancelada.
Mas, o pastor apenas bufou e ergueu as mãos desistindo da dura briga.
— É... Eu vou conversar com os pais de vocês e falar que não teve jeito, os três são cabeça dura demais. — Ele suspirou tirando os óculos e massageando sua tempora. — Vão, estão dispensados!
Nós saímos quietinhos, mas assim que Noah encostou a porta, eu e Kim começamos a fazer nossa dancinha da vitória, criada quando ainda éramos crianças.
— Vocês duas poderiam agir como as adultas que acabaram de dizer serem — Noah murmurou nos olhando estranho.
— Oh meu deusu, o Noahzinho tá com ciúme porque não sabe a coreografia! Vem, vamos te ensinar. — Segurei na sua mão e o puxei pra perto de mim. Percebi como o rapaz ficou rígido, mas atribui isso a vergonha que estava prestes a passar. — Kim, ensina a coreografia — pedi para a morena.
— Primeiro você ergue os punhos para cima e joga o quadril para a esquerda, depois para a direita e segue dançando nesse ritmo. Pode dar uns pulinhos e girinhos também que não vai ser nada mal. — Conforme ela falava ia repetindo os gestos.
Noah revirou os olhos e se afastou, ficando a uma considerável distância.
— Daqui a pouco o pastor sai e vê vocês duas nessa dança ridícula, aí sim que ele não deixará prosseguir com coisa nenhuma.
Apesar de querer discordar só para irritá-lo, eu sabia que ele estava certo. Aquela atitude realmente não se assemelhava a missionárias que estavam se arriscando em prol de tirar vidas das mãos de Satanás e levá-las para Jesus.
Me virei assustada ao ouvir passos, mas era apenas Hanna. Ela caminhou na nossa direção.
— E então? Vão mudar o lugar da missão? — minha irmã gêmea questionou ao chegar perto de nós.
— Você acha mesmo que nós, o super trio, vamos desistir? — Kim debochou. — Amber convenceu o pastor, iremos continuar no Morro da Luz.
— Então boa sorte para vocês, que Deus os abençoe e os guie nessa missão. — Ela suspirou. — O pastor ainda está no escritório? — Assenti. — Obrigada, preciso falar com ele.
Hanna me deu um beijo na testa, como uma boa irmã mais velha super protetora, antes de virar as costas e entrar.
Não pude deixar de pensar, amargurada, que, se não fosse os míseros 68 segundos, quem estaria dando o beijo na testa era eu.
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Oi príncipes e princesas do Senhor, como estão?
O que estão achando do nosso trio missionário?
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BeijocasE.E
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O dono do morro da Luz e a missionária cristã
HumorATENÇÃO: o livro é humor pastelão, uma sátira que brinca com os livros com essa temática, mas com uma mensagem importante no fim - bem diferente do que vocês estão acostumados a ler por aí! Tudo foi cuidadosamente pensado para fazer zoeira! Das mesm...